As vendas no comércio varejista brasileiro cresceram 4,3% em 2013. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), esse é o menor percentual anual de crescimento desde 2003, quando foi verificada queda de 3,7%. Em Minas Gerais, o resultado também foi o pior dos últimos 10 anos e o crescimento em 2013 foi ainda menor que a média do país, apenas 0,9%. Na comparação entre dezembro e novembro de 2013, o volume de vendas no comércio varejista mineiro caiu 2,2%, ante uma queda de 0,2% no país. O resultado do estado foi o oitavo pior entre as 27 unidades da federação, sendo que somente seis delas apresentaram resultados positivos.
No país, a queda de dezembro foi a primeira registrada desde fevereiro de 2013. Em Minas, o comércio já registrava desempenho inferior à média nacional desde junho de 2012. No acumulado entre fevereiro e dezembro de 2013, houve crescimento de apenas 0,6% no estado, contra 7,2% da média nacional. O analista do IBGE em Minas Antônio Braz explica que o declínio nas vendas está associado à desaceleração do ritmo de crescimento da massa real do salário e ao aumento dos preços. No grupo alimentação e bebidas, por exemplo, foi registrada alta de 7,83%, índice acima da média da inflação na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), de 5,75%, e da registrada no país (5,91%).
Ainda segundo o IBGE, a atividade de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo apresentou queda de 2,6% no estado em 2013, frente a um crescimento de 1,9% no país – ambos apresentando reduções frente ao resultado de 2012, respectivamente 2,5 e 8,5%. A venda de veículos, motos, partes e peças também registrou queda de 18,7% entre novembro e dezembro em Minas e de 0,1% no Brasil. O setor de vestuário, tecido e calçados também cresceu abaixo da média nacional (3,2%), ficando em 2%.
Os indicadores ruins obrigam o lojista a investir nas promoções para conquistar mais consumidores e desovar os estoques da coleção passada. Em busca de recuperação, o comércio começou suas liquidações mais cedo, ainda em dezembro, emendando a queima do Natal com as promoções de verão. Para o presidente do conselho do Programa de Administração do Varejo (Provar/Ibevar), Cláudio Felisoni de Angelo, essa é uma resposta do mercado, que está mais tímido, com juros e inflação mais altos, comprometendo a renda da família e desacelerando o consumo.
Os saldões começaram mais cedo e, além do setor de vestuários e calçados, participante tradicional na temporada de liquidações, os ramos de decoração, construção, eletroeletrônicos e eletrodomésticos também organizam ações para driblar o baixo desempenho nas vendas. A estratégia, no entanto, não tem obtido sucesso com clientes como a incentivadora de leitura Estela Cruzmel. De acordo com ela, mesmo com anúncios de descontos de até 70%, os preços continuam acima do que o consumidor pode pagar. “Não acho que está compensando. Vou aguardar mais um pouco, pois eles sempre dão mais descontos no final de promoção, na hora de trocar a coleção”, afirma. O estudante Dante Duarte também diz que não compra artigos de vestuário há algum tempo. Segundo ele, as promoções não são boas o suficiente. “O lojista aumenta o preço para dizer que as peças estão com descontos incríveis, mas, quando vamos ver, é o mesmo de alguns dias atrás, antes de a liquidação ser anunciada”, afirma.
Para Cláudio Felisoni este será um ano difícil para o comércio, que não deve registrar retração, mas um crescimento ainda menor do que o de 2013. Para ele, a salvação para o varejo está nas vendas ligadas à Copa do Mundo, competição que será realizada no Brasil entre junho e julho, e com a movimentação das eleições. “Não fecharemos o ano no negativo e nem estagnados, mas o crescimento será muito pequeno”, acredita.
Shoppings temem queda no consumo
Nos shoppings, a situação é um pouco melhor que a da média do varejo, embora também tenham decepcionado. De acordo com a Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), em janeiro foi registrado crescimento de 5% nas vendas, em relação ao mesmo período do ano passado. Em 2013, o volume cresceu 8%, abaixo do esperado pela associação. O diretor de relações institucionais da Alshop, Luiz Augusto Ildefonso da Silva, descarta o pessimismo e atribui o crescimento acima da média geral do varejo às ações de queima de estoque dos lojistas. Com relação ao futuro, a palavra é cautela. “Tivemos um Natal mais fraco em 2013, por isso o crescimento em janeiro. Mas não temos expectativas muito boas para este ano. Esperamos uma redução no consumo”, afirma Silva.
De olho no incremento das vendas, os shoppings de Belo Horizonte promovem liquidações que prometem descontos ainda maiores para os consumidores. A temporada de preços baixos nos malls da rede Multiplan (BH Shopping, DiamondMall e Pátio Savassi) começa no dia 20 e promete descontos de até 70%. Ao todo, os três centros de compras investiram R$ 340 mil em ações para atrair o público para a Liquidação do Lápis Vermelho. “A ideia é atrair o consumidor e aumentar em 9% o volume de vendas em relação ao mesmo período do ano passado e em 2% no fluxo de clientes”, afirma o gerente de marketing do BH Shopping, Renato Tavares. Já o DiamondMall prevê um acréscimo de 8% nas vendas e de 3% no fluxo de pessoas. “É uma ação conhecida, esperada pelos nosso clientes. E os preços são realmente tentadores”, afirma Flávia Louzada, gerente de marketing do shopping.
Outro shopping que investe para atrair os clientes é o Boulevard, com a terceira edição da liquidação de verão Offprice. A ação começou ontem e vai até domingo, prometendo descontos de até 70% e com a participação de mais de 80% dos lojistas. “Muitas lojas já começaram a liquidar, mas reservam um bom estoque para o período”, afirma a gerente de Marketing do Mall, Andrea Panisset. (FM)