O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, sinalizou nessa sexta-feira que a pesada conta do estresse no sistema elétrico, que obrigou ao acionamento generalizado de usinas térmicas, cuja geração é bem mais cara que as hidrelétricas, deverá bater, pelo menos parcialmente, no bolso dos consumidores. Ele informou que o governo deve decidir na próxima semana como vai equacionar o custo extra das termelétricas sobre o caixa das distribuidoras e o impacto dele na Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), cujo rombo de R$ 5,6 bilhões estimado para este ano deverá ser cobrado nas tarifas.
De acordo com Lobão, o Brasil tem 126 mil megawatts (MW) de capacidade instalada, "energia na quantidade necessária". "Se quisermos ter uma sobra de energia para garantir uma segurança ainda maior que a que temos hoje, que é sólida, teremos que pagar por isso", disse. "Quanto isso custará ao consumidor?", perguntou. O ministro afirmou ainda que o consumidor terá de arcar com mais investimentos em geração e transmissão para garantir margem de segurança maior ao sistema.
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) calculou que esse impacto terá que ser repassado aos clientes das distribuidoras, com um aumento isolado de 4,6% este ano. Isso sem levar em conta a energia produzida pelas termelétricas. De acordo com a Comerc Energia, somente na primeira semana de fevereiro, o patamar mais pesado de geração nas terméletricas do Sudeste alcançou o preço de R$ 1.144,90 por megawatt/hora (MWh). “Isso quer dizer que esse era o preço da última térmica ligada. Mas na prática o preço máximo é o estabelecido no teto do Preço da Liquidação das Diferenças (PLD)”, diz Cristopher Vlavianos, presidente da empresa. O valor se manteve na segunda semana do mês.
LEILÃO No que diz respeito aos preços aos consumidores, o maior problema, segundo Vlavianos, é que as distribuidoras, que levam a energia às residências, ao comércio e às indústrias, não conseguiram comprar todo o volume que precisavam em dezembro do ano passado, no leilão A-1, promovido pela Empresa de Planejamento Energético (EPE). Além disso, com a edição da Medida provisória 579, algumas dessas companhias não renovaram sua concessões e ficaram sem energia em caixa.
No total, no leilão A-1, 32 distribuidoras contrataram 2.571 MW médios com término de suprimento entre um e três anos, mas a necessidade para atender à demanda era de 6.300 MW médios. Ou seja, apenas 44% foram contratados. Com isso, para levar o insumo aos consumidores, elas estão pagando R$ 822,83 a cada megawatt/hora. É esse gasto inesperado que poderá chegar ao bolso do cliente.
Seca afeta produção em Minas
Francelle Marzano
O impacto da seca já castiga Minas Gerais. Segundo levantamento feito pela Emater-MG na pecuária, a redução da produção leiteira deve atingir 20% por falta de chuva. Na área plantada de feijão no estado estima-se perdas de 70,4 mil toneladas, que correspondem a 11% da safra mineira. Já no caso do milho, principal grão cultivado em Minas, as perdas podem chegar a 1,5 milhão de toneladas, equivalente a 21% da safra prevista para este ano. Na cultura da soja, os prejuízos podem chegar a 340 mil toneladas, ou 9% da produção. Com os dados em mãos, o secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, Zé Silva, vai a Brasília conversar com o ministro de Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas, sobre os problemas que os produtores rurais estão enfrentando por causa da seca. Na ocasião estarão presentes também os secretários de seis estado do Nordeste.
Os produtores já começaram a sentir as perdas. O presidente da Cooperativa Agrícola de Unaí (Coagril), José Carlos Firigolo, no Noroeste de Minas, maior região produtora de feijão no estado, afirma que o veranico reduziu a capacidade de cultivo do grão em até 30%. Na Região Norte, os prejuízos ultrapassam os 70% nas culturas de milho, feijão, mandioca, cana e sorgo. Segundo o gerente regional da Emater Montes Claros, Ricardo Demicheli, a seca preocupa também os produtores da bovinocultura. “Todas as estratégias para manter a produção em nível normal foram usadas bem antes do previsto, mas precisamos estudar medidas mais eficazes”, afirma.
FUNDO De acordo com o secretário Zé Silva, o Ministério do Desenvolvimento Agrário tem recursos de R$ 50 milhões, que serão usados na aquisição de sementes nos estados que ainda estão na fase de plantio. Segundo ele, existe também a possibilidade de disponibilização de milho dos estoques da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a alimentação do rebanho do estado. No encontro em Brasília será apresentada ainda uma proposta à Conab para a destinação permanente à Secretaria de Agricultura de 50% dos recursos obtidos com a venda dos estoques de grãos da companhia em Minas, o que seria usado para a formação de um fundo emergencial no estado.