Composta por 108 milhões de pessoas e responsável por gastos da ordem de R$ 1,17 trilhão em 2013, a classe média brasileira, caso fosse um país, seria o 12º do mundo em população e o 18º em consumo, podendo pertencer ao G-20 – grupo que reúne as 20 maiores economias do planeta. É o que aponta a pesquisa inédita Faces da Classe Média, do Data Popular em parceria com a Serasa Experian, que comprova que, mesmo em um cenário econômico adverso e com indicadores ruins – como a inflação oficial, que fechou o ano passado em 5,91%, e a projeção do mercado para o PIB de 2014, que saltou de 2% em janeiro para 1,79% na última segunda-feira –, a classe C segue crescendo.
O estudo mostra ainda que o segmento, até então composto por 54% da população, pode chegar a 125 milhões de pessoas, ou 58% da população, em 10 anos. Para o futuro, Renato Meirelles, presidente do Instituto Data Popular, afirma que a tendência é que a classe média mantenha resultados positivos, tanto no consumo, quanto em sua composição. “A manutenção do emprego formal e o aumento da escolaridade média do trabalhador seguram o consumo”, garante. “Nos próximos anos, a classe C continuará crescendo, num ritmo menor. Não por fatores econômicos, mas pela migração dos novos ricos para as classes A e B”, acrescenta.
Entre os produtos e serviços mais desejados pela classe C, que tem renda média per capita de R$ 320 a R$ 1.120, ele destaca os eletroeletrônicos, que continuam no centro das atenções desses consumidores, assim como as viagens nacionais, mas também as internacionais. A expectativa é de que os consumidores da classe média desembolsem R$ 8,5 milhões com viagens nacionais e R$ 3,5 milhões com internacionais este ano, R$ 7,8 milhões em notebooks e R$ 4,5 milhões com a compra de tablets. Os consumidores também devem investir algo em torno de R$ 7,8 milhões em móveis para casa, R$ 6,7 milhões em aparelhos de TV e R$ 4,8 milhões em geladeiras.
Depois de anos morando na mesma casa, que fica no Aglomerado da Serra, a educadora Maria Francisca da Silva, investiu pela primeira vez na reforma dos sete cômodos onde vive. As melhorias passam pelo piso, pintura, reforma das paredes e também pelos móveis, que estão sendo trocados aos poucos, conforme a reforma vai terminando. “Finalizamos o quarto da minha filha e ela já comprou cama e armário. O próximo passo deve ser comprar a minha cama”, conta. Os planos não param por aí e incluem a troca dos eletrodomésticos. “Minha TV ainda é aquele caixote e quero uma bonita, que encha os olhos. Também quero comprar uma geladeira nova”, garante.
A opção por renovar a casa, segundo ela, acompanha a melhora de vida, mas é sempre planejada de olho nos juros cobrados no financiamento dos móveis e do material de construção. “Não temos condição de pagar tudo à vista porque as coisas estão caras, então dividimos, usamos crédito, mas sempre atentos ao quanto estamos pagando a mais”, confessa. O acesso aos produtos de melhor qualidade também incentiva a troca. “Temos mais variedade de produtos e, muitas vezes, eles chegam à porta de casa. Dessa forma, se antes nos contentávamos com pouco, hoje queremos melhorar a vida e ter mais conforto”, diz.
A auxiliar administrativa Amanda Helena Vargas Macedo viu sua renda crescer nos últimos anos e desde então prioriza seus sonhos de consumo, como a compra do notebook e de um smartphone. A próxima realização deve ser uma viagem a passeio para Aparecida, em São Paulo, com a família. “A última vez que viajei foi para o Rio, em dezembro”, lembra. De acordo com ela, o poder de consumo aumentou e tem permitido melhor utilização da renda. “É uma junção das duas coisas consigo me planejar melhor, porque ganho melhor”, confessa. Para o futuro, Amanda planeja começar a faculdade de administração e, em cinco anos, dar uma boa entrada na casa própria. “A vontade é ter estabilidade na carreira e uma vida mais confortável”, ressalta.
Ricardo Loureiro, presidente da Serasa Experian, lembra que os perfis revelados pelo estudo permitem que as empresas tenham uma visão segmentada desses consumidores e entendam como endereçar suas ações, produtos e serviços, criando soluções para diferentes nichos, que antes eram observados como um único alvo. “Isso possibilita empreender novas frentes de consumo e abordar com precisão esses mercados, gerando melhores condições de crédito para o consumidor e movimentando a economia do Brasil”, afirma. De acordo com ele, embora haja arrefecimento na economia, a tendência é que o consumo continue crescendo a médio e longo prazo. “Continuaremos em campo fértil quando falamos dessa classe, que anseia por novos consumos”, considera.
Quatro faces do mesmo grupo
Levando em consideração critérios demográficos, geográficos, de crédito e de comportamento, a pesquisa divulgada ontem dividiu a classe média brasileira em quatro perfis: batalhadores (39%), experientes (26%), promissores (19%) e empreendedores (16%). A ideia, segundo Renato Meirelles, presidente do Instituto Data Popular, é mudar uma visão de massa única e homogênea que as empresas têm sobre os novos ricos. “Eles deixaram de ser um segmento de mercado e se dividiram em públicos consumidores com interesses distintos”, comenta.
Os batalhadores, que juntos foram o maior grupo da classe média, com 30,3 milhões de pessoas e idade média de 40 anos, veem no emprego a matriz da realização dos seus desejos e, graças a seu tamanho, é o que mais destina verba para o consumo: R$ 388,93 bilhões. Usuários de crédito, focam suas compras em itens voltados para a família. Entre os gastos, estão os com turismo nacional, veículos, eletroeletrônicos, imóveis, movéis, eletrodomésticos e seguros. Os produtos e serviços de desejo para este ano são viagens de avião para destinos nacionais, móveis para casa, máquina de lavar, TV (plasma, LCD e LED), imóvel e carro.
O grupo dos experientes aparece em segundo lugar no ranking e é composto por 20,5 milhões de pessoas, com consumidores com idade média de 65 anos. Do total, 59% têm ensino fundamental completo e 31% não têm instrução. O consumo anual dessas pessoas chega a R$ 274 bilhões e está relacionado ao turismo nacional, eletroeletrônicos, serviços de saúde, móveis e eletrodomésticos. Os sonhos de consumo para 2014 são viagens de avião para destinos nacionais, móveis para casa, geladeira, máquina de lavar e televisões de última geração.
O grupo dos promissores, segundo os dados, é formado por jovens com idade média de 22,2 anos e totaliza 14,7 milhões de pessoas. Desse total, pelo menos 72% deles acessam a internet, 59% têm ensino médio completo e 57% têm carteira de trabalho assinada. Os jovens também já vivenciaram situações de necessidade de endividamento e 51% confidenciam descontrole financeiro. O grupo de promissores consome R$ 230,8 bilhões e investe em beleza, veículos, educação, entretenimento, itens para casa e tecnologia.
Já os empreendedores, que compreendem um universo de 11,6 milhões de pessoas, é o mais escolarizado entre todos os grupos, com 42% cursando ou com o ensino médio já concluído e 19% com o ensino superior completo. Esse também é o grupo com maior renda per capita. Seu consumo anual é de R$ 276 bilhões, com investimentos em educação, eletroeletrônicos, turismo internacional, tecnologia, veículos e entretenimento. Neste ano, devem consumir cursos profissionalizantes, viagens de avião ao exterior, móveis para casa, notebooks, tablets e TVs. (CM)
Você sabia? De acordo com o estudo do Data Popular, a classe média brasileira consome mais que a Holanda ou a Suíça e tem potencial de consumo com alimentação de R$ 223,3 bilhões, valor que equivale ao consumo das famílias da Bolívia, Paraguai, El Salvador e Uruguai juntas. Na saúde, os novos ricos têm potencial de gastos de R$ 71,8 bilhões, mesmo valor investido pelas famílias de Honduras e Jamaica. No vestuário, o consumo chega a R$ 6,61 bilhões, sendo equiparado ao das famílias de Luxemburgo, na Europa.
O estudo mostra ainda que o segmento, até então composto por 54% da população, pode chegar a 125 milhões de pessoas, ou 58% da população, em 10 anos. Para o futuro, Renato Meirelles, presidente do Instituto Data Popular, afirma que a tendência é que a classe média mantenha resultados positivos, tanto no consumo, quanto em sua composição. “A manutenção do emprego formal e o aumento da escolaridade média do trabalhador seguram o consumo”, garante. “Nos próximos anos, a classe C continuará crescendo, num ritmo menor. Não por fatores econômicos, mas pela migração dos novos ricos para as classes A e B”, acrescenta.
Entre os produtos e serviços mais desejados pela classe C, que tem renda média per capita de R$ 320 a R$ 1.120, ele destaca os eletroeletrônicos, que continuam no centro das atenções desses consumidores, assim como as viagens nacionais, mas também as internacionais. A expectativa é de que os consumidores da classe média desembolsem R$ 8,5 milhões com viagens nacionais e R$ 3,5 milhões com internacionais este ano, R$ 7,8 milhões em notebooks e R$ 4,5 milhões com a compra de tablets. Os consumidores também devem investir algo em torno de R$ 7,8 milhões em móveis para casa, R$ 6,7 milhões em aparelhos de TV e R$ 4,8 milhões em geladeiras.
Depois de anos morando na mesma casa, que fica no Aglomerado da Serra, a educadora Maria Francisca da Silva, investiu pela primeira vez na reforma dos sete cômodos onde vive. As melhorias passam pelo piso, pintura, reforma das paredes e também pelos móveis, que estão sendo trocados aos poucos, conforme a reforma vai terminando. “Finalizamos o quarto da minha filha e ela já comprou cama e armário. O próximo passo deve ser comprar a minha cama”, conta. Os planos não param por aí e incluem a troca dos eletrodomésticos. “Minha TV ainda é aquele caixote e quero uma bonita, que encha os olhos. Também quero comprar uma geladeira nova”, garante.
A opção por renovar a casa, segundo ela, acompanha a melhora de vida, mas é sempre planejada de olho nos juros cobrados no financiamento dos móveis e do material de construção. “Não temos condição de pagar tudo à vista porque as coisas estão caras, então dividimos, usamos crédito, mas sempre atentos ao quanto estamos pagando a mais”, confessa. O acesso aos produtos de melhor qualidade também incentiva a troca. “Temos mais variedade de produtos e, muitas vezes, eles chegam à porta de casa. Dessa forma, se antes nos contentávamos com pouco, hoje queremos melhorar a vida e ter mais conforto”, diz.
A auxiliar administrativa Amanda Helena Vargas Macedo viu sua renda crescer nos últimos anos e desde então prioriza seus sonhos de consumo, como a compra do notebook e de um smartphone. A próxima realização deve ser uma viagem a passeio para Aparecida, em São Paulo, com a família. “A última vez que viajei foi para o Rio, em dezembro”, lembra. De acordo com ela, o poder de consumo aumentou e tem permitido melhor utilização da renda. “É uma junção das duas coisas consigo me planejar melhor, porque ganho melhor”, confessa. Para o futuro, Amanda planeja começar a faculdade de administração e, em cinco anos, dar uma boa entrada na casa própria. “A vontade é ter estabilidade na carreira e uma vida mais confortável”, ressalta.
Ricardo Loureiro, presidente da Serasa Experian, lembra que os perfis revelados pelo estudo permitem que as empresas tenham uma visão segmentada desses consumidores e entendam como endereçar suas ações, produtos e serviços, criando soluções para diferentes nichos, que antes eram observados como um único alvo. “Isso possibilita empreender novas frentes de consumo e abordar com precisão esses mercados, gerando melhores condições de crédito para o consumidor e movimentando a economia do Brasil”, afirma. De acordo com ele, embora haja arrefecimento na economia, a tendência é que o consumo continue crescendo a médio e longo prazo. “Continuaremos em campo fértil quando falamos dessa classe, que anseia por novos consumos”, considera.
Quatro faces do mesmo grupo
Levando em consideração critérios demográficos, geográficos, de crédito e de comportamento, a pesquisa divulgada ontem dividiu a classe média brasileira em quatro perfis: batalhadores (39%), experientes (26%), promissores (19%) e empreendedores (16%). A ideia, segundo Renato Meirelles, presidente do Instituto Data Popular, é mudar uma visão de massa única e homogênea que as empresas têm sobre os novos ricos. “Eles deixaram de ser um segmento de mercado e se dividiram em públicos consumidores com interesses distintos”, comenta.
Os batalhadores, que juntos foram o maior grupo da classe média, com 30,3 milhões de pessoas e idade média de 40 anos, veem no emprego a matriz da realização dos seus desejos e, graças a seu tamanho, é o que mais destina verba para o consumo: R$ 388,93 bilhões. Usuários de crédito, focam suas compras em itens voltados para a família. Entre os gastos, estão os com turismo nacional, veículos, eletroeletrônicos, imóveis, movéis, eletrodomésticos e seguros. Os produtos e serviços de desejo para este ano são viagens de avião para destinos nacionais, móveis para casa, máquina de lavar, TV (plasma, LCD e LED), imóvel e carro.
O grupo dos experientes aparece em segundo lugar no ranking e é composto por 20,5 milhões de pessoas, com consumidores com idade média de 65 anos. Do total, 59% têm ensino fundamental completo e 31% não têm instrução. O consumo anual dessas pessoas chega a R$ 274 bilhões e está relacionado ao turismo nacional, eletroeletrônicos, serviços de saúde, móveis e eletrodomésticos. Os sonhos de consumo para 2014 são viagens de avião para destinos nacionais, móveis para casa, geladeira, máquina de lavar e televisões de última geração.
O grupo dos promissores, segundo os dados, é formado por jovens com idade média de 22,2 anos e totaliza 14,7 milhões de pessoas. Desse total, pelo menos 72% deles acessam a internet, 59% têm ensino médio completo e 57% têm carteira de trabalho assinada. Os jovens também já vivenciaram situações de necessidade de endividamento e 51% confidenciam descontrole financeiro. O grupo de promissores consome R$ 230,8 bilhões e investe em beleza, veículos, educação, entretenimento, itens para casa e tecnologia.
Já os empreendedores, que compreendem um universo de 11,6 milhões de pessoas, é o mais escolarizado entre todos os grupos, com 42% cursando ou com o ensino médio já concluído e 19% com o ensino superior completo. Esse também é o grupo com maior renda per capita. Seu consumo anual é de R$ 276 bilhões, com investimentos em educação, eletroeletrônicos, turismo internacional, tecnologia, veículos e entretenimento. Neste ano, devem consumir cursos profissionalizantes, viagens de avião ao exterior, móveis para casa, notebooks, tablets e TVs. (CM)
Você sabia? De acordo com o estudo do Data Popular, a classe média brasileira consome mais que a Holanda ou a Suíça e tem potencial de consumo com alimentação de R$ 223,3 bilhões, valor que equivale ao consumo das famílias da Bolívia, Paraguai, El Salvador e Uruguai juntas. Na saúde, os novos ricos têm potencial de gastos de R$ 71,8 bilhões, mesmo valor investido pelas famílias de Honduras e Jamaica. No vestuário, o consumo chega a R$ 6,61 bilhões, sendo equiparado ao das famílias de Luxemburgo, na Europa.