Os fabricantes de calçados de Nova Serrana, no Centro-Oeste de Minas Gerais, buscaram no quintal dos concorrentes chineses uma nova estratégia para competir com eles. Agora, eles compram matérias-primas mais baratas, produzidas no próprio gigante asiático, para se fortalecer no mercado brasileiro. Importados diretamente ou adquiridos por meio de distribuidoras no Brasil, náilon, camurça sintética, forros, material para solado, pedras e strass, entre outros itens, proporcionam, em alguns casos, redução de até 30% dos custos, o que torna mais competitivas as marcas mineiras de calçados esportivos e da linha feminina, especialmente os itens que refletem as tendências mais voláteis da moda.
A experiência tem sido tão bem-sucedida que o sindicato local dos produtores, o Sindinova, prepara para este ano a constituição de uma cooperativa de compras que vai ajudar as fábricas menores a usar a mesma arma, além de reunir forças para conseguir poder de negociação junto aos fornecedores nacionais de componentes e matérias-primas. “As pequenas empresas não podem enfrentar o risco de se aventurar. Elas precisam de infraestrutura para importar esses itens e de mecanismos para avaliar a qualidade do que vão comprar. É o que a cooperativa vai oferecer”, afirma o presidente do Sindinova, Pedro Gomes da Silva.
A intenção é que as primeiras compras coletivas sejam feitas até o começo de 2015. O polo calçadista de Nova Serrana e outros 11 municípios do entorno é composto por 1.200 empresas, que produziram 110 milhões de pares no ano passado, empregando mais de 20 mil pessoas no quadro de pessoal direto dos fabricantes. As matérias-primas têm participação importante no custo total de produção, que gira entre 23% e 25%, em média, dependendo do tipo de calçado. A Crômic Indústria e Comércio é uma das empresas que optaram pelos itens chineses, que está adquirindo de distribuidores, e não se arrepende.
“Em relação à matéria-prima nacional, reduzimos os gastos entre 20% e 30%”, conta o proprietário da empresa, Junior César Silva. Segundo o industrial, o corte da despesa não foi repassado ao consumidor porque outras despesas têm subido, como a mão de obra, em decorrência da valorização do salário mínimo. A Crômic produziu 40 mil pares de calçados por mês em 2013, empregando 120 trabalhadores, e neste ano quer crescer pelo menos 5%.
A fábrica da Calçados Addan, instalada no município de Itapecerica, vizinho de Nova Serrana, passou a importar quase um terço de todo o volume de compras de matérias-primas, mesclando importação direta e por meio de distribuidoras, informou o dono da empresa, Anísio Lacerda Oliveira. “A estratégia nos deu competitividade frente ao produto chinês, mas temos trabalhado em outras medidas com o mesmo objetivo. Aproveitamos cada espaço que possa nos beneficiar na disputa de mercado”, observa. Uma das políticas em que a empresa mais investiu foi na logística própria de escoamento da produção, de 300 mil pares mensais no ano passado.
GUERRA NO PRAZO
Com frota própria de caminhões, Anísio Oliveira consegue entregar pedidos num prazo que varia de cinco a 10 dias, de Roraima ao Rio Grande do Sul, ao passo que, se dependesse de transportadoras, precisaria de 20 a 30 dias para atender os lojistas. O concorrente chinês pode demorar até 60 dias para desembarcar no varejo brasileiro. A expansão das vendas da Calçados Addan em 2013 foi de fartos 41%. Neste ano, a expectativa é de novo ganho de 20%. A fábrica tem 50 vagas abertas para ampliar seu quadro de 1 mil trabalhadores em Itapecerica e Nova Serrana.
Segundo Ronaldo Lacerda dono da marca Lynd Calçados de Nova Serrana, para a linha de tênis, o material de amortecimento produzido na China custa entre 10% e 20% menos na comparação com o nacional, sem dever nada em qualidade. “A redução de custos nos ajuda. Trabalhamos muito no desenvolvimento de produtos adequados, principalmente, às classes C e D, que buscam preços competitivos, mas fazem questão da qualidade”, afirma. Com 400 empregados, a fábrica produziu 100 mil pares por mês em 2013 e quer crescer 15% em 2014.