Na avaliação do subsecretário de Ações Estratégicas da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República, Ricardo Paes de Barros, o aumento do universo de pessoas com capacidade de gastar mais criou uma demanda maior por produtos e serviços. E quando há mais procura, sem que haja aumento na oferta, a tendência é de aumento de preços. "O sucesso da classe média, que cresce de forma acelerada, criou um boom na procura por serviços, como educação, saúde, e o ajuste para atender essa demanda tem sido muito mais lento", explica.
O governo entende como classe média o grupo de cidadãos com renda per capita acima de R$ 1,5 mil. "É uma parcela de mais de 50% da população, que já tem condições de dar uma educação melhor para os filhos e cuidar melhor da saúde. Mas a visão de que é apenas um bando de ávidos consumidores é muito míope. Queremos que sejam poupadores e investidores também", ressalta.
Antes de poupar ou investir, porém, a classe média precisa pagar as contas dos serviços que começou a utilizar. Um desafio cada vez mais difícil. A mensalidade do colégio e o material escolar da filha, Maria Eduarda, pesaram nas despesas da família da engenheira Adriana Rodrigues. “Foram mais de R$ 600 gastos em material, incluindo livros e cadernos. No ano passado gastei metade desse valor”, afirma.
Os preços inflados do material vieram junto com a mudança de fase na escola da filha, que passou da educação infantil para o ensino fundamental. O reajuste de 13% na mensalidade ficou 7,07 pontos percentuais acima do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de 5,93%, causando impacto muito maior na economia da família.
Para o coordenador do Centro de Macroeconomia Aplicada da Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV) Emerson Marçal quanto maior a capacidade de gastos de uma família, mais ela vai consumir serviços. E a inflação desse item é a maior há quatro anos. Em 2011, passou de 9%. Desde então, tem ficado sempre acima dos 8%. No último IPCA-15, da primeira quinzena de fevereiro, a inflação de serviços ficou em 8,94%. "Alguns serviços dão essa sensação de desconforto porque são itens inelásticos, ou seja, por mais que a escola encareça, o pai de família não vai retirar os filhos dela. Por mais que o plano de saúde seja reajustado, ele também não vai cortar o serviço, como trocaria um produto mais caro por outro mais barato na prateleira do supermercado", explica.