Brasília – Apesar do aumento dos combustíveis anunciado em novembro do ano passado, a Petrobras registrou queda no lucro líquido no último trimestre de 2013. O ganho atingiu R$ 6,28 bilhões (acima dos R$ 5 bilhões esperados pelos especialistas), ficando 18,9% abaixo do contabilizado entre outubro e dezembro de 2012. Foi o pior resultado para um quarto trimestre em seis anos e o segundo recuo seguido no lucro da estatal na comparação anual, uma vez que, no terceiro trimestre, o tombo havia sido de 39%. Ainda assim, no acumulado de 2013, a petrolífera computou lucro líquido de R$ 23,57 bilhões, saldo 11% superior ao do ano anterior. Se esse resultado deu um certo alívio ao governo, que vem sendo acusado de impor perdas bilionárias à empresa ao segurar os preços da gasolina e do diesel para que a inflação não estoure o teto da meta, de 6,5%, os analistas ressaltaram que os estragos no caixa da companhia são visíveis.
Segundo a Petrobras, por causa da defasagem entre os valores dos combustíveis importados e os vendidos no país, os prejuízos na área de abastecimento atingiram R$ 17,76 bilhões em 2013, dos quais R$ 5,46 bilhões apenas no quarto trimestre, justamente quando houve reajuste de 4% na gasolina e de 8% no diesel. Mas não é só: para poder reforçar o caixa, a companhia foi obrigada a se endividar pesadamente no mercado. Tanto que as dívidas de longo prazo deram um salto de R$ 68 bilhões em apenas um ano, de R$ 181 bilhões para R$ 249 bilhões.
Na tentativa de acalmar os investidores, a estatal se antecipou ao anúncio dos resultados de 2013 e informou que a produção de petróleo na camada do pré-sal bateu recorde (veja abaixo). A estratégia, porém, não surtiu muito efeito e houve forte queda nos preços das ações da empresa nas bolsas de valores. Isso porque os analistas calculam que há uma defasagem de pelo menos 17% nos preços dos combustíveis e o governo não se mexerá muito para zerá-la, para não pressionar ainda mais a inflação em ano de eleição presidencial.
“O mercado espera que o governo continue com a sangria da Petrobras. A única coisa que poderia melhorar a situação da empresa é um reajuste robusto dos combustíveis, o que parece descartado pelas autoridades. Mas ao menos um aumento de preços deveria ocorrer nos próximos meses, para não comprometer a capacidade de investimentos da companhia”, disse o economista da corretora Planner Demetrius Lucindo. “Existe um declínio na produção de petróleo da Bacia de Campos. O mercado já sabe que está se tirando mais água do que petróleo, e isso encarece o custo da extração”, emendou. Na avaliação dele, o anúncio de aumento da produção do pré-sal, às vésperas da divulgação do balanço, confirmou os problemas que a empresa enfrenta.
A falta de confiança do mercado na maior empresa brasileira é tamanha que, hoje, o valor de mercado da companhia é 40% menor do que o seu patrimônio líquido. “Hoje, se ela fosse liquidada, valeria mais do que o dobro dos papéis negociados na bolsa”, explicou o economista Felipe Chad, sócio da DX Investimentos. “O valor de mercado da empresa é de R$ 189 bilhões e o patrimônio vale R$ 382 bilhões. Isso é reflexo da perda da confiança”, destacou.
À espera dos reajustes
Na avaliação de Chad, o papel da Petrobras está bastante desvalorizado. E um anúncio de reajuste gradual de 5% a 6%, como era esperado para ocorrer no fim do ano passado, seria razoável para acalmar os investidores. “O mercado está aguardando pela sinalização de que haverá uma programação de reajustes dos combustíveis”, disse. “O desempenho dos papéis da Petrobras reflete que o mercado está bastante descrente da companhia. O aumento da produção é positivo, mas não resolve. Ninguém sabe como está o caixa da empresa e ela não tem mais credibilidade para se capitalizar”, alertou o economista da DX.
O especialista em energia Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), destaca que a expectativa do mercado continua não sendo boa em relação à Petrobras por ela ser continuamente usada pelo governo como um instrumento para segurar a inflação. “A defasagem da gasolina continua e a produção caiu em 2013. O resultado vai consagrar a ideia de que a produção está estagnada e que o caixa da empresa piorou e que o aguardado plano mirabolante de investimentos não será exequível”, afirmou. “Eu tenho dificuldade para entender como uma empresa com um presente tão ruim poderá realizar os investimentos que ela promete fazer no futuro”, completou.
O economista-chefe da INVX Global Partners, Eduardo Velho, ressaltou que o mercado está desconfiado se o plano de investimentos da Petrobras vai vingar se não houver reajuste no preço dos combustíveis. “A defasagem varia muito, de acordo com as estimativas, e, como a produção vem caindo, a necessidade de reajuste cresce à medida que aumenta a demanda interna e a empresa tem que importar mais gasolina. Resta saber como o governo vai fazer a empresa fechar essa conta. As margens de manobra são mínimas. A Cide foi zerada. Só se ele vier com algum subsídio para evitar o reajuste em ano de eleição”, destacou.