Nos supermercados (Epa e Verdemar) e sacolões da cidade (Lisboa, Oba e Serra Verde) o tomate maçã, foi encontrado por preços que variam de R$ 4,99 a R$ 6,99. Outros itens como pimentão amarelo ou vermelho, além de algumas frutas e ovos, também apresentaram alta nos primeiros meses do ano, puxados também pelo efeito Quaresma. Na Duarte Legumes, o pimentão passou de R$ 6,98 para R$ 9,90, enquanto a dúzia de ovos, no Paraíso dos Ovos, passou de R$ 5,50 para R$ 8,80. No sacolão Serra Verde, no Bairro Serra, a alta generalizada nos preços de hortifruti, e de 30% no tomate, preocupa a gerente Maria Aparecida Ferreira. “Este ano a situação está mais preocupante que nos anos anteriores e se a chuva não vier a situação pode piorar, com falta de produto e preços mais altos”, diz.
No ano passado, o fruto mais popular na salada do brasileiro foi apontado como vilão da inflação, uma espécie de porta-bandeira do bloco do dragão. Entre janeiro e fevereiro do ano passado, o tomate chegou a registrar elevação de preços de 52%, mas apresentou retração nos preços – passando de R$ 6,90 o quilo, em abril, para R$ 1,88, em agosto, por exemplo – e nem assim foi capaz de reverter a inflação no fim do ano. Alimentos e bebidas tiveram o maior impacto na inflação oficial de 2013, que ficou em 5,91%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Sozinho, o grupo deteve 2,03 ponto percentual, ou 40% do índice.
Mudança de hábito
Agora, com os preços do tomate voltando ao apogeu, os consumidores enxergam na substituição de legumes e no acompanhamento dos preços a solução para o problema. A aposentada Maria das Graças Silva Vilela confessa que diante da má qualidade dos produtos afetados pela seca, acaba pagando mais caro para ter uma refeição melhor à mesa. “Substituo pela cenoura, pelo chuchu, porque sei que alta é relevante porque os produtores estão sofrendo com a seca”, revela.
Para a engenheira Cláudia Mendonça Castro, desde que os preços do tomate sofreram a primeira alta, eles nunca mais se regularizaram e o jeito tem sido acompanhá-lo de perto. “Com preços altos tento substituir o que é possível. O que é insubstituível tento economizar na quantidade”, lembra. Segundo a funcionária pública aposentada Selma Niffinegger, o consumidor é penalizado sempre que há qualquer problema na oferta dos produtos. Mas ela garante que quando o preço de certo legume ou fruta está muito alto, opta pelos mais baratos. “Os preços estão altos e não tem como fugir, então tento comprar menos para não jogar nada fora e tento substituir pelas frutas e legumes da época que são sempre mais em conta”, diz.
Os comerciantes, por sua vez, se preocupam com as chuvas, mas também com o abastecimento das lojas. De acordo com o gerente do sacolão Lisboa, no Lourdes, entre as altas, a principal preocupação é com o tomate – o maçã passou de um preço médio de R$ 2,99 para R$ 6,99. “O preço mais que dobrou devido a safra, que foi marcada pela falta de chuva e perdas para o produtor, que tiveram que plantar tudo de novo”, explica. “Estamos preocupados porque a chuva não é suficiente e as perdas acabam chegando até nós”, lembra. Para Márcio Duarte, da Legumes Duarte, fatores como o feriado de carnaval, com diminuição da colheita, impactam na oferta. “O consumidor tem reclamado, mas compra porque encontra um produto com qualidade em um momento onde a safra não é boa”, afirma.
Risco maior O professor do departamento de economia aplicada da Universidade Federal de Lavras (Ufla), Ricardo Reis, diz que o estio pode afetar o preço das hortaliças, e uma menor colheita de milho atingir o custo das carnes. No entanto ele acredita que a pressão dos alimentos sobre o custo de vida será menor em 2014 do que o observado no ano passado. “Temos a expectativa de uma colheita recorde de grãos.” Para ele os grandes vilões devem ser os serviços, como hospedagem e transporte. “Os eventos esportivos devem pressionar a inflação dos serviços”, observa.
Problemas o campo ameaçam
Pierre Vilela, coordenador da assessoria técnica da Federação da Agricultura de Minas Gerais (Faemg), explica que muitos produtores que não utilizam a irrigação, esperaram a chuva de janeiro para plantar o tomate e que como ela não chegou desistiram do cultivo. “Por isso pode haver oscilações no preço até que a oferta seja regulada com o fornecimento do produto vindo de outras regiões.” No sacolão, a dona de casa deve se preparar também para uma possível alta da batata. Pierre Vilela observa que a estiagem prejudicou o cultivo do alimento plantado em janeiro. Como não choveu, a colheita deve ser menor do que o esperado.
Se nas próximas semanas as chuvas não encherem os reservatórios das unidades de produção, mudanças drásticas terão que ser feitas, como alterar o sistema de irrigação para formas com gasto mínimo de água e até reduzir o plantio. “Nossa esperança está na chuva para os próximos dias. Estamos muito preocupados porque já estamos tendo perdas no cultivo das hortaliças e daqui a 60 dias, quando a seca começar, poderemos ter que rever a produção para nos adequar à escassez de água”, alerta Benedito Rafael da Costa, vice-presidente da Central de Hortas de Sete Lagoas. Segundo ele, a quebra na produção está entre 3% e 4%.
Marcos Lívio Daher responsável pela produção de mais de 50 tipos de hortaliças na região de Capim Branco, Grande BH diz que o custo com energia cresceu 30%. “Com a estiagem temos que bombear mais água para irrigação.” A preocupação do produtor também está concentrada nos próximos 60 dias, quando começa a temporada de estio. “Se não chover o suficiente agora para encher os reservatórios os preços devem encarecer na temporada da seca.” Para Benedito Rafael a água é fundamental a qualquer cultivo: “Temo que a seca leve o país a uma recessão.”
Ovos Os ovos e o frango também tiveram o preço aumentado nas duas últimas semanas. Segundo levantamento do Mercado Mineira a dúzia dos ovos brancos aumentou 15,28%, passando de R$ 4,32 em fevereiro de 2013 para R$ 4,98 no mesmo período desse ano. Marília Martha Ferreira, diretora-executiva da Associação de Avicultores de Minas Gerais (Avimig), diz que houve recuperação dos preços e como a demanda durante os dias da Quaresma cresce para frangos e aves nas próximas semanas pode haver altas ainda de até 7%.
Memória
O vilão que virou iada na internet
Em 2013, os alimentos e bebidas fecharam o ano com alta de 8,48%, somando maior impacto sobre o custo de vida que acelerou 5,91% no mesmo período. No período, tomate foi o porta-bandeira da alta de preços e chegou a ser rotulado como o vilão do custo de vida. No país, o produto chegou a registrar alta superior a 60%. Em Belo Horizonte, o quilo do produto comum, como o Santa Cruz, ultrapassou R$ 8 em alguns sacolões da cidade, custando mais que o quilo de alguns cortes de carne. O tomate foi cortado da salada da dona de casa e encareceu a alimentação fora do lar. Também se transformou em piada na internet quando, em fevereiro do ano passado, já acumulava alta anual de 52%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nas redes sociais, assaltantes apareciam em busca de tomates que também se transformaram em presentes preciosos entre casais de namorados, que trocavam o alimento. A página “Dilma Bolada”, no Facebook, aderiu à brincadeira com carestia do alimento popular e lançou o programa “Meu tomate, Minha vida”.