A Bolsa de Valores de São Paulo (BMF&Bovespa) reabriu na quarta-feira, de ressaca pós-Carnaval em meio às tensões entre a Rússia e a Ucrânia, mas o contágio dessa crise ainda não teve impacto no país, na avaliação dos especialistas do mercado financeiro. O principal indicador do mercado de ações, o Ibovespa, fechou o primeiro dia de negociação em março com queda de 1,07% em relação ao pregão de 28 de fevereiro, a 46.589 mil pontos. Essa queda foi marcada pela volta da desconfiança em relação à economia, apesar do resultado positivo, de 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB) – a soma da produção de bens e serviços – em 2013.
As bolsas de valores pelo mundo, depois de uma queda generalizada no início da semana em função da crise na Ucrânia e de uma recuperação na terça-feira, ontem estavam difusas e não indicavam uma tendência clara. Nos Estados Unidos, o índice Nasdaq, por exemplo, subiu 0,14%, enquanto o Dow Jones recuou 0,22%. A bolsa de Shangai teve queda de 0,89%. Já a de Tóquio subiu 1,2%. Em Paris, houve desvalorização de 0,11% e em Frankfurt, de 0,49%. O índice Merval, indicador dos principais papéis cotados na Bolsa da Argentina, encolheu 0,6% e a bolsa do México caiu 0,15%.
No Brasil, a piora do humor dos operadores também recaiu sobre o câmbio. O dólar recuou ontem 0,91% frente ao real, para R$ 2,32. “Essa valorização da moeda brasileira é resultado da volta da desconfiança no governo e na administração das contas públicas, que ficou bem clara na pesquisa Focus (do Banco Central). O relatório mostra que a credibilidade foi bastante efêmera”, afirmou o economista-chefe da corretora Gradual Investimentos, André Perfeito.
Apesar da redução de 11,25% para 11,13% na expectativa da taxa básica de juros (Selic) para este ano, a pesquisa Focus divulgada ontem indica que os economistas ouvidos pelo Banco Central esperam uma nova alta de 0,25 ponto percentual em abril. Na semana passada, o BC aumentou a Selic em 0,25 ponto, para 10,75% ao ano. O relatório indica elevação da expectativa de crescimento do PIB neste ano, de 1,67% para 1,7%, embora ainda abaixo dos 2,5% previstos pelo governo.
Até 24 de fevereiro, por três semanas a projeção do crescimento da economia era descendente entre os analistas do mercado financeiro. “O mercado está reiterando que a questão da economia não está boa. A ideia de que o PIB veio acima das expectativas não melhorou significativamente as projeções para 2014. Além disso, a valorização do real mostra que a melhora na confiança no país foi momentânea”, completou Perfeito. Para a inflação, permanece a crença num índice elevado, de 6% em 2014 e 5,7% em 2015, sem alterações frente ao boletim anterior.
Outro fator que pesou fortemente sobre a queda na Bovespa foi o tombo de mais de 3% nas ações da Vale. As preferenciais (sem direito a voto), por exemplo, recuaram 3,37% e encerraram o pregão oficial cotadas a R$ 28,11. “A queda do Ibovespa foi puxada pela Vale. A empresa está sofrendo com a redução dos preços do minério de ferro na Ásia e com os últimos dados industriais da China, que não vieram bons. O mercado brasileiro ainda não sentiu o efeito da Ucrânia”, analisou o economista Felipe Chad, sócio da DX Investimentos.