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Estado de Minas

Resultado do PIB em 2013 reflete limite do crescimento com baixa produção

Resultado foi divulgado na véspera de carnaval; Guido Mantega caçoou de analistas


postado em 06/03/2014 06:00 / atualizado em 06/03/2014 07:45

O resultado do Produto Interno Bruto (PIB) em 2013, divulgado pelo IBGE na véspera do recesso de carnaval, acabou engolido pela pressa da saída para o feriado prolongado. As análises foram sucintas (em nome da transparência, também não a fiz, mas por razão de saúde).

O ministro Guido Mantega destacou o crescimento econômico de 2,3% no ano e chegou a caçoar dos analistas, ao afirmar que passariam o carnaval revisando as projeções mais pessimistas, indiferente a que a confusão dos cenários veio do Banco Central. Seu último relatório trimestral de inflação, divulgado em 20 de dezembro, cravara a alta do PIB de 2013 em 2,3%. Como principal referência sobre o curso da economia, o BC sinalizou e os economistas e o mercado foram atrás.

Só que o BC tem há algum tempo um experimento muito mal calibrado, o tal do IBC-Br, que busca prever a evolução mensal do PIB a partir de alguns critérios usados pelo IBGE para apurar em base trimestral (com atraso de dois meses) o resultado efetivo da economia. Sabia-se das limitações do que tem sido chamado de prévia do PIB. Não que fossem tão sérias. O IBC-Br indicou que a economia teria crescido 2,5% em 2013, mas com retração na margem de 0,17% no quarto trimestre.

Como o PIB oficial (e seu clone) teve queda no terceiro trimestre, ficou a suspeita de recessão técnica (dois trimestres seguidos de baixa). O IBC-Br induziu o mercado a um pessimismo ainda maior. O fato de o PIB ter crescido 0,7% no quarto trimestre, 1,9% em base anual e 2,3% em 12 meses (contra 1% em 2012) não muda as expectativas. Como fim de história, o BC deveria deixar para o IBGE o que lhe é de direito.

Desfeito o ruído, ficaram os fatos. E eles não justificam o alívio que o ministro da Fazenda procurou transmitir. Embora tenha entrado em 2014 crescendo, a economia não parece que adquiriu maior tração. Pela ótica da oferta, o destaque do crescimento em 2013 veio da agropecuária, com aumento de 7%, mas com um peso no PIB de apenas 5,7%. O setor de serviços, com participação de 69,4%, avançou 2%. E a indústria, cuja fatia é de 24,9%, cresceu 1,3%.

Pelo lado da demanda, chamou atenção o aumento de 6,3% no ano da formação bruta de capital fixo, ou, simplesmente, investimento, tal como as importações (8,4%). Tal jogo de números, à primeira vista, sugere uma economia com crescimento saudável. É mais impressão.

Desacerto insustentável


No curto prazo de 12 meses, o PIB já reflete o ajuste para baixar a necessidade de financiamento dos déficits orçamentário e externo. Esse processo começou em 2013 com mais juros e maior desvalorização da moeda, mas ainda não basta. A taxa de investimento, por exemplo, subiu ligeiramente, de 18,2% do PIB em 2012 para 18,4% ano passado, enquanto a taxa de poupança doméstica despencou para 13,9% do PIB. O forte avanço da poupança externa, de 3% do PIB em 2012 para 4,1% em 2013, bancou a diferença entre o investido e o poupado no país – um descompasso administrável em período curto, mas insustentável se mantido ao longo dos anos, além de crescente. O último ano positivo foi em 2006, com superávit das contas nacionais de R$ 21,4 bilhões. Desde 2007 o déficit só cresce, chegando a R$ 195,4 bilhões no ano passado. Aumentou R$ 29,8 bilhões em 2012 e R$ 65 bilhões em 2013.


Uma economia de serviços

O dinamismo da economia se tornou dependente do setor de serviços, que tem baixa produtividade e não gera receita forte, refletindo um perfil econômico concentrado, pela ótica da demanda, no consumo das famílias (equivalendo a 62,5% do PIB) e do governo (22%, excluindo transferências de renda, que são alocadas no consumo privado). É muita demanda para pouca produção agrícola e industrial, a única capaz de gerar as divisas que financiam o consumo vazado para as importações. Esse é um problema antigo. De 2002 a 2013, em valores correntes, o PIB cresceu 227%, puxado por serviços (237%), já que agropecuária (178%) e indústria (197%) perderam terreno. De 2010 a 2013 a situação amenizou. O PIB cresceu 28%, puxado por serviços (32%) e agricultura (37%), e atrasado pela indústria (13%).

No bisturi ou com acordo


Mas os desequilíbrios se acentuaram, contrariando a regra segundo a qual só se distribui o que foi produzido – e depois de reposto o capital (entre máquinas e sistemas) que chega ao fim de vida útil. Enfim, o país precisa de consumo para crescer, mas precisa muito mais hoje de investimentos para renovar a capacidade produtiva com fábricas, infraestrutura, novos cultivos, em paralelo com a redução vis-à-vis ao PIB dos déficits fiscais e externo. Isso implica mais poupança interna (basicamente, com o gasto orçamentário evoluindo abaixo do PIB) e menos demanda em relação à renda. Quanto mais se fizer com crescimento, coisa de 2,5% ao ano, menos sofrido será. O ajuste clássico é feito com bisturi. O pragmático, em acordo com o empresariado e o mercado. O crescimento será a resultante.


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