Brasília – Em apenas dois meses, o rombo da balança comercial brasileira já é o maior para o período da série histórica, iniciada em 1994 pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). A diferença entre tudo o que o país exportou e importou em janeiro e fevereiro ficou negativa em US$ 6,2 bilhões. A cifra superou o déficit recorde de US$ 5,3 bilhões registrado no mesmo período de 2013, de acordo com dados divulgados ontem pelo Mdic. Esse resultado já está fazendo com que os especialistas reduzam suas estimativas dos números da balança de comércio do Brasil com o exterior.
Em fevereiro, as exportações brasileiras cresceram 2,5% em relação ao mesmo mês do ano passado, somando US$ 15,9 bilhões. Enquanto isso, as importações avançaram em ritmo mais acelerado: 7,3%, para US$ 18 bilhões. Assim, o déficit de fevereiro ficou em US$ 2,1 bilhões, volume melhor na comparação com janeiro, que exibiu a perda da história, de US$ 4,057 bilhões.
A chamada conta petróleo respondeu por pouco mais da metade do rombo do bimestre: US$ 3,6 bilhões, de acordo com dados do secretário de comércio exterior do Mdic, Daniel Godinho. No mesmo período de 2013, o rombo causado pelas importações de combustíveis foi de US$ 4,6 bilhões. Dado o forte volume de importação de combustíveis, o governo mudou no meio de 2012 a forma de contabilizar a compra do produto pela Petrobras, deixando US$ 4,5 bilhões para serem contabilizados ao longo do ano seguinte. Essa diferença, ajudou o resultado daquele ano, mas prejudicou o saldo comercial de 2013, que foi de apenas US$ 2,6 bilhões.
Neste ano, o ritmo de importação de petróleo não parece ter diminuído. Apenas em fevereiro, o aumento foi de 30,4%. O secretário Godinho destacou, ainda, que o aumento das importações de bens duráveis e de componentes para eletroeletrônicos de produtos que deverão ser vendidos durante a Copa do Mundo também contribuíram para o resultado ruim da balança. Segundo ele, esses itens responderam por quase dois terços do saldo comercial.
“Esse déficit não foi composto apenas pelo petróleo e isso é preocupante. As exportações já deviam estar reagindo, mas isso não está acontecendo”, alertou o economista Felipe Salto, da empresa Tendências Consultoria, que esperava um saldo negativo de US$ 6,9 bilhões entre janeiro e fevereiro. “O resultado deverá ser menor, mas ainda teremos superávit por conta do câmbio”, disse Salto. O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, que estimava um saldo positivo de US$ 7,2 bilhões em 2014, também avisou que pretende reduzir as suas estimativas.
Perdas também no fluxo cambial
O Brasil voltou a enviar mais dólares para fora do que atraiu, registrando em fevereiro um saldo negativo de US$ 1,85 bilhão, pior resultado para o mês em 12 anos, informou o Banco Central. O chamado fluxo cambial, que havia encerrado janeiro no azul, foi prejudicado pelo fluxo comercial, a saída do dinheiro dos contratos relacionados às importações, que registraram US$ 17,794 bilhões, ante os US$ 15,655 bilhões das exportações, perfazendo uma diferença de US$ 2,129 bilhões que saíram do país a mais do que a cifra que entrou. Na conta financeira, que registra os investimentos estrangeiros diretos, aplicações em carteira e remessas de lucros e dividendos, houve entrada líquida de US$ 272 milhões.