É o que mostra a segunda reportagem da série que o Estado de Minas apresenta desde ontem sobre os efeitos da expansão da educação de nível superior na economia em cidades que acompanham esse crescimento no interior de Minas Gerais. Como nem sempre é possível estudar perto de casa, planejar os gastos e fazer poupança para o ensino superior é uma matemática que pode trazer alívio para as contas domésticas. Pesquisa feita pela Universidade Federal de Lavras (Ufla) indica que, a despeito do ensino gratuito, os estudantes da graduação e pós-graduação gastam, em média, R$ 800 por mês. Já pesquisa da consultoria Hoper Educação aponta que, no país, o custo médio da mensalidade. Em instituições particulares de ensino superior é de R$ 536 e em Minas, de R$ 632, valor 18% acima da média nacional.
Engana-se também quem pensa que a pressão do custo de vida no interior é pequena. O fôlego da inflação de 2013 assustou nas cidades de Minas Gerais. Em Lavras, no Sul do estado, o custo de vida subiu 16,93%, maior elevação dos últimos seis anos, ante uma variação de 5,75% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) medido na Grande BH pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Viçosa conviveu com a inflação de 9,12% apurada pela universidade federal da cidade (UFV), enquanto em Montes Claros, no Norte mineiro, os gastos do dia a dia encareceram 7,59%, em média. Essas três cidades, que têm indicadores próprios do custo de vida, já haviam enfrentado significativos aumentos em 2012.
Em Viçosa, os aluguéis assumiram a condição de principais vilões do custo de vida, com variação de 14,89% entre janeiro de 2013 e o mesmo mês deste ano, informou o professor Jáder Fernandes Cirino, um dos coordenadores do IPC medido pela UFV. Os gastos com condomínio também não deram trégua ao consumidor na cidade, exibindo alta de 8,91%, em média, no período comparado. “Parte desse comportamento reflete a demanda criada pelos alunos e servidores da universidade”, observa Jáder Cirino.
Os aumentos foram aplicados sob protesto dos amigos e colegas na UFV Thaiss Pinto Moreira, de 22 anos, e Natália Menezes Medeiros, de 21. Thaiss deixou a vizinha Amparo da Serra para estudar jornalismo na prestigiada UFV, mas jamais esperou pagar R$ 1,2 mil em despesas básicas por mês, sem contar um único centavo gasto com lazer. “O aluguel chegou a R$ 850 em dezembro, sendo R$ 100 a mais em um mês, e o condomínio custa R$ 250. Ainda assim, vi apartamentos que não tinham sequer ventilação”, afirma. Para ajudar nas despesas bancadas pelos pais, Thaiss conta com a bolsa de estágio, de R$ 300.
O sentimento de indignação não é diferente quando a amiga Natália, aluna do curso de engenharia de alimentos, lista cada item do orçamento. Não era algo que imaginava enfrentar ao deixar Bom Jesus do Itabapoana (RJ), distante 200 quilômetros. “Gasto muito mais aqui, sem dúvida”, afirma a estudante, que decidiu procurar estágio fora da universidade, na expectativa de maior ganho. “Em Lavras, observamos grande expansão da economia com destaque para o setor imobiliário. Também pressionam os preços o setor de abastecimento, serviços prestados por profissionais domésticos e da construção civil. Há grande demanda por hotelaria e lazer, sendo que o principal fomento vem da expansão universitária”, observa Ricardo Reis, professor do departamento de economia aplicada da Ufla.
A estudante de engenharia florestal Letícia Bottrel é de Vinhedo, em São Paulo, e mora há três anos em Lavras, no Sul de Minas. Letícia divide apartamento com três amigas e diz que nos últimos anos a maior pressão em seu orçamento de estudante veio dos aluguel e alimentos. “Meus gastos com supermercado cresceram 60%”, calcula. Yulle Marques, de 20, está terminando o curso de jornalismo na Universidade Federal de São João del-Rei. Para auxiliar na despesa, ela faz estágio e acredita que gasta, por mês, perto de R$ 800, sendo que R$ 350 é o custo da moradia. “O maior peso.”
Para driblar o boom imobiliário que elevou o valor de aluguéis, o artifício de redividir o apartamento para esticar o número de moradores virou alternativa em repúblicas de Mariana e de Lavras. A paulista Rafaela Barros Pereira, de 27, aluna do curso de Serviço Social da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), não se conforma em gastar para viver na cidade histórica os mesmos R$ 500 que pagaria pela mensalidade de uma faculdade privada próxima de onde vive com a família, Pontal, a 680 quilômetros do atual endereço. “Transformamos a sala e a garagem em quartos para tentar reduzir as despesas de cada um.”