Ao se tornar um polo de educação superior além de deixar de exportar seus estudantes para a capital, perdendo gordas divisas, os municípios atraem uma nova população disposta a consumir produtos e serviços dinamizando novos e velhos setores da economia local. No Brasil, país com maior número de instituições particulares de ensino superior do mundo (são cerca de 5 milhões de estudantes na rede particular), o crescimento do interior surpreende e o mercado é disputado como uma nova fronteira pelo setor privado. Em Minas, onde quase 450 mil estudantes estão matriculados em cursos presenciais, 66% são alunos no interior.
GASTO ALTO Manuelle Souza de Faria se mudou de Campo Belo para Lavras onde estuda odontologia em uma universidade privada. Ela desembolsa R$ 2,1 mil com a mensalidade e acredita que ao todo suas despesas aproximam-se de R$ 3,5 mil por mês. Mesmo considerando seu gasto mensal alto ela acredita que no interior o custo de vida é menor. “Se estudasse em uma grande cidade, como Belo Horizonte, gastaria mais.” Já Ingrid Rafaelle de Oliveira, que cursa a mesma faculdade, não precisou sair de casa. Ela considera importante ter a faculdade em sua cidade natal, o que contribui para aliviar o custo da qualificação. “Moro com minha família, não preciso pagar aluguel.”
Com valor de mercado próximo a R$ 11 bilhões, o grupo Kroton mantém 180 mil alunos no ensino presencial, sendo 40 mil em Minas Gerais. Segundo Matiello, no interior, onde a demanda reprimida é maior, o crescimento das operações é mais intenso que na capital, atingindo 25% ao ano. E o grande impulsionador é o credito. “Cerca de 60% dos 180 mil estudantes presenciais da Kroton utilizam o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).” O grupo está em franca expansão com construções em Divinópolis, Betim, Contagem, Ipatinga e Governador Valadares. O Grupo Estácio, que atende cerca de 340 mil estudantes, também tem planos de crescimento rumo ao interior. Segundo o diretor-geral da Estácio BH, Eduardo Penna, para este ano os projetos miram a Região Metropolitana da capital mineira, tendo como alvos Contagem e Betim, além do Triângulo Mineiro e do Norte do estado. “Queremos chegar, neste ano, a todas as regiões de Minas pelo menos com polos de ensino à distância”, afirma Penna.
Em Viçosa, a instituição privada de ensino superior Univiçosa transformou o Bairro Silvestre, que abriga o seu primeiro câmpus aberto na cidade, com um crescimento exponencial de alunos desde o início das atividades da escola em 2005. Saiu de um contingente de 300 estudantes para 3,5 mil neste ano, atendidos em 15 cursos. São 172 professores e 150 servidores técnicos, com uma massa de salários ao redor de R$ 600 mil por mês, informa o diretor-geral da Univiçosa, Evaldo Rodrigues.
Montes Claros, município-polo do Norte de Minas Gerais, com 380 mil habitantes, é outro exemplo do impulso às novas cidades universitárias. “A mão de obra local passa a ser mais qualificada, a renda melhora e é redistribuída na cidade”, observa Cristiano Marchi Gimenes, diretor administrativo das Faculdades Santo Agostinho, que constitui um dos principais grupos do ensino superior privado no município, com cerca de 6 mil alunos e 505 funcionários.
A demanda gerada pela população de estudantes estimula novos mercados, garante Jocelandia Jerônimo, a Jô. Há três anos, ela montou um pensionato em Montes Claros. “Nos últimos anos, surgiram vários outros estabelecimentos semelhantes na cidade. A concorrência é grande e a procura também", informa a microempresária, que cobra mensalidade de R$ 900, dando direito refeição completa e roupa lavada. Segundo informações do setor imobiliário, no início de cada semestre, os preços dos aluguéis na cidade têm subido até 20%, devido a chegada dos novos estudantes.