Brasília – Os esforços do ministro da Fazenda, Guido Mantega, para melhorar a imagem do governo não convenceu empresários. Em reunião realizada nessa quarta-feira, em Brasília, os participantes saíram frustrados. A falta de acordo em torno da Medida Provisória (MP) 627, que trata da tributação para companhias com subsidiárias no exterior, levou a criação de um grupo de trabalho formado por executivos do setor privado e técnicos governistas. Apesar de não compartilhar da mesma visão da equipe econômica sobre a nova legislação e acerca das condições da economia, o empresariado apresentou um discurso semelhante e cauteloso, disse apoiar o governo na aprovação do projeto no Congresso, mas que as regras precisam ser refinadas.
Marcos Jank, diretor executivo global de assuntos corporativos da BRFoods, holding que reúne Perdigão e Sadia, demonstrou frustração com o resultado da reunião. “Acho que havia mais expectativas. Mas a gente está fazendo mais uma vez esse dialogo para ver se a MP acerta, porque ela realmente aumenta a tributação”, disse.
A medida provisória precisa ser votada até abril para não caducar. “Caso não aprove a MP, o Brasil será o único no mundo a adotar esse regime (de tributar todos os resultados). O mundo todo adota a sistemática de só tributar dessa maneira quando o investidor está em paraíso fiscal”, explicou o advogado André Martins de Andrade.
Almoço por R$ 40
A reunião foi seguida de almoço e, em tempos de aperto fiscal, o menu oferecido por Mantega custou R$ 40 a cada um dos 18 empresários presentes. No cardápio, carne e peixe. Teve como porta-voz o presidente da Vale, Murilo Ferreira, que anunciou o apoio do empresariado ao governo na votação do Congresso. Ferreira, desconfortável com a tarefa, saiu no meio da reunião para falar com a imprensa. “Vamos trabalhar pela aprovação da medida provisória como está, mas com pequenos refinamentos no Congresso”.
O desconforto do executivo, em parte, pode ser explicado pela dívida de R$ 45 bilhões que a Vale tinha com o governo. A companhia desistiu da ação na Justiça e aderiu ao programa de parcelamento (Refis) oferecido pelo governo. Segundo Ferreira, os empresários trabalham com a possibilidade de uma segunda MP, após a aprovação da atual, com o objetivo de “refinar” o sistema de tributação.
Paulo Godoy, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Base e Infraestrutura (Abdib), disse que o governo está disposto a ceder. “O ministro falou em nome dele e da presidente (Dilma Rousseff) que o governo tem todo interesse em que as empresas brasileiras tenham operações internacionais”, afirmou.
O ministro ainda defendeu as ações do governo para estimular a economia, as desonerações tributárias, o comprometimento da Fazenda com as contas públicas e disse que a carestia está sob controle.