Caso o governo entregue bons resultados fiscais mês a mês até junho, na direção do cumprimento da meta de superávit primário de 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano, a Standard & Poor’s dará o benefício da dúvida e não rebaixará o Brasil, comentou o ex-ministro da Fazenda, Delfim Netto, em entrevista exclusiva ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado.
Ele afirmou que não esteve reunido com a diretora da S&P Lisa Schineller e sua equipe, que esteve em São Paulo de segunda-feira, 10, até a quinta-feira, 13, conversando com interlocutores do setor privado. “Essa é a minha intuição. As agências de rating estão em busca de ganhar credibilidade, dados os problemas que enfrentaram desde a crise das hipotecas subprime de 2008”, comentou.
Delfim Netto acredita que o setor público consolidado vai gerar o superávit primário de 1,9% do PIB. “A presidente Dilma mudou. E o compromisso da meta desse superávit é do governo, e portanto é dela. No fundo, este patamar de primário, com uma economia que cresce perto de 2%, mantém estável a dívida bruta em relação ao PIB.”
O ex-ministro avalia que o crescimento da economia em 2014 deverá ficar perto do registrado em 2013, próximo a 2%, e vê chances de subir 3% no ano que vem. Segundo ele, para que ocorra esse avanço do PIB em 2015 é necessário evitar qualquer possibilidade de racionamento de energia, com uma redução de 4% do consumo de eletricidade, que só surgiria com uma elevação significativa do preço ao consumidor.
Regra clara
O ex-ministro da Fazenda afirmou que o governo deveria anunciar “o mais cedo possível” a adoção de uma regra clara, na qual se propõe a acabar com as defasagens dos preços internos da gasolina em relação aos internacionais entre 12 e 18 meses. “E o importante é que sejam aumentos aleatórios, neste horizonte de tempo, não exatamente quando o mercado quer”, ponderou. Além disso, ele destacou que isso iria ajudar a recompor o valor de mercado da Petrobrás, que caiu “dois terços” e ajudará a fortalecer seu caixa para investimentos.
Como ele defende também um aumento de energia para o consumidor suficiente para reduzir o consumo de eletricidade em 4% e afastar definitivamente qualquer risco de racionamento, Delfim pondera que as duas medidas serão positivas para a economia.
De um lado, o impacto inflacionário imediato seria compensado pela redução das expectativas de alta da inflação no médio prazo, pois muitos empresários e consumidores acreditam que o controle de preços administrados pode ser rompido em algum momento pelo governo. E tais ações, para ele, ajudariam no processo de convergência do IPCA à meta de 4,5% em 2015.
Por outro lado, esses reajustes de energia e de gasolina ajudariam a “despertar o espírito animal adormecido” de empresários, pois ajudaria a diminuir muito a percepção de muitos agentes econômicos de que o governo Dilma Rousseff é intervencionista em relação ao setor privado.
Na avaliação de Delfim Netto, a atuação do Banco Central para conter a inflação está ajudando muito o governo no resgate da credibilidade da política econômica. “É sabido que as defasagens da política monetária sobre o nível de atividade levam de nove a dez meses para adotar efeitos. Portanto, o presidente do BC, Alexandre Tombini, e a diretoria da instituição têm razão ao reduzir o ritmo da alta da Selic”, comentou. “O Copom deve adotar em abril mais uma elevação de 0,25 ponto porcentual e depois vai ver o que fará”, destacou. As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo.