Brasília – O consumidor não tem muito o que comemorar no dia dele, celebrado hoje. É obrigado a conviver com os desrespeitos das empresas no dia a dia. Além disso, estimulado a comprar para incentivar o aquecimento da economia viu, no último ano, a inflação crescer e os juros aumentarem. Diante desse cenário, arcar com as contas ficou cada vez mais difícil. Os brasileiros têm engrossado as estatísticas de endividamento e inadimplência – nos últimos cinco anos, 52 milhões de pessoas tiveram pelo menos alguma despesa em atraso, segundo o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC).
Os especialistas alertam que o momento é de cautela. Miguel Ribeiro Oliveira, vice-presidente da Associação de Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), lembra que, com a escalada dos juros, os bancos e as financeiras ficaram mais seletivos na concessão de crédito. “Portanto, não vale a pena pegar dinheiro emprestado ou comprar a prazo à toa”, reforçou.
A projeção da Anefac é de que, em 2014, a inflação fique entre 5,80% e 5,85% ao ano e que a taxa básica de juros (Selic) chegue a 11%. Por isso, Oliveira diz que o ideal agora é poupar. “Os brasileiros têm de ficar atentos a esses detalhes e acumularem reservas para uma eventual necessidade”, aconselhou. Aline Rabelo, coordenadora do site Investmania, chama a atenção ainda para o risco de retração do mercado de trabalho. “Com a redução dos investimentos no Brasil, as empresas, descapitalizadas, produzem menos e podem dispensar empregados”, explicou.
Sair do vermelho requer hábitos saudáveis de consumo e cultura de investimento. “Não sou a favor de pessoas que perdem a qualidade de vida para guardar dinheiro. O ideal é o equilíbrio, ou seja, um bom planejamento”, enfatizou Aline. Ela lembrou que, com a ascensão da classe C, nunca se falou tanto em finanças pessoais. “Mas, entre ler e aplicar, há uma linha distante”, ponderou.
Algumas medidas, no entanto, podem fazer a diferença. Na compra de qualquer produto, as palavras de ordem são pesquisar, negociar, pagar à vista, evitar financiamento de longo prazo, nunca usar o valor mínimo ou o rotativo do cartão de crédito e fazer uma planilha para orçar os gastos. “Faça sobrar dinheiro do salário. Com os juros altos, é estimulante guardar e investir, por exemplo, em títulos públicos”, ressaltou Aline.
Em BH
O Dia Mundial do Consumidor foi comemorado em Belo Horizonte com diversas ações educativas na Praça Sete, no Centro da capital. As atividades foram promovidas pelo Procon-BH. Segundo a coordenadora do órgão, Maria Lúcia Scarpelli, o Código de Defesa do Consumidor (CDC) precisa de reajustes, já que ele foi elaborado há 23 anos, quando o mercado vivia outra realidade.
A consumidora Sullen Colares acredita que já houve avanços no tratamento oferecido pelas empresas aos consumidores, no entanto, afirma que ainda não está como deveria. Ontem, ela pedia auxilio ao Procon para resolver a troca de um aparelho de som, que apresentou vício com pouco tempo de uso e a de um patins. “Tinham que nos respeitar mais. Eles aproveitam porque não conhecemos o Código de Defesa do Consumidor como deveríamos”, afirma.
Colaborou Francelle Marzano