Para qualquer burocrata que viva na sopa de siglas da Esplanada dos Ministérios, em Brasília, essas duas letras significam poder. Seja em um memorando, um e-mail, ou mesmo na sinalização interna dos edifícios. Querem dizer gabinete do ministro. Mas, pela onipresença e por ser sinônimo de mando, bem que poderiam representar Guido Mantega. Além da presidente Dilma Rousseff, ninguém tem mais influência no governo do que o ítalo-brasileiro que nasceu em Genova em 1949 e chegou a São Paulo com 3 anos. Isso não ocorre apenas porque ele controla o Ministério da Fazenda, o principal dos 39 que existem hoje. Suas decisões extrapolam os limites do cargo. Espalham-se por outras pastas, estatais, fundos de pensão e, por meio deles, empresas privadas.
Em termos de influência, só fica atrás de Antonio Delfim Netto, que ocupou o cargo entre 1969 e 1974, nos governos Arthur da Costa e Silva e Emilio Garrastazu Medici – no mandato de João Figueiredo, de 1979 a 1985, viria a comandar sucessivamente as pastas da Agricultura e Planejamento. “Mas Delfim era praticamente o presidente do Brasil”, compara o economista Paulo Sandroni, que já dividiu uma sala com Mantega na Fundação Getúlio Vargas (FGV), onde o atual titular da Fazenda ainda é professor.
Paradoxalmente, Mantega é visto por muita gente como alguém que se limita a abaixar a cabeça para o que determina Dilma. “Em qualquer governo, o ministro da Fazenda faz o que o presidente manda”, explica Delfim, instalado hoje na sua consultoria, a Ideias, no bairro paulistano do Pacaembu. A frase de Delfim sintetiza a essência de um poder forte exercido por delegação. Só o conquista quem atua em sintonia perfeita com o primeiro mandatário, sem receio de ser ofuscado.
Mantega está quase todo dia na agenda de Dilma, para tratar de variados assuntos. Socorro ao setor elétrico? Chama-se o ministro da Fazenda. Negociação de acordos comerciais com outros países? Idem. E assim vai, da política industrial à agrícola. Pode-se argumentar que são temas que têm viés fiscal. Mas em outras épocas, a área econômica do governo não era ouvida em tantos detalhes das decisões.
Trajetória Em 2006, Mantega era presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) quando foi chamado para substituir o então ministro Antonio Palocci. Progressivamente, o novo titular da Fazenda foi ganhando a confiança do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, apesar da longa convivência entre ambos, mantinha dúvidas sobre a capacidade do ministro de comandar a economia. No segundo mandato de Lula, a política econômica assumiu feições bem mais intervencionistas.
Quando Dilma tornou-se candidata, teve de deixar não só a Casa Civil, mas também a Presidência do Conselho da Petrobras. Passou o assento a Mantega. Quando eleita, especulava-se que o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, poderia virar ministro da Fazenda. Mantega não apenas foi confirmado no cargo, como continuou a concentrar poder. Foi dele a palavra final sobre a escolha de Alexandre Tombini para a presidência do Banco Central.
Se Dilma for reeleita, Mantega continua no cargo? Ele tem dito que não quer. Mas as apostas, na política e no mercado, convergem para o nome que, se confirmado, embutirá o endosso de Mantega: o atual presidente do BC.