O patamar de inflação apontado pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo -15 (IPCA-15) de março desagradou os economistas. Apesar de a alta de 0,73% ante o índice quinzenal de fevereiro ter ficado abaixo da mediana da pesquisa do AE Projeções (0,76%), devem ser observadas novas acelerações no final do mês e nas próximas apurações, puxadas pelos preços dos alimentos. De acordo com levantamento relâmpago do AE Projeções realizado logo após a divulgação do IPCA-15, a inflação oficial deve fechar março com um resultado no mínimo igual ao apresentado em fevereiro (0,69%). As estimativas preliminares de 25 instituições para IPCA fechado deste mês vão de 0,69% a 0,89%, o que gerou mediana de 0,82%. A maioria das expectativas aponta para um IPCA acima de 0,80% no terceiro mês de 2014. Também irá intensificar a taxa acumulada em 12 meses para o nível de 6,00%.
De maneira geral, uma taxa mensal de inflação ao redor de 0,70% é considerada muito elevada para uma meta que tem como centro 4,5% ao ano. Cálculos feitos por analistas apontam que, para chegar ao final do ano com inflação em 5,5%, seria necessário ter uma taxa média mensal de 0,37% até dezembro. A alta de 0,73% registrada pelo IPCA-15 neste mês, superior ao resultado de fevereiro (0,70%), é a maior para meses de março desde 2003, quando o indicador registrou alta de 1,14%, de acordo com a série histórica divulgada no site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Quando considerados todos os meses, a taxa este mês é a mais elevada desde dezembro de 2013, quando atingiu 0,75%.
"É um número ruim porque eleva a inflação acumulada no ano para 5,9%", destaca a economista do Banrisul, Marivia Nunes. Nem o resultado ligeiramente abaixo da mediana das estimativas pode ser visto com animação. "O desvio em relação à mediana deve-se em grande parte à inflação do grupo Alimentação e deve acelerar na segunda metade do mês", escreveu em relatório o economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira.
O economista-chefe da Concórdia Corretora, Flávio Combat, destaca que a aceleração da inflação dos alimentos está apenas no começo. O impacto da estiagem sobre os preços deste grupo deve durar, pelo menos, até abril, segundo o especialista. "Os alimentos estão refletindo a aceleração percebida no atacado, já que a safra de alguns produtos está sendo prejudicada pela estiagem", afirmou. "Estamos assistindo ao começo de uma inflação de alimentos mais alta. Ainda não é o topo", acrescentou. Marivia, do Banrisul, prevê que os alimentos, cuja média de reajuste dos preços saltou de 0,52% para 1,11% na passagem de fevereiro para março no IPCA-15, deverão pressionar a inflação ao consumidor até por volta de junho.