A euforia mostrada nessa quinta-feira pela Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) diante do primeiro abalo, este ano, do favoritismo eleitoral da presidente Dilma Rousseff ganhou impulso com uma mudança de humor em relação à Petrobras e à Eletrobras. Ignorando as quedas nos mercados internacionais, a BM&FBovespa operou desde a largada em alta de 2%, afetada pela divulgação da pesquisa CNI/Ibope, que apontava recuo na aprovação do governo de 43%, em dezembro, para 36% este mês. As duas grandes estatais tocaram a onda, com destaque para a alta de 9,84% dos papéis ordinários (ON) da Eletrobras e de 8,13%, dos preferenciais (PN) da Petrobras. Trata-se da melhor performance dessas ações em quase 10 meses.
O pregão encerrou aos 49.646 pontos, maior nível desde janeiro, e valorização de 3,5%, melhor desempenho desde os 3,6% alcançados em 2 de setembro. O giro financeiro de R$ 10,4 bilhões superou em muito a movimentação média diária do ano, de R$ 6,37 bilhões. Nesta toada, o dólar caiu 1,73%, a R$ 2,268, menor nível desde 4 de novembro. Nos contratos futuros a retração foi de 1,6% em abril, para R$ 2,269, e de 1,61% em maio, para R$ 2,287.
Descrente em relação à capacidade do governo de cumprir metas fiscais e ressentido com o uso político das empresas estatais, o mercado reagiu bem ao resultado da CNI/Ibope, mesmo após pesquisa de intenção de voto do Ibope na semana passada apontar vitória de Dilma no primeiro turno.
O pré-candidato à Presidência, senador Aécio Neves (PSDB-MG), atribuiu a queda da popularidade da presidente “ao conjunto da obra”. “A equação do PT é inflação alta com crescimento baixo. Na infraestrutura, patinamos. Tudo parado, no meio do caminho, custo Brasil elevadíssimo. Os resultados começam a apontar para um governo que vive os seus estertores”, disse.
O governador de Pernambuco e também presidenciável Eduardo Campos (PSB) avaliou a pesquisa como a prova de que a relação de confiança entre o governo brasileiro e a sociedade é um “cristal que quebrou”. Na sua avaliação, esta crise “também de expectativa” só será superada nas urnas, pelo voto.
O Planalto considerou a empolgação do mercado como algo natural e já esperado. “A reação dos investidores diante de uma situação de piora na imagem do governo não poderia ser diferente”, disse uma fonte. Os dados que mostram um o percentual maior de eleitores que vêem o governo Dilma como pior que o de seu antecessor, reforçou também nos bastidores a movimentação de empresários e políticos pelo “Volta Lula”.
Segundo analistas ouvidos pelo Estado de Minas, os investidores enxergaram na queda de sete pontos da avaliação positiva de Dilma um começo de mudança a favor de um segundo turno e até de uma vitória da oposição. Com isso, Petrobras e Eletrobras, que atravessam graves problemas de caixa em virtude de malsucedidas decisões políticas, teriam a chance de uma nova condução a partir de 2015.
“Apesar de a presidente ainda manter a liderança em pesquisas eleitorais, o mercado viu na queda de avaliação de hoje (ontem) um retrato mais seguro da tendência para o pleito de 2014, a exemplo do ocorrido em março de 2010, quando a então candidata Dilma começou a subir até vencer no final”, avaliou Jason Vieira, economista do portal de informações financeiras Moneyou. “Não se trata só de uma torcida contra o governo, mas de oportunidades de momento a serem aproveitadas. Certamente haverá grande oscilação ao longo dos próximos meses, pois não há ainda tendência definitiva para as eleições”, acrescentou.
Fator externo Ricardo Torres, professor da escola de negócios BBS, observou que os dois candidatos rivais mais competitivos da presidente Dilma, Aécio e Campos, são vistos pela maior dos investidores como mais adequados à criação de um ambiente propício ao investimento e, consequentemente, ao crescimento econômico. “A percepção sobre a capacidade da presidente de mudar o cenário é muito negativa no Brasil e, principalmente, no exterior”, ressaltou o economista, que mora em Luxemburgo.
Para ele, o aplicador estrangeiro terá papel decisivo nesse novo horizonte de negociações. “Cotada em dólar, a bolsa paulista está praticamente de graça, se comparada a outras no mundo, oferecendo boas oportunidade de compra. Assim, se a oposição subir nas pesquisas, haverá uma corrida à ela. Mas se Dilma melhorar nas pesquisas, vai despencar para um buraco ainda mais fundo do que antes”, previu.
Roberto Indech, diretor da corretora , ressaltou que os desdobramentos do escândalo da venda da refinaria americana de Pasadena foram “pouco significativos” para as negociações com ações da Petrobras. Para ele, o mercado deixou claro que os erros de gestão na petroleira já foram precificados, fazendo com que sinais de mudança de governo e, por tabela, de comando nas estatais passem a ter peso mais significativo.
Inflação alta como legado
Deco Bancillon
Brasília – A escalada dos preços de produtos e serviços é o principal legado econômico que o governo Dilma Rousseff deixará para o próximo presidente da República. Independentemente de quem seja o candidato eleito ou reeleito no pleito de outubro, ele terá de justificar ao eleitorado uma inflação elevada até pelo menos março de 2016. Até essa data, o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA), o parâmetro oficial do custo de vida no país, deverá ficar persistentemente acima do centro da meta de inflação, de 4,5% ao ano.
A previsão é do Banco Central (BC), que projeta outro ano de baixo crescimento e inflação elevada em 2014. O Produto Interno Bruto (PIB), que avançou 2,3% em 2013, na melhor das hipóteses, deverá encerrar o ano em 2%. Já a inflação, que em 2014 completará meia década acima do centro da meta, fechará dezembro em 6,1%. Também, portanto, acima dos 5,91% entregues pelo governo ano passado.
As previsões do BC reforçam um cenário preocupante para a economia. Em quatro anos de governo Dilma Rousseff, o desempenho do PIB caiu à metade do que fora no segundo mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de 4,6% para 2%. É, portanto, o pior crescimento econômico em duas décadas. Enquanto isso, a inflação média ampliou-se de 5,1% ao ano, entre 2007 e 2010, para 6,%, nos quatro anos seguintes.
Seria um quadro pessimista não fosse o fato de que as estimativas do mercado financeiro são ainda mais conservadoras. Para o PIB, por exemplo, a pesquisa Focus, feita com cerca de 100 instituições financeiras, aponta elevação de 1,7%. Mas há, entre experientes analistas, quem aposte em desempenho ainda menor, de 1,3% a 1,5%. O ceticismo é ainda maior quando o que está em jogo é a inflação. As apostas do mercado são de que o IPCA encerrará o ano em 6,28%.
Juros Diante de números nada animadores, o mercado entende que o BC deverá seguir elevando os juros. As avaliações ganharam fôlego após o diretor de Política Econômica da instituição, Carlos Hamilton, ter declarado ontem que, apesar dos ventos contrários na economia, “a política monetária está fazendo o seu papel, e vai continuar fazendo esse papel”. “À medida que o tempo for passando, certamente os preços vão responder ao esforço de política monetária que está sendo feito”, reiterou Hamilton.
A taxa Selic sobe sem parar desde abril de 2013, quando saiu da mínima histórica, 7,25% ao ano, para o patamar atual: 10,75%. Mesmo assim, os preços e, mais importante, as expectativas para a inflação futura, não cederam. “O cenário ainda é bastante preocupante”, observou o economista Vagner Alves, da gestora de recursos Franklin Templeton.