Brasília – Com a inflação em disparada, a ponto de estourar o teto da meta às vésperas da eleição presidencial, o governo praticamente bateu o martelo: não autorizará nenhum reajuste da gasolina até que sejam proclamados os resultados das urnas, em outubro próximo. Mesmo que isso signifique sacrificar ainda mais o caixa da Petrobras, que está no centro de uma das mais graves crises políticas da administração Dilma Rousseff. “Se a gente não quer inflação e o preço do combustível impacta o custo de vida, (a Petrobras ) segura mais um pouco”, afirmou ontem ao Estado de Minas o presidente nacional do PT, Rui Falcão.
A ordem é não dificultar ainda mais o trabalho do Banco Central, que hoje elevará a taxa básica de juros (Selic) de 10,75% para 11% ao ano, na tentativa de conter a disseminação de reajustes. O governo sabe que, na avaliação dos consumidores-eleitores, inflação pesa muito mais que juros na hora de eles votarem. “Por enquanto, não há aumento de combustíveis à vista. Antes que isso aconteça, teremos de ver um quadro mais tranquilo para a inflação, o que não é possível agora”, disse um técnico da equipe econômica, com trânsito no Palácio do Planalto. “Inflação alta não combina com candidatura à reeleição”, acrescentou.
Mas se quer segurar o preço dos combustíveis, o governo não está preocupado com o impacto da elevação dos impostos sobre as bebidas na mesa do bar dos brasileiros. Tanto que nem bem anunciou aumento na tributação de cervejas, refrescos, isotônicos e energéticos, já planeja novo reajuste para outubro. Desta vez, valerá também para os refrigerantes, que ficaram de fora da alta anunciada na segunda-feira. Pelos cálculos da Fazenda, o preço ao consumidor, será impactado em 0,4%, em média, caso as empresas repassem integralmente a mudança na cobrança do tributo.
No entanto, em conversa com representantes da Ambev, analistas do Cerdit Suisse, afirmam que a fabricante estima elevar o preço entre 1% e 1,5% nos produtos vendidos no varejo. Em nota, a Associação Brasileira da Indústria de Cerveja (CervBrasil) — que representa Ambev, Petropolis, Brasil Kirin e Heineken — afirma que “vê com preocupação a decisão do governo” e avalia que as cervejarias terão dificuldade em absorver o aumento, lembrando que, nos últimos dois anos, a carga tributária das bebidas frias subiu mais de 20%. “Variação superior oito pontos percentuais em relação a inflação do período”. O diretor executivo da CervBrasil, Paulo de Tarso Petroni, acredita que a alteração na cobrança do imposto pode alterar o volume global comercializado este ano.
Na prática, o governo não alterou a alíquota de PIS/Cofins ou do Impostos sobre Produtos Industrializados (IPI) dessas bebidas, e sim, mudou o redutor que incide sobre o preço delas, aumentando a base de cálculo na qual o tributo é aplicado. A medida anunciada na segunda-feira, além de não incluir refrigerantes, deixou de fora também a água, e só vale para bebidas vendidas em embalagens de vidro ou lata. Segundo o secretário executivo adjunto do Ministério da Fazenda, Dyogo Henrique de Oliveira, a alta estava prevista desde setembro de 2013 e está incluída na conta da Receita Federal deste ano.
Bombardeada
Mesmo sem aumento autorizado pelo governo, os preços da gasolina estão sendo reajustados nos postos em função da elevação nos preços do álcool que é adicionado ao derivado do petróleo. Sem poder impedir os reajustes nas bombas, a presidente Dilma Rousseff é bombardeada por todos os lados. Pelos investidores da Petrobras, insatisfeitos com a ingerência do governo na estatal, que vende combustível mais barato do que compra no exterior, depreciando o preço da empresa. Pelos consumidores, que sentem no bolso a alta dos preços. E, pelos empresários, que veem os juros subirem e as vendas despencarem em alguns setores.