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Estado de Minas

BC sinaliza trégua nos juros, mas alta da energia vai manter inflação elevada


postado em 11/04/2014 06:00 / atualizado em 11/04/2014 07:50

Previsão de aumento da conta de luz no ano passou de 7,5% para 9,5%, mas está abaixo dos 14,24% nas contas residenciais da Cemig (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A/Press )
Previsão de aumento da conta de luz no ano passou de 7,5% para 9,5%, mas está abaixo dos 14,24% nas contas residenciais da Cemig (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A/Press )
Brasília – Apesar do otimismo demonstrado pelo governo de que o pior da inflação ficou para trás após o surpreendente aumento de 0,92% em março, provocado pelo choque na oferta de alimentos, as projeções do mercado para a carestia nos próximos meses são ruins. Os analistas preveem um abril turbulento e estimam que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegará a até 0,85% puxado ainda pelo preço de alimentos, o encarecimento da energia, de remédios e dos serviços.


Apesar dos argumentos sombrios dos especialistas para a elevação do custo de vida e das justificativas da equipe econômica para acalmar os investidores, quem continuará a sofrer e a sentir no bolso a alta de preços de produtos e serviços é o consumidor. A carestia para quem ganha até dois salários mínimos cravou 0,85% em março, conforme o Índice de Preços ao Consumidor – Classe 1 (IPC-C1) medido pela Fundação Getulio Vargas (FGV).

Os ruídos no mercado aumentaram ainda mais após a divulgação da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Os analistas acreditavam que o documento viria para consolidar o consenso de que o ciclo de aumento de juros iniciado em abril do ano passado chegaria ao fim. Entretanto, parte deles avalia que o documento deixou uma brecha para uma nova alta de 0,25 ponto percentual.

Em meio a esse debate, o governo acredita que ganhou tempo até que o Banco Central sancione uma nova alta. Como o Copom só se reunirá em 27 e 28 de maio, terá uma visão mais clara do custo de vida. Até lá, o IPCA de abril já terá sido divulgado e também as prévias de maio. O temor do Palácio do Planalto é que o quadro mais negativo se confirme com estouros sucessivos da meta de 6,5% de inflação perseguida pela autoridade monetária. Ainda que demonstre otimismo, a equipe econômica está em alerta após a ata do Copom revisar de 4,5% para 5% a inflação dos preços administrados em 2014 e 2015, levando em conta a hipótese de aumento de 9,5% nos preços da eletricidade. A prioridade é criar o melhor ambiente possível para que o governo Dilma não dê brechas para receber ataques da oposição durante a corrida presidencial.

Tensão na tomada 
No caso da energia, o próprio BC elevou a estimativa de alta este ano, antes em 7,5%. Apesar disso, a previsão continua excessivamente otimista e parece longe da realidade do setor elétrico, por não considerar considerar até mesmo recentes reajustes autorizados a distribuidoras, em torno de 15%. Especialistas ouvidos pelo Estado de Minas acreditam que o impacto dos aumentos das contas de luz sobre a inflação reforçam significativamente a perspectiva de que o teto da meta do BC para IPCA este ano, de 6,5%, será rompido.

André Braz, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV-RJ), informa que para cada 1% de aumento no preço da eletricidade, o IPCA sobe 0,03 ponto percentual. Dessa forma, um aumento de 10% na conta de luz este ano, por exemplo, acrescentará ao índice oficial de inflação 0,3 ponto percentual, o suficiente para se perder a meta. Em Minas, com o aumento de 14,24% nas contas da Cemig, o impacto na inflação será de 0,37 ponto percentual. Em razão das atuais circunstâncias críticas do setor elétrico, afetado pelo baixo nível dos reservatórios e pela geração termelétrica, mais cara, essa relação deve se manifestar mais intensamente, acrescenta ele. "O item energia elétrica tem peso de 2,5% no orçamento doméstico e a única sorte do governo é que os reajustes das distribuidoras não são aplicados simultaneamente", sublinhou. Para o público de terceira idade, a despesa é mais relevante, de 3% do total, por ficar mais tempo em casa.

Mesmo com essas pressões inflacionárias, o Banco Central suavizou o discurso adotado no documento em comparação com a última ata divulgada. A palavra “especialmente” foi retirada do texto quando a autoridade monetária afirmou que se manterá “vigilante” no controle da inflação. Em outro trecho, o Copom elevou o tom em defesa da eficácia do ciclo de aumento de juros, interpretado por parte dos analistas como sinal de fim do processo de alta da Selic. “Parte significativa da resposta dos preços ao atual ciclo de aperto monetário ainda está por se materializar” e “os efeitos das ações de política monetária sobre a inflação são cumulativos e se manifestam com defasagens”.

Consumidor é quem paga

Os agentes financeiros já começaram a cobrar dos consumidores as incertezas da economia brasileira. Levantamento da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) mostra que, desde meados de novembro, a alta das taxas de juros ao consumidor se descolou da elevação da taxa básica da economia. De março do ano passado a março deste ano, a Selic subiu 3,5 pontos percentuais. No mesmo período, a taxa média de juros para a pessoa física registrou elevação de 10,08 pontos percentuais. O detalhe é que, até novembro, as duas taxas subiam no mesmo ritmo da Selic, mas a partir daí a alta dos juros aos consumidores passou a ganhar a corrida.

Em março, de acordo com a Anefac, as taxas de juros das operações de crédito voltaram a subir no país. Essa foi a terceira elevação do ano e a 10ª seguida. Das seis linhas de crédito pesquisadas pela Anefac para as pessoas físicas, somente o cartão de crédito rotativo manteve a taxa de juros inalterada. As outras cinco – juros do comércio, cheque especial, CDC para financiamento de automóveis, empréstimo pessoal de banco e financeiras – cresceram. Com isso, a taxa de juros para pessoa física aumentou, em média, 0,69% em março de 2014 na comparação com o mês anterior, saindo de 5,82% para 5,86%, a maior desde agosto de 2012.

O Brasil vinha caminhando numa situação de estabilidade e, enquanto isso aconteceu, os bancos só repassavam ao consumidor as altas da Selic, mas as expectativas negativas tornaram os agentes econômicos mais pessimistas e eles começaram a precificar a expectativa de alta da inadimplência. Quando percebe um risco, o setor financeiro aumenta as taxas de juros ao consumidor para suportar isso”, explica Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor da Anefac. “O aumento dos juros pode ser atribuído à expectativa de novas elevações da Selic e também à piora nos índices de inflação e de crescimento econômico”, analisa.

Na opinião do economista e consultor Felipe Queiroz, é natural que as taxas de juros cobradas pelas instituições financeiras subam em velocidade maior do que as taxas de juros básicos da economia. “As taxas ao consumidor seguem variáveis como a Selic, o endividamento das famílias, e as expectativas de retorno para o credor. Numa situação de elevação da Selic, elas se alteram porque a tendência de atrasos de pagamento e de inadimplência aumentam”, explica.

Empresas Para pessoas jurídicas, das três linhas de crédito pesquisadas, todas ficaram mais caras no mês passado na comparação com fevereiro. De acordo com a Anefac, a taxa de juros média para pessoa jurídica apresentou uma elevação de 0,90% no mês, passando de 3,32% ao mês em fevereiro de 2014 para 3,35% ao mês março. Trata-se, também, da maior taxa de juros do segmento desde agosto de 2012.


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