A agência de classificação de risco Moody’s considera pouco provável uma mudança na nota de crédito do Brasil em 2014. Segundo a diretora associada da Moody’s para América Latina, Marianna Waltz, a condição atual, Baa2 com perspectiva estável, está adequada para o País neste momento e as atenções se voltam, agora, para o desempenho em 2015.
"É muito pouco provável que ocorra mudança no rating do Brasil em 2014", disse em evento na Amcham Brasil (Câmara Americana de Comércio). Segundo Marianna, a nota brasileira já considera uma expectativa de crescimento baixo em 2014, entre 1,5% e 2%, e relação dívida sobre o PIB "elevada" em 2014, em torno de 62%. "Esses números já estão precificados."
A Moody’s vai monitorar o que vai acontecer daqui para a frente, especialmente em 2015, "não só os números, mas muito mais o que veremos de política de governo e o ambiente que vai se construir para as contas públicas, o PIB e a inflação", afirmou Marianna. "Vamos observar a nova administração e se fará os ajustes necessários."
Ela disse ainda que a comparação com outros países com nota inferior ao Brasil também justifica a manutenção do grau Baa2. "Quando se compara o Brasil com países em Baa3, a posição é mais forte", disse. "A situação pode se deteriorar em função da situação do País, essa é a preocupação, mas hoje o Brasil tem condição melhor do que países com rating Baa3."
Risco
A Moody’s considera que há um risco de redução do fluxo de recursos para financiamento de projetos para o Brasil. Segundo Marianna, vem sendo observada uma redução dos recursos para a América Latina e o Brasil pode perder espaço para outros países da região. Segundo ela, em meio à perspectiva de redução dos estímulos monetários nos EUA, existe um novo patamar de custo de financiamento para as empresas da América Latina e os investidores estão mais seletivos.
No caso do Brasil, o País está no quarto ano consecutivo de crescimento abaixo do potencial, que a Moody’s estima ao redor de 3%. Além disso, a inflação vem limitando a capacidade de as empresas repassarem aumentos de custos. "Até 2012, as empresas - principalmente as grandes - não tiveram muitas dificuldades de repassar aumentos de custos, por exemplo, de grãos e de impostos. O espaço para isso acabou, mesmo para empresas grandes com marcas fortes", disse. "A inflação é um fator preocupante e limitante no que diz respeito à rentabilidade das companhias."
Ela também citou um sentimento negativo com relação ao Brasil, principalmente por parte dos investidores internacionais, o que se relaciona diretamente com o fluxo de capitais e o custo de financiamento. As eleições adicionam mais incerteza para este ambiente, disse.
Por fim, ela afirmou que outros países da região, como o México, com a reforma de energia, e Peru, Chile e Colômbia crescendo a taxa elevadas, podem atrair mais atenção dos investidores. "É possível que investidores optem por direcionar recursos para outros países com melhores fundamentos em detrimento do Brasil."
Marianna não vê deterioração na qualidade de crédito das empresas brasileiras. Segundo ela, o perfil de liquidez e de dívida são "bastante adequados". Marianna destacou que não há concentração de dívida no curto prazo e essa condição se manteve entre 2012 e 2013. Não houve deterioração nem mesmo entre as empresas chamada "high yield", ou seja, com maior grau de risco. Ela alertou, no entanto, que o maior risco é o financiamento dos projetos de investimentos. "Há risco grande de que as empresas não consigam funding (recursos) para todos os projetos de expansão."