Lojas de sapato, de roupas, lanchonetes e restaurantes estão comemorando. O público que invade a Savassi desde 24 de março, quando a exposição foi lançada, é o que os lojistas esperavam há dois anos, quando as obras de revitalização do local foram finalizadas. Desde a reforma na região, lojistas afirmam que o movimento caiu muito e, por conta disso, cerca de 60 deles chegaram a fechar as portas. Para tentar atrair o público, os comerciantes promoveram tardes de músicas, entre outros eventos, que não surtiram tanto sucesso quanto a exposição da baixinha dentuça, que comemora 50 anos de sua criação.
A presidente da Associação de Lojistas da Savassi, Maria Auxiliadora Teixeira de Souza, afirma que, dessa vez, eles acertaram no tipo de evento que levou famílias inteiras para a praça. Para ela, o público está conhecendo a nova cara da Savassi, vendo o que tem no local e, mesmo que ninguém compre nada e apenas tire foto com a Mônica, eles voltarão depois porque agora sabem o que o lugar oferece. “Ninguém esperava esse resultado, esse público, com uma coisa tão simples. Todo mundo vem para tirar foto e acaba comprando uma coisinha aqui e outra ali”, afirma. Ela conta que nenhuma das ações feitas anteriormente, como o Música na Savassi, movimentou tanto o comércio. “É o tipo de público que a gente esperava desde que foi feita a reforma da praça, mas que nunca havia acontecido, nem mesmo com as ações mais elaboradas que fizemos”, afirma.
Mãe da pequena Daniele, de 5, Sinara Magalhães conta que mora no Buritis, mas passa pela Savassi pelo menos uma vez por semana para levar a filha ao médico. No entanto, ela apenas entrava e saía do consultório. Ia embora sem parar na praça, sem pensar em entrar em alguma loja. Depois da reforma, ela nunca havia passado tanto tempo no local como na última semana, por conta da exposição. “Quero apresentar a arte de rua para a minha filha desde cedo. Fiz um passeio completo, passando por todas as Mônicas, e descobri lojas que eu não imaginava que existiam aqui. Além disso, almocei num restaurante, coisa que não aconteceria se não tivesse a exposição”, conta.
A SANTA No restaurante Tia Clara, o gerente Raimundo Barbosa também comemora. “Meu movimento dobrou nos dias de semana e triplicou aos sábados. Há muito tempo não víamos um público tão bom por aqui”, diz. As lojas, que antes fechavam as portas às 15h, aos sábados, estenderam o horário de funcionamento até as 20h por conta da exposição. Na loja de sapatos Divina Scarpe, no primeiro dia da mostra, foram vendidos 195 pares de sapato. O gerente do estabelecimento, Wallace Bastos, afirma que em um dia de muito movimento ele vende em torno de 70. “Nunca vi um evento com tanto movimento. Desde que passamos pela reforma, o movimento da loja caiu mais de 70%, tivemos que passar por readequações, fizemos alguns eventos, mas nenhum deles trouxe tanto público. Essa Mônica é uma santa, queria que ela ficasse por mais tempo”, comemora.
Um novo olhar de potenciais compradores
A capital mineira é a segunda cidade a receber a exposição organizada pela Panini Editora, a empresa Top Trends e a Mauricio de Sousa Produções (MSP). A mostra fica até o dia 24 deste mês e segue para outras cidades do Brasil. Segundo a organização do evento, a escolha da Savassi para a realização da intervenção levou em consideração a bagagem cultural e a possibilidade de reunir as 20 esculturas em locais muito próximos. “A ideia era realmente deixar as obras ao ar livre para que o público pudesse interagir com a personagem, tirar fotos. Não faria sentido colocar uma em cada bairro da cidade”, afirma Catherine Duvignau, sócia-diretora da Top Trends. Segundo ela, Minas é o maior consumidor dos quadrinhos da Mauricio de Sousa Produções, empresa responsável pela produção, licenças e distribuição da Mônica.
O sucesso da mostra pode ser atribuído à fama da dentuça, e também pela forma como a arte foi explorada de acordo com Catherine. Para ela, o resultado já era esperado, uma vez que os eventos de arte de rua são como catalizadores, tanto para resgatar um área que não era visitada, levando as pessoas a conhecerem uma região da cidade, quanto para trazer uma nova movimentação, com novo olhar para a região. “Sempre temos um resultado positivo. Quando a exposição passou por São Paulo no ano passado, mais de 5 milhões de pessoas visitaram as obras. É uma alegria poder contribuir com essa restauração, promover esse novo olhar. Torcemos para que esse potencial comprador continue indo à região, mesmo quando a exposição não estiver mais por lá”, completa.
Originalmente, 50 esculturas faziam parte da Mônica Parade. Graças ao sucesso da exposição em São Paulo, 30 foram leiloadas, com o valor inicial de R$ 3.500. O leilão arrecadou R$ 460 mil, dinheiro que vai ser destinado à Unicef – Fundo das Nações Unidas para a Infância, que presta serviços sociais a crianças e adolescentes. As outras 20 estátuas, que estão atualmente em BH, vão continuar percorrendo o país.