Segundo a Aneel, o cálculo do reajuste das tarifas considera os custos relacionados à compra de energia elétrica para atendimento do mercado, o valor da transmissão dessa energia e os encargos setoriais. Diante do baixo nível dos reservatórios observado em 2013, as usinas térmicas permaneceram acionadas praticamente durante todo o ano, garantindo o abastecimento do país. O custo da energia produzida pelas térmicas é mais alto do que a energia gerada pelas hidrelétricas e fazem com que as distribuidoras comprem o produto por um preço mais alto.
A conta de 2013 só chegou para o consumidor esse ano. O rateio dos custos pelo cenário que se repete agora vai chegar à conta residencial em 2015, com nova pressão na fatura. “Dois mil e quatorze vai ser mais um ano de energia cara. Terminamos o ciclo hidrológico em 15 de abril e não choveu. Os reservatórios não vão conseguir suportar o período seco e as térmicas terão que continuar ligadas”, observa Juliana Marreco, doutora em planejamento energético e professora do Ibmec em Belo Horizonte.
A especialista aponta que os reservatórios do Sudeste estão com sua capacidade em 33%, quando deveriam nesse período atingir os 60%. “As térmicas vão ficar ligadas esse ano como ficaram em 2013. Acredito que após as eleições vai haver racionamento”, afirma Juliana. Além do baixo nível dos reservatórios, ela diz que alguns sinais já apontam para a situação crítica do setor, como a indicação do Operador Nacional do Sistema (ONS) para as geradoras hidráulicas desligarem parte das turbinas no período da noite para economizar água. “O programa energético mudou. Um racionamento preventivo já poderia estar ocorrendo.”
O preço da energia crescente no mundo inteiro, o avanço do consumo e a capacidade dos reservatórios cada vez menor apontam para o encarecimento da energia. Na década de 80, o país tinha um confortável índice de reserva, pois, essa capacidade chegava a dois anos de consumo. Hoje, esse índice comparativo não atinge seis meses e, no ano que vem, a capacidade será inferior a cinco meses, conforme o ONS.
APAGÃO E INFLAÇÃO Walter Fróes, diretor geral da CMU Comercializadora de Energia, afirma que a situação do país “é dramática” e que medidas para evitar o risco até mesmo de um apagão do sistema já deveriam estar sendo tomadas. “O racionamento não está descartado e pode ocorrer a qualquer momento.” Segundo ele, as perspectivas para a hidrologia são muito ruins, com chuvas abaixo da média histórica, o que pode levar os reservatórios do Centro-Sul chegarem em novembro a 13%, e o Nordeste em 9%, quando o esperado é um percentual de pelo menos 30%. “Isso significa que em novembro, o reservatório de Três Marias poderá dramaticamente estar com sua capacidade reduzida a 3,5%. A preocupação é grande embora o governo afirme que a situação está sob controle.” Fróes explica que determinados reservatórios não podem operar abaixo de 10%.
Adotar medidas para intensificar o uso de energia solar nos domicílios e no comércio, assim como política de governo para viabilizar o uso do gás que não é uma energia intermitente, é apontado como saídas para o país fazer frente ao crescimento do consumo. “Hoje só quem é o dono do gás consegue gerar essa energia. O custo é muito alto”, diz Juliana Marreco.
Uma das medidas que o governo está adotando para adiar os reajustes para 2014, reduzindo desgastes em ano de eleição, prevê a injeção de R$ 12,4 bilhões no setor e o adiamento, para 2015, de parte do reajuste que poderia afetar as tarifas de energia neste ano. Para Tharcísio de Souza, coordenador do curso de MBA da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), a alta da energia elétrica em todo o país deve pressionar a inflação para além da meta. Ele acredita que o indicador feche o ano em 7%.
Consumo sem consciência
Pesquisa realizada no ano passado pela Proteste - Associação de Consumidores mostrou que a cada 10 brasileiros apenas três adotaram alguma atitude para reduzir o consumo de energia elétrica em suas casas na última década. Depois de ter passado pelo racionamento de 2001, os consumidores parecem não dar mais importância para o tema. Segundo o levantamento, apenas 32% tomaram alguma atitude para reduzir o consumo de energia elétrica desde 2003. Além disso, 42% disseram ter aparelhos de ar-condicionado e mais da metade deles (24%) admitiu utilizá-lo não só nos dias de calor, como também para aquecer os ambientes durante o inverno.