A insegurança energética está abalando o mercado, preocupado com a falta de garantia de abastecimento no país. Enquanto isso, o governo deixa medidas necessárias para os 45 minutos do segundo tempo, quando poderá ser tarde demais. Em abril, no derradeiro mês do período chuvoso, os reservatórios estão com 37% da capacidade, conforme dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). O ideal, dizem os especialistas, é adentrar a estação mais seca do ano, a partir de maio, com, pelo menos, 43% dos reservatórios abastecidos.
O diretor geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Romeu Rufino, minimizou o problema. Segundo ele, o clima úmido não acabou. “Está chovendo ainda. Temos alguns dias de período chuvoso pela frente e é preciso aguardar o fechamento de abril para ver a fluência, que importa mais do que a chuva, apesar de uma coisa depender da outra. Isso porque quando chove nas cabeceiras dos rios leva um tempo para a água fluir e chegar aos reservatórios”, explicou.
Rufino destacou que possíveis medidas só serão avaliadas na próxima reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), marcada para a primeira semana de maio. O diretor da Aneel afirmou, contudo, que o primeiro empréstimo bancário para cobrir os altos custos das distribuidoras por conta da falta de chuvas será de R$ 4,7 bilhões. O valor corresponde a 42% dos R$ 11,2 bilhões que devem ser captados para fazer frente ao aumento de gastos no setor elétrico este ano, reflexo da queda no nível dos reservatórios.
Os analistas do setor consideram essas medidas apenas paliativas porque não garantem a redução do consumo, apenas a elevação dos custos, já que os empréstimos das distribuidoras serão pagos pelos consumidores, com o aumento da tarifa no ano que vem. Enquanto isso, os reservatórios estão com o segundo nível mais baixo para o período, atrás apenas de 2001, ano em que houve racionamento de energia no país. O Sudeste e o Centro-Oeste correm mais riscos. Furnas, por exemplo, que representa 17,42% do abastecimento da região, opera com 28% da sua capacidade, de acordo com o ONS.
Temor
Na avaliação do presidente da Thymos Energia, João Carlos Mello, o setor está preocupado porque já passou da hora do governo tomar uma medida. Segundo ele, o governo do PT tem um problema de mencionar a palavra “racionamento” para não dar o braço a torcer. Isso porque o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a afirmar que “não haveria mais racionamento de energia no país”. Para Mello, o governo deveria pedir à população para começar a economizar energia.
O especialista disse que, ao “empurrar com a barriga”, o governo já está comprometendo o desempenho energético de 2015. “Vai queimar o estoque dos reservatórios até o final do ano e depender de muita chuva para ter energia no ano que vem. Mas parece que o interesse do governo é focar as eleições presidenciais”, lamentou. Procurado pelo Estado de Minas, o Ministério das Minas e Energia não respondeu até o fechamento desta edição.
Geração cai para atender produtores
Depois da ameaça dos integrantes da Associação de Turismo, Piscicultura e Usuários do Lago de Furnas (Aquatur) de acionar a Justiça para reaver os prejuízos causados pela liberação de água da represa para a produção energia em hidrelétricas em São Paulo, a usina passou a operar somente com duas das oito turbinas, reduzindo a vazão ao menor nível possível. Associado às chuvas dos últimos dias, o nível do reservatório subiu dois metros, apesar de permanecer ainda abaixo da marca considerada mínima. Mas as medidas, segundo a Aquatur, são insuficientes para cobrir os prejuízos, principalmente dos psicultores.
“Já surtiu efeito”, afirma o presidente da Aquatur, João Jaciel Pereira, em relação às medidas adotadas pela usina. Para atingir o nível normal será preciso prolongado período de chuvas. “Vamos torcer para o inverno ser chuvoso”, diz Jaciel.
Segundo a assessoria de imprensa do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), desde a segunda quinzena de março, teriam sido feitos desligamentos das turbinas de Furnas para economizar água dos reservatórios. Na semana passada, tal processo teria se intensificado. Segundo dado disponível no site da ONS, o funcionamento de Furnas está limitado a três turbinas. O órgão não fez nenhuma referência à pressão feita pela Aquatur, restringindo-se em dizer que os desligamentos são feitos normalmente quando há necessidade.
A reclamação da associação é que com o nível baixo das represas paulistas as comportas de Furnas estariam sendo abertas para cobrir a necessidade do Complexo de Urubupungá. Em contrapartida, o volume de Furnas caindo aceleradamente, o que comprometeria as atividades turísticas e os criatórios de peixe da região. Por esse motivo, a Aquatur encaminhou notificação à presidente da República, Dilma Rousseff, relatando o problema e pedindo solução no prazo de 30 dias.