Brasília – Os preços de alimentos, que vêm puxando a inflação para cima, colocam o Ministério da Agricultura na berlinda. Para alguns críticos, faltam medidas que garantam a oferta de produtos baratos e de qualidade. O titular da pasta, Neri Geller (PMDB), nega. “É um equívoco”, disse. Ele admite, porém, que o país corre atrás do prejuízo em termos de capacidade de armazenagem de grãos e cereais. “Temos um problema de logística”, reconheceu.
O déficit de armazenagem é estimado em 40 milhões de toneladas apenas para grãos, principalmente milho e soja. O governo planeja, em cinco anos, aumentar a capacidade total em 72 milhões de toneladas. A ampliação inclui R$ 25 bilhões em financiamento com recursos públicos, a juros de 3,5% ao ano, abaixo da inflação. Mas ninguém deve esperar resultados neste ano: os primeiros armazéns só ficarão prontos em cerca de oito meses.
Questionado, Geller disse que, pessoalmente, é contrário à possibilidade de expurgar a alta dos preços dos alimentos do índice oficial de inflação. “Mas, questões macroeconômicas são de responsabilidade do Ministério da Fazenda”, salientou. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, negou que o governo esteja pensando em mudar a metodologia de cálculo da inflação, expurgando os alimentos do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“Não sei quem tirou essa ideia, mas ela não procede. Quem faz isso são os Estados Unidos. Eles retiram alimentos e combustível do índice principal. Nós não fazemos isso e continuaremos usando os mesmos critérios”, afirmou Mantega, em entrevista coletiva após o lançamento do Portal Único de Comércio Exterior, na sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Mantega admitiu que a inflação pode ultrapassar o teto da meta oficial, de 6,5%, em meados do ano, mas terminará 2015 dentro do limite. “Tenho certeza que vamos terminar o ano dentro do limite de 6,5%”, afirmou. Ele disse que, alem do preço dos alimentos, a energia elétrica, neste ano, teve um aumento “um pouquinho maior”, por conta da estiagem. “Todo ano tem um vilão, mas o importante é que os outros preços flutuem” , argumentou.
Descompasso
Nos últimos meses, o desencontro entre oferta e demanda tem acelerado as remarcações. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de março ficou em 0,92%, e só o item alimentos teve alta de 2,06%. Alguns produtos mostraram aumento bem maior. O tomate subiu 31,72% neste ano. A batata, 17,27%. Geller afirma que a elevação é temporária. “No caso dos hortifruti, os ciclos de plantio são curtos e, em 60 dias, os preços vão cair ao patamar anterior”, apostou.
Para esses dois produtos, como outros hortifrutis, o governo não têm política de preços mínimos, que garanta a renda do produtor, nem estoques reguladores, pois é muito caro armazená-los. Geller nega, porém, de que falte apoio ao agricultor. “Há programas para irrigação, que permitem produzir mesmo no período de seca.” Na opinião do ministro, cabe ao consumidor deixar de levar os itens que estão caros em determinado momento e voltar a procurá-los apenas quando o preço baixar. “Ele tem que comprar outra coisa. Economizar um pouco.”