Ensina-se química, português e matemática. Acompanhamento escolar para os ensinos médio e fundamental. Aqui, aulas particulares. Franquia especializada em ensinar. Do professor autônomo que atende o aluno em casa a empresas premiadas na expertise de ajudar o estudante a passar de ano, o reforço escolar se tornou um negócio próspero. A rotina de aulas extracurriculares cresceu tanto que, no fim do mês, muitas famílias chegam a desembolsar o equivalente ao valor de uma nova mensalidade escolar, alcançando de R$ 700 a R$ 1 mil. O sucesso na escola e as boas notas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) têm saído cada vez mais caro.
Com preços da hora/aula entre R$ 50 e R$ 100 na capital, professores desse mercado já estão começando o ano com a agenda cheia. O comum até pouco tempo atrás era que a procura começasse a crescer a partir do segundo semestre, se intensificando no último bimestre do ano. As aulas de emergência, para ajudar naquela prova difícil, estão sendo substituídas por acompanhamento quase rotineiro. Entre pais, professores e especialistas, a opinião é de que uma combinação de fatores está empurrando os estudantes para o reforço extra. O Enem, que garante a entrada nas universidades e que há quatro anos vem ranquiando as escolas com melhores notas, provocou maior cobrança de conteúdo didático e também é apontado como pivô para o crescimento do reforço.
“As escolas passaram a cobrar mais do aluno depois do Enem. Mas existem outros fatores. A tecnologia, que é um excelente parceiro da educação, pode ser mal usada, com excessos de games, bate-papos e redes sociais, o que torna o foco do aluno no estudo mais difícil para fazer provas que cobram grande hábito de leitura. Os pais também precisam trabalhar, e já não têm tanto tempo disponível para acompanhar os deveres dos filhos”, avalia o professor de matemática Rodrigo Lannes. Há 24 anos no mercado, ele leciona nas redes pública e privada de educação e desenvolveu um método para aplicar em suas aulas de reforço, onde faz um diagnóstico das dificuldades do aluno trabalhando os conceitos deficientes.
Lannes, que é autor de livro didático de matemática, costumava encerrar o ano com cerca de 60 alunos. Até semana passada sua agenda já caminhava para 50 estudantes. “Dou atendimento de emergência para provas, mas tem crescido o número de pais que me procuram para um acompanhamento mais prolongado, durante o ano, para todas as idades. O resultado é muito bom.” O movimento aumentou tanto que, de um espaço em seu apartamento, o professor migrou para o salão de festas do prédio, e agora atende em uma sala com vagas disputadas no Bairro Sion.
Entre as famílias existe o sentimento de que a escola está cada vez mais difícil e cara. Para quem dispõe dos recursos, o professor particular funciona como espécie de salvador da pátria, ensina o conteúdo que não deu para aprender na sala. Por outro lado, o custo com aulas extras vai além do programado. A economista Karla Coelho prioriza os gastos com educação e investe no conhecimento das duas filhas – Marina, de 17 anos, e Carolina, de 12, que estudam em escolas bem pontuadas no ranking do Enem. Karla, no entanto, não esconde que a fatura pesa, e muito, no orçamento.
“Sinto que está faltando um maior preparo das escolas para lidar com o Enem. Minhas duas filhas são estudiosas. A mais velha, que está no último ano do ensino médio, raramente precisava de aula particular durante o ensino fundamental. Já a mais nova faz o reforço com frequencia. Os livros do ensino fundamental não estão adequados ao novo modelo das provas da escola.” Além de mensalidades de R$ 2,4 mil para as duas filhas, a família gasta R$ 1, 5 mil com reforço para as adolescentes. “Considero esses gastos muito pesados para a realidade do país, onde o salário mínimo é de R$ 724”, afirma Karla.
DEMANDA
Lorena Gordon, instrutora de espanhol, é mãe de Hanlie, de 12. A menina cursa a sétima série do fundamental e também frequenta o reforço, que custa entre R$ 500 e R$ 600 por mês. Lorena, que é chilena, diz que em seu país o acompanhamento extraclasse está incluído no valor da mensalidade escolar e considera que os estudantes no Brasil poderiam ter maior suporte das escolas. Para garantir o bom desempenho escolar da filha Ana Luiza, a psicanalista Flávia Galvão também gasta até R$ 900 por mês com as aulas particulares. “Sinto que a escola está apertando mais e ajudando menos.” Apesar dos gastos, ela considera que não dá para escapar das despesas ou abrir mão da boa educação.
A professora Lívia Maria Nery está no mercado há 20 anos, trabalhando sempre como professora particular de física, química e matemática. Ela sentiu que sua demanda acelerou 30% depois do Enem. “A concorrência cresceu muito. Hoje os alunos disputam com estudantes de todo o país uma vaga nas universidades.” Lívia, que conta com a agenda cheia diariamente, tem notado que o seu mercado também está mais competitivo, com muitas ofertas. “Os pais aprovam o resultado do reforço, mas reclamam dos custos, que pesam no orçamento da família.”
Com preços da hora/aula entre R$ 50 e R$ 100 na capital, professores desse mercado já estão começando o ano com a agenda cheia. O comum até pouco tempo atrás era que a procura começasse a crescer a partir do segundo semestre, se intensificando no último bimestre do ano. As aulas de emergência, para ajudar naquela prova difícil, estão sendo substituídas por acompanhamento quase rotineiro. Entre pais, professores e especialistas, a opinião é de que uma combinação de fatores está empurrando os estudantes para o reforço extra. O Enem, que garante a entrada nas universidades e que há quatro anos vem ranquiando as escolas com melhores notas, provocou maior cobrança de conteúdo didático e também é apontado como pivô para o crescimento do reforço.
“As escolas passaram a cobrar mais do aluno depois do Enem. Mas existem outros fatores. A tecnologia, que é um excelente parceiro da educação, pode ser mal usada, com excessos de games, bate-papos e redes sociais, o que torna o foco do aluno no estudo mais difícil para fazer provas que cobram grande hábito de leitura. Os pais também precisam trabalhar, e já não têm tanto tempo disponível para acompanhar os deveres dos filhos”, avalia o professor de matemática Rodrigo Lannes. Há 24 anos no mercado, ele leciona nas redes pública e privada de educação e desenvolveu um método para aplicar em suas aulas de reforço, onde faz um diagnóstico das dificuldades do aluno trabalhando os conceitos deficientes.
Lannes, que é autor de livro didático de matemática, costumava encerrar o ano com cerca de 60 alunos. Até semana passada sua agenda já caminhava para 50 estudantes. “Dou atendimento de emergência para provas, mas tem crescido o número de pais que me procuram para um acompanhamento mais prolongado, durante o ano, para todas as idades. O resultado é muito bom.” O movimento aumentou tanto que, de um espaço em seu apartamento, o professor migrou para o salão de festas do prédio, e agora atende em uma sala com vagas disputadas no Bairro Sion.
Entre as famílias existe o sentimento de que a escola está cada vez mais difícil e cara. Para quem dispõe dos recursos, o professor particular funciona como espécie de salvador da pátria, ensina o conteúdo que não deu para aprender na sala. Por outro lado, o custo com aulas extras vai além do programado. A economista Karla Coelho prioriza os gastos com educação e investe no conhecimento das duas filhas – Marina, de 17 anos, e Carolina, de 12, que estudam em escolas bem pontuadas no ranking do Enem. Karla, no entanto, não esconde que a fatura pesa, e muito, no orçamento.
“Sinto que está faltando um maior preparo das escolas para lidar com o Enem. Minhas duas filhas são estudiosas. A mais velha, que está no último ano do ensino médio, raramente precisava de aula particular durante o ensino fundamental. Já a mais nova faz o reforço com frequencia. Os livros do ensino fundamental não estão adequados ao novo modelo das provas da escola.” Além de mensalidades de R$ 2,4 mil para as duas filhas, a família gasta R$ 1, 5 mil com reforço para as adolescentes. “Considero esses gastos muito pesados para a realidade do país, onde o salário mínimo é de R$ 724”, afirma Karla.
DEMANDA
Lorena Gordon, instrutora de espanhol, é mãe de Hanlie, de 12. A menina cursa a sétima série do fundamental e também frequenta o reforço, que custa entre R$ 500 e R$ 600 por mês. Lorena, que é chilena, diz que em seu país o acompanhamento extraclasse está incluído no valor da mensalidade escolar e considera que os estudantes no Brasil poderiam ter maior suporte das escolas. Para garantir o bom desempenho escolar da filha Ana Luiza, a psicanalista Flávia Galvão também gasta até R$ 900 por mês com as aulas particulares. “Sinto que a escola está apertando mais e ajudando menos.” Apesar dos gastos, ela considera que não dá para escapar das despesas ou abrir mão da boa educação.
A professora Lívia Maria Nery está no mercado há 20 anos, trabalhando sempre como professora particular de física, química e matemática. Ela sentiu que sua demanda acelerou 30% depois do Enem. “A concorrência cresceu muito. Hoje os alunos disputam com estudantes de todo o país uma vaga nas universidades.” Lívia, que conta com a agenda cheia diariamente, tem notado que o seu mercado também está mais competitivo, com muitas ofertas. “Os pais aprovam o resultado do reforço, mas reclamam dos custos, que pesam no orçamento da família.”