Bárbara Fonseca
Especial para o EM
Capitólio, Carmo do Rio Claro e Alfenas – Em vez de água, mato. Quem chega à Pousada do Porto, em Alfenas, Sul de Minas, a 350 quilômetros de Belo Horizonte, estranha a extensão verde que há abaixo do deque instalado nos fundos do empreendimento. Há três anos, as águas do Lago de Furnas não alcançam a construção de madeira erguida para ser um atrativo para os hóspedes, principalmente os adeptos da pescaria.
Neste ano a situação se agravou e é praticamente impossível enxergar um filete de água ao longo dos três quilômetros que separam a pousada da outra margem do lago. Alfenas é uma das 34 cidades banhadas pela represa de Furnas, que abrange municípios das regiões Sul, Centro-Oeste e Sudoeste do estado. Mesmo com as chuvas dos últimos dias, o reservatório está com 28,76% de sua capacidade.
Segundo Paula Vieira Barbosa, proprietária da Pousada do Porto, o empreendimento tem buscado alternativas para atrair os hóspedes. “Reduzimos o valor das diárias em 15% e temos levado os turistas para pescar no Rio Machado, que é próximo. Ainda assim, muita gente chega, vê a situação da represa e vai embora. Até colocamos um aviso em nosso site para que o pessoal chegue preparado.” No feriado da semana santa, época em que, segundo ela, a taxa de ocupação seria de 100%, o registro foi de 70% para os 52 apartamentos.
Em Carmo do Rio Claro, a 362 quilômetros de BH, o empresário Carlos Alberto Ferreira Moisés, dono da Pousada Pontal do Lago, também reclama de prejuízos gerados pela baixa do reservatório. Há um ano, o barco destinado a fazer passeios turísticos pela região está encalhado no pântano em que se transformou a área da represa. “Quando o hóspede quer fazer alguma atividade, tenho que mandá-lo para Capitólio, porque aqui não tem água. A gente acaba perdendo.”
Peixes mortos
Com nove anos de dedicação à pesca e à piscicultura na represa de Furnas, a família de José Maria Novaes, de Alfenas, também enfrenta desafios. No ano passado, eles tiveram que deslocar os 150 tanques destinados à produção, cada um com cerca de 900 peixes, porque o nível da água estava descendo rapidamente. Ainda assim foi impossível evitar a perda de cerca de 30 mil quilos de peixe registrada no começo de 2014. “Foram quase 1 mil quilos por dia. A temperatura da água subiu muito e não teve como controlar”, conta. A solução foi transferir os tanques para uma área mais funda, localizada a 600 metros da casa da família. “Tive que construir um rancho para poder vigiar as gaiolas, senão há perigo de roubo. Antes bastava olhar daqui de casa.”
A piscicultora Magda Esteves Rocha, também de Alfenas, teve prejuízo de R$ 240 mil por causa da seca. Com a baixa da represa, em outubro de 2013, ela e o marido decidiram deslocar os 39 tanques para um açude localizado em uma propriedade da família, antes que a água desaparecesse por completo. Os esforços, contudo, não impediram a morte de 40 mil peixes. “Veio uma chuva repentina que contaminou a água. Faltou oxigenação, por isso os peixes morreram.” Segundo seu marido, Tapir de Carvalho Lopes, o restaurante da família, que tem vista para a represa – hoje para uma grande faixa de terra e mato – também tem tido prejuízos. “O turista vem para cá para ver a água. Quando chega e vê a represa desse jeito, acaba indo embora.”
Em Capitólio, no Centro-Oeste, a 276 quilômetros da capital, o piscicultor Walter Amaral de Jesus está receoso em investir na produção. “No momento não tenho nenhum alevino (filhote de peixe) porque não sei como vai ficar daqui pra frente. Por enquanto temos mantido a produção movendo os tanques para áreas mais fundas.” Atualmente, seus 75 tanques estão a 600 metros da área de embarcação, o que dificulta a manutenção. “Para alimentar os peixes tem sido uma dificuldade. Além disso, não tem como a gente ficar perto para saber se está tudo certo.”