Carolina Mansur
Um ambiente de trabalho descontraído contribui para melhorar a qualidade de vida do empregado e os resultados das empresas. É com essa crença que o mundo dos negócios – e não só daqueles com foco em tecnologia – tem adotado escritórios com projetos arrojados, que contemplam espaços de relaxamento para os trabalhadores, ou atividades fora da rotina diária. As mudanças ajudam a elevar a produtividade de 30% a 50%, segundo relato de empresários ouvidos pelo Estado de Minas. O ambiente de trabalho considerado satisfatório foi apontado como a terceira maior preocupação dos funcionários (21%), depois de benefícios sociais (22%) e de bons salários (62%), segundo pesquisa realizada pela Sociedade Americana de Designers de Interiores (American Society Interior Designers).
Por meio de um projeto colaborativo que envolveu toda a equipe, a agência de comunicação Plan B repaginou o escritório. O espaço passou a contar com espaço pet, lounge para descanso, cozinha, minirrampa de skate e chuveiros para quem vai para o trabalho de bicicleta. Daniel Negreiros, diretor de planejamento e criação da empresa, conta que a obra se estendeu por cinco meses e custou cerca de
R$ 400 mil. Os próprios empregados deram ideias para planejar o ambiente e colocaram a mão na massa, envolvimento que agora os faz se sentirem um pouco “donos do negócio”. “Das frases escritas na parede aos tambores e tipografia usada na decoração do espaço, tudo foi pensado por eles”, observa o diretor, que lembra a ausência de hierarquia no espaço, já que não existem salas separadas para diretores. “Queremos estar disponíveis para a equipe”, afirma.
Desde a inauguração em dezembro, o melhor ganho foi no clima de relacionamento no trabalho, que já é estimulado por uma maior flexibilidade nos horários de trabalho, e pela ausência de regras comuns às empresas que mantêm ambientes mais formais. “Além de valorizar o capital humano, queríamos um local identificado com o nosso trabalho e hoje vemos as pessoas abraçarem mais o negócio do que antes”, diz Daniel Negreiros. “As pessoas ficaram mais motivadas e percebemos que isso ainda está vivo e que elas estão orgulhosas de trabalhar neste espaço”, acrescenta. Outra mudança, de acordo com Negreiros, foi a troca de conhecimento. São oferecidas palestras e workshops para o aperfeiçoamento profissional do grupo num ambiente favorável para essa política, diz.
Eduardo Ramalho, franqueado da Chilli Beans, administra uma equipe de 22 pessoas no escritório, diversas lojas em Minas Gerais e no Espírito Santo, e investiu em um espaço semelhante. A sede conta com piscina, onde os funcionários podem se refrescar no horário de almoço, mesa de bilhar e redes para descanso. A proposta, segundo Ramalho, é dar qualidade de vida aos colaboradores. “Nosso nível de retenção é alto e as pessoas querem ascender dentro da empresa”, comemora. “As pessoas ficam mais à vontade e naturalmente estendem o horário de trabalho quando é necessário. Elas têm mais flexibilidade.”A produtividade na empresa cresceu entre 30% e 50% em relação ao indicador medido no antigo escritório.
Noele Rodrigues, que faz carreira numa empresa varejista de óculos e acessórios, passou de vendedora a assessora comercial em quatro anos e planeja chegar ao cargo de gerente comercial em breve. “Minha intenção é fazer um curso de tecnólogo em gestão comercial e crescer na empresa, agregando mais conhecimento ao meu trabalho”, afirma. Entre os motivos para criar raízes na empresa ela destaca a liberdade que tem para se comunicar, vestir e trabalhar. Mas garante que há prazos, metas e regras a serem cumpridos, e que são respeitados por toda a equipe. “Tenho que ter um bom motivo para sair de casa e trabalhar e aqui rendo mais e mesmo trabalhando no mesmo ambiente dos diretores não me sinto pressionada por eles”, comenta.
Descontração na medida certa
Na empresa de treinamento de pessoal Ação Gerencial, do grupo Selpe, de Belo Horizonte, a equipe de 15 funcionários experimenta a descontração de forma diferente. Um acordo de convivência e programas desenvolvidos com a participação da equipe favorecem o clima organizacional. Entre as mudanças estabelecidas estão o dia de salada de frutas comunitária, quando cada empregado contribui com uma fruta e ajuda no preparo da sobremesa, e exibição de sessões do Cineminha AG. Os filmes exibidos abordam temáticas voltadas para o desenvolvimento dos funcionários.
Outro projeto, com edição mensal, é o chamado pílula do conhecimento. A cada mês, um dos trabalhadores propõe um tema para discussão entre todos os colegas. Para aqueles que precisam sair mais cedo na sexta-feira, há, ainda, uma flexibilidade de horário permitida pela empresa. “Tudo que afeta a vida pessoal provoca mais interesse nos colaboradores que criam raízes na empresa”, explica a diretora Luciana Ferraz.
No entanto, ela lembra que a opção por um ambiente informal deve estar sempre alinhada ao negócio. Para aquelas organizações mais formais e engessadas devido às legislações, normas e o próprio público consumidor do serviço ou produto, a orientação de Luciana é implementar uma cultura mais participativa junto aos empregados, assim como ocorre na Ação Gerencial. “As pessoas definem as regras mais apropriadas para aquele ambiente e, como resultado, ficam mais engajadas e envolvidas com o trabalho e o processo porque estão ajudando a construir algo . Elas ficam também mais à vontade naquele ambiente no qual opinaram”, avalia.
A mestre em linguística Rafaela Lôbo, consultora da Scriptus, destaca a preferência por ambientes mais leves e favoráveis ao uso de roupas e linguagem informais, principalmente nas empresas de serviços e outras ligadas a atividades que têm a criatividade como fator marcante do negócio. Trata-se, no entanto, de uma proposta inviável para ambientes mais formais, como os da indústria, que vende produtos e precisa se ater ao processo produtivo.
Naqueles casos em que o projeto de um ambiente mais informal se aplica, Rafaela pondera que é preciso delimitar também qual é o retorno esperado pela empresa. “Assim como é importante investir em capital humano, é essencial determinar os limites. O empregador tem de conversar com os funcionários para que eles saibam o que é esperado como retorno”, diz. Entre os cuidados a serem tomados pelas empresas que apostam nesse tipo de ação, ela recomenda o monitoramento da produtividade após as mudanças.