Brasília – Apesar de a equipe econômica da presidente Dilma Rousseff estar com o discurso afinado de que as razões do baixo crescimento do Brasil são problemas externos e não internos, a realidade não vem confirmando essa teoria. O fraco ritmo de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) nos últimos anos e o previsto daqui para frente pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) vai condenar o país a ficar entre os latino-americanos que mais perdem participação do volume de riquezas gerado em todo o planeta. Enquanto isso, boa parte dos países vizinhos vem conquistando uma fatia cada vez maior do bolo mundial, revela um levantamento feito pelo economista e consultor Roberto Luis Troster.
Conforme os dados apurados pelo ex-economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) junto ao banco de dados do FMI, o Brasil é o terceiro país da América Latina que terá a maior redução de sua fatia no PIB global em termos percentuais, passando de 2,786% para 2,653% de 2013 até 2019. Com esse resultado, a queda será de 4,7% no período, dado que só ficará atrás da Argentina e da Venezuela, cujos tombos no mesmo período serão maiores: de 12,3% e 17,9%, respectivamente, em função da recessão que deverá bater nesses dois países a partir deste ano e das políticas equivocadas de seus respectivos governantes. Equador e Uruguai integram a lista dos cinco países que perderão espaço no estudo de Troster. Os demais da região avançam. “Em valor, no entanto, o Brasil terá a economia que mais perderá entre os vizinhos da América Latina: 0,133 ponto percentual do PIB global”, destacou o economista. Esse valor é praticamente a metade da fatia de 0,256 ponto percentual que toda a região ganhará entre 2013 e 2019.
As perdas de participação do Brasil no PIB global poderiam ser maiores. Isso porque os dados do FMI são otimistas, pois a instituição prevê expansão de 1,8% na economia brasileira este ano, metade da velocidade de avanço do resto do mundo: 3,6%. Enquanto isso, as projeções do mercado são mais pessimistas. As estimativas do Relatório Focus, do Banco Central, apontam alta de 1,63% para o PIB neste ano, o que representaria uma perda de participação do Brasil ainda maior.
Um levantamento feito pelo economista-chefe da Austin Ratings, Alex Agostini, indica que o Brasil deverá perder a sétima posição do ranking das 10 maiores economias globais em 2018, dando lugar à Índia, que atualmente se encontra na 10ª posição. “A Índia é o país que mais deverá subir posições no ranking até 2019, superando Brasil, Itália e Rússia. Entre os desenvolvidos, a única mudança deverá ocorrer com o Reino Unido que vai superar a França em 2016 para ocupar a quinta posição”, afirmou. Ele destaca que as 10 maiores economias do planeta representam 65% do PIB mundial, estimado em US$ 76,8 trilhões neste ano, podendo chegar a US$ 100,8 trilhões em 2019.
Vizinhos melhores
De acordo com o levantamento de Troster, o Peru é o país que mais registrará o maior avanço, em termos percentuais. Sua participação no PIB global deverá dar um saldo de 12%, passando de 0,396% para 0,444%. Paraguai, por exemplo, terá sua fatia ampliada em 5,6%, e o Chile, em 2,8%. “Isso mostra que as políticas brasileiras não são tão boas como as dos demais países que estão crescendo mais. Elas são menos eficientes. Por isso, não adianta culpar o resto do mundo pelo fraco desempenho porque o problema é interno”, destacou Troster. A mesma opinião é compartilhada pelo economista Clodoir Vieira, consultor da Compliance Comunicação. “Apesar do crescimento do PIB nos anos anteriores ao governo Dilma, o Brasil vem há tempos figurando a rabeira do crescimento global. Isso é resultado da falta de uma política de longo prazo definida para o crescimento do país, que não é possível ver nas gestões petistas”, criticou.
Na avaliação de Vieira, da Compliance, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do qual Dilma é denominada como a “mãe”, virou uma obra de ficção porque não conseguiu tirar a maioria das obras do papel e, com isso, não ampliou os investimentos no país como ela prometia. A taxa de investimento total no Brasil em relação ao PIB, era de 20,3%, em 2010. E ao invés de aumentar, hoje patina em torno de 18% e dificilmente deverá avançar devido às elevadas taxas de juros atuais, ficando muito longe dos 25% prometidos pela presidente no início de seu mandato.
“O investidor precisa de garantias de que o governo não vai intervir nos modelos para que ele possa aplicar seu capital no país. O empresário está sem perspectiva porque não existe uma política de longo prazo. O PAC e o programa de concessão em infraestrutura são medidas pontuais. O empresário que vai investir no setor elétrico, por exemplo, e vê que uma medida provisória pode mudar toda a rentabilidade que ele planeja para o futuro fica com medo”, explicou Vieira. “Os juros altos de hoje inibem ainda mais os projetos de concessão em infraestrutura porque uma aplicação está rendendo mais do que a taxa de retorno prevista nos projetos”, emendou.
O economista e professor da Fundação Getulio Vargas, Ernesto Lozardo, também concorda que os juros atuais são proibitivos para qualquer programa de concessão, que poderia ajudar o Brasil a recuperar o crescimento. “O país só voltará a crescer se houver aumento do investimento. Mas para isso é preciso controlar a inflação primeiro para que os juros caiam e as taxas de retorno dos projetos voltem a ser competitivas. Na atual conjuntura, isso é impossível”, explicou. Pelas contas do economista, os investimentos do setor privado já programados e os previstos na área de infraestrutura e logística ajudariam o PIB do país a crescer acima de 3,5% até 2020. “Com isso, a taxa de investimento em relação ao PIB aumentaria dos atuais 18% para 20,5% e somente chegaria em 25% em 2024”, disse.