Brasília – Os reajustes nas contas de luz em percentuais acima da média dos últimos anos chegaram ontem a mais 1,5 milhão de consumidores. Desde janeiro, o total de afetados pela escalada nos preços da eletricidade já soma 32 milhões, e essa onda mal começou. Das 64 distribuidoras com reajustes anuais programados, só 22 já tiveram aumentos. Outros 42 estão por vir. Na média, os reajustes alcançam a marca de 20%, zerando o desconto que o governo anunciou em 2012, quando começou a intervir no setor, provocando um caos energético que vai empurrar para 2015 um cenário ainda pior, já que os reservatórios estão em baixa e as medidas paliativas tomadas serão pagas pelos consumidores.
Ontem, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou reajustes de até 21% para a tarifa de luz de quatro distribuidoras de energia que atendem cidades do interior de São Paulo, além do Sul de Minas – Vale do Paranapanema, Companhia Nacional de Energia Elétrica (CNEE), Caiuá e Bragantina. A Aneel também autorizou o aumento das tarifas da Empresa Energética do Mato Grosso do Sul (Enersul).
O reajuste médio de 20% vai atingir as contas de luz de clientes da Vale do Paranapanema, distribuidora que atende 27 municípios do Média Sorocabana e Alta Paulista. Para a baixa tensão (residências), o aumento será de 18,98%. Já para a alta tensão (indústria), será de 21,31%. Para a Bragantina, concessionária responsável pelo atendimento em cinco municípios de São Paulo e outros 10 localizados no Sul de Minas, o reajuste médio será de 14,78%, sendo 14,98% para residências e 14,43% para a indústria.
O diretor geral da Aneel, Romeu Rufino, disse ontem que vários reajustes estão programados. "Temos aumentos até o fim do ano, mas cada um é diferente. Na Enersul foi de 9,40%, mas tem alguns próximos de 20%. Depende muito do tipo de contratação de cada distribuidora, se ela está mais ou menos exposta", explicou. Rufino destacou, no entanto, que a exposição das companhias foi reduzida.
Racionamento
Para pagar os estragos que a falta de chuvas e a intervenção do governo no setor causaram aos caixas das distribuidoras, uma manobra paliativa permitiu que um consórcio de 10 bancos fizesse um empréstimo de R$ 11,2 bilhões às empresas. A primeira fatura, de R$ 4,7 bilhões, já foi contratada. Ontem, a agência reguladora fixou em R$ 3,285 bilhões o valor da segunda parcela do empréstimo obtido pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) em nome das distribuidoras de energia elétrica para cobrir custos dessas empresas decorrentes da exposição involuntária no mercado de curto prazo e do uso de energia térmica. Os recursos serão repassados às concessionárias até 12 de maio. A expectativa é de que a terceira e última parcela seja liberada até 9 de junho.
Hoje, o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) se reúne para avaliar o cenário atual de armazenamento do país. Conforme Rufino, não será prudente desativar as térmicas. "Mesmo assim, acho que nenhuma medida de racionamento está em cogitação". O secretário-executivo do Ministério das Minas e Energia, Márcio Zimmermann, também descartou o racionamento. "O risco de um déficit de energia no país em 2014 é seis vezes menor do que em 2001. A diferença de um período para o outro é da água para o vinho", ressaltou.