Em 14 de junho, logo depois de a seleção da Grécia entrar em campo no estádio do Mineirão para enfrentar a Colômbia, a promotora cultural Cláudia Couto vai pisar no tapete vermelho para se casar com o engenheiro ambiental Marcos Mol. Depois de analisar com cuidado e precisão a tabela do Mundial, Cláudia decidiu não recuar na data escolhida para o grande dia. Ela vai se casar em plena Copa do Mundo e não se arrepende. Para sua surpresa, conseguiu um desconto que não era esperado e uma boa oferta de fornecedores, que estavam com a agenda vazia. Da mesma forma, no dia 28 de junho, quando as oitavas de final forem disputadas em Belo Horizonte, a professora Leidiane de Oliveira se casa com o analista de sistemas Rafael Rodrigues. “Não imaginava que as oitavas da Copa seriam no dia do meu casamento. Mas não me arrependo da data, tive facilidade em encontrar fornecedores, do salão de festas à fotografia.”
O efeito Copa esvaziou os salões da capital, reduzindo a demanda de fornecedores em até 60%. Isso porque, no caminho contrário de Cláudia e Leidiane, dezenas de noivas e aniversariantes, quando conferiram as datas dos jogos, adiaram a festa. Quem, na última hora, decidir comemorar eventos em junho ou julho vai encontrar cenário favorável, com maior disponibilidade dos prestadores de serviços, margens para negociação e descontos que podem variar de 5% a 50%, além de brindes extras. As promoções do mês valem também para as festas infantis, onde algumas casas especializadas anunciam promoções e descontos durante o mundial.
“Escolhi organizar o casamento, cerimônia e festa, em um salão no Bairro Jardim Canadá, bem longe da Pampulha. Tive um bom desconto, de 50%”, diz Cláudia. Segundo ela, a época também favoreceu a oferta de fornecedores. “Todos que procurei tinham disponibilidade para me atender.” Considerando que, na capital, o aluguel de um salão de festas varia entre R$ 6 mil e R$ 20 mil, a economia pode pagar boa parte de outros custos do grande evento, como a lua de mel.
À frente da tradicional Loja das Festas (LF), Denise Bittencourt, assistente da empresa, calcula que a demanda de clientes de grandes eventos foi reduzida pela metade durante a Copa. A expectativa é que ocorra crescimento na outra ponta, a dos eventos menores, particulares e corporativos. Diante do panorama para o mês, a loja, que trabalha com locação completa para festas, de mobiliário a talheres e pratarias, está operando durante a Copa com sua tabela para baixa temporada, com descontos que variam entre 5% e 20%, dependendo do porte da festa.
Henrique Feitosa proprietário dos buffets Tia Clara e Meu Bufê, explica que houve um rearranjo de datas. “A primeira quinzena de julho, que sempre foi aquecida, se tornou baixa temporada, devido à Copa. Em compensação, estamos com demanda maior na segunda quinzena do mês e também em agosto.” A despeito da procura menor, a empresa vai realizar formaturas, eventos corporativos e casamento durante o Mundial. Segundo Feitosa, quem está programando festas de maior porte de última hora poderá se beneficiar com descontos que podem atingir até 10%, “o que é muito para o setor.” Ele diz que, com maior ociosidade, a estrutura da empresa pode absorver toda a demanda do cliente, sem necessidade, por exemplo, de terceirizar serviços, o que reduz os custos.
Desistências
Até a agenda da igreja, que conta com longa lista de espera, ficou mais tranquila. Leidiane conseguiu agendar seu casamento na tradicional igreja de Lourdes após desistência de duas outras noivas. Segundo ela, com a data no meio da Copa do Mundo foi fácil encontrar a agenda de buffets e salões de festa vazia. Em época de baixa temporada, ela conseguiu cumprir o orçamento planejado. “Não tive qualquer dificuldade em encontrar fornecedores. Foi tudo muito tranquilo e meus convidados estão dizendo que vão comparecer com a camisa do Brasil.” Já os hotéis, segundo a noive, estavam mais caros que o normal, e por isso ela modificou a rota da noite de núpcias. “Depois do casamento, vamos para a casa nova”, explicou. Leidiane desconfia que as noivas que fecharam serviços na última hora, conseguiram orçamentos melhores. “Os preços caíram na reta final.”
Dos buffets aos decoradores, a queda na procura é sentida de forma generalizada. A fotógrafa Renata Mey, que há sete anos está no mercado, considera que esse é o junho de menor movimento em sua agenda. Ela conta que é costume de seu estúdio, na baixa temporada, oferecer alguns brindes e descontos que podem variar entre 10% e 15%. “Com a agenda tranquila, também é possível ajustar melhor o desejo do cliente com sua capacidade de pagamento.” Uma das promoções que Renata Mey oferece são os “books” de fim de semana, onde o cliente ganha sessão de fotos gravada para que ele mesmo possa imprimir.
Jussara Couto, proprietária do cerimonial Vernier, diz que a demanda caiu na temporada do Mundial e, na sua opinião, quem persistiu optou por facilitar a logística. “As festas que vamos fazer durante a Copa do Mundo serão realizadas em um único local, casamento e recepção, facilitando o deslocamento.” Flávio de Assis Vieira, presidente da Associação dos Produtores de Flores de Minas Gerais, projeta uma demanda 30% menor em junho, apesar do Dia dos Namorados, que aquece o mercado de flores. “A agenda de casamentos e formaturas em junho desse ano está 60% menor em relação ao ano passado. As festas são elaboradas e caras também. Por isso as pessoas não querem correr o risco de ter problemas com o trânsito, por exemplo”, avalia Juliana Couto Martins, arquiteta da empresa de decorações Verde Musgo.
Pesquisa mostra alta de preços
Descontos são sempre bem-vindos em época de alta de preços. Casar em Belo Horizonte ficou, em média, 16,11% mais caro nos últimos 12 meses. A inflação de serviços tradicionais, como o aluguel de salão de festas, buffet, decoração e cobertura fotográfica, ficou bem acima da inflação acumulada em um ano, segundo levantamento do site Mercado Mineiro, que comparou preços na primeira semana de maio em relação ao mesmo período do ano passado. Enquanto o casamento ficou mais de 16% mais caro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA/BH) calculado pela Fundação Ipead /UFMG para os últimos 12 meses, fechou em 6,46% em abril.
Carros-chefes da festa, como os bufês, registraram alta de 28,25% na primeira semana de maio desse ano comparado com o mesmo período do ano passado. Outros serviços também puxaram a aceleração do custo da festa, e o campeão foi o DJ. A som da festa com o profissional ficou 158% mais caro em um ano. No período, a decoração da igreja também acelerou 25%, o aluguel do carro 24%, a decoração do salão de festa 22% e a cobertura fotográfica, 17,6%. O aluguel do vestido de noiva encareceu 8,5%. Alguns itens ficaram mais baratos, como a iluminação da pista com fumaça, que registrou no período baixa de 56,3%. O aluguel de telões também ficou 33,6% mais barato.
Promoções para adultos e crianças
As promoções chegam também aos buffets infantis, que, no período da Copa, querem atrair crianças e adultos. No Macaco Disse, onde as festas para 100 pessoas variam entre R$ 6,2 mil a R$ 7,9 mil, o proprietário, José Oswaldo Moraes, conta que terá TV para que os jogos possam ser assistidos durante as festas. O buffet também está trabalhando com a tabela de férias, que é a baixa temporada e, por isso, diz que a forma de pagamento pode ser flexibilizada, com maior prazo para as famílias. Outro atrativo que já está em estudo é a cerveja livre, sem cobrança do que for consumido pelos adultos.
Hildemano Amorim, proprietário do buffet Raja Boom, calcula que a demanda é cerca de 30% menor para essa temporada e que, por isso, ele está preparando a casa com telões para que os jogos possam ser assistidos nas festas. O empresário também está promovendo eventos para atrair os adultos. “A intenção é que pais e filhos saiam juntos. No segundo andar da casa, temos um ambiente para adultos , enquanto as crianças se divertem com monitores no andar de baixo”, aponta. Hildemano conta que seu calendários de eventos alternativos foram montados para enfrentar a baixa demanda e que, durante os jogos da Copa, as festas infantis podem ganhar descontos de até 20% em relação à tabela comum.
Portas fechadas
A Copa do Mundo também mexeu com a agenda das empresas. No buffet Marshmallow a proprietária Alessandra Metzger aponta que sua estratégia foi suspender os eventos nas datas específicas de jogos do Brasil. “Não vamos funcionar nesses dias. É muito difícil conseguir mão de obra”, afirma.
Para Claúdia Couto, a noiva que se casa em 14 de junho, quem optou por fazer um grande evento junto com a Copa do Mundo, no entanto, encontrou preços mais altos no setor de hospedagem e passagens. “O que ficou mais caro foram os hotéis para os convidados. Muitos só liberaram recentemente a disponibilidade e o valor. ” Para fugir de possíveis tumultos nos aeroportos e do preço das viagens internacionais, Cláudia conta que mudou a rota da sua lua de mel. “A viagem seria para a Grécia, mas o destino estava muito caro para a época. Deixamos esse projeto para mais tarde e agora vamos viajar de carro pelo Sul do país”, conta.