Copa movimenta procura por bolas e comércio comemora alta de 20% nas vendas

Belo Horizonte e São Paulo – Quinhentos e oitenta e três quilômetros separam a Rua dos Caetés, uma das vias mais tradicionais do Centro de Belo Horizonte e que abriga várias lojas de artigos esportivos, da 25 de Março, o famoso corredor da área Central de São Paulo, cuja fama de mercadorias vendidas a preços baixos já ultrapassou as fronteiras do Brasil. Tanto lá quanto cá, os comerciantes comemoram a chegada da Copa do Mundo com bons lucros assegurados pelas bolas de futebol. Esse é o tema da terceira reportagem da série “O Negócio da Bola”, que o Estado de Minas publica desde domingo.

Cláudio Costa, por exemplo, mostra o quanto as redondas engordam o faturamento de sua empresa, a Styllus, que funciona no início da Rua dos Caetés: “Compro essa bola de um distribuidor por R$ 11. A negocio por R$ 19,90. Dá um lucro considerável (80,9%). Minha expectativa é que os negócios cresçam, com a chegada da Copa, em torno de 50%. O lucro só não é maior porque não tenho como comprar do distribuidor em maior quantidade, o que iria baixar ainda mais o preço para mim. Se eu tivesse mais capital, teria como barganhar”.

Para melhorar, destaca ele, a maioria da clientela faz o pagamento à vista. Cláudio negocia pelotas feitas na China, onde a Adidas monta a Brazuca, a bola oficial da Copa. As redondas feitas pela multinacional alemã podem ser encontradas em todas as capitais do Brasil. A Adidas não revela qual a expectativa de vendas da Brazuca em todo o globo, mas, em dezembro, durante o evento de apresentação da redonda, a empresa informou que o volume será pelo menos 10% maior que o da Jabulani, a bola oficial usada na Copa do Mundo da África do Sul e cujas saídas giraram em torno de 3 milhões de unidades.

A Brazuca já faz sucesso em várias lojas mineiras. Cerca de 200 unidades foram negociadas na unidade da Esporte Ponto Com da Caetés, onde Daniel Fajardo Nemer Adou-Chalita ganha a vida como gerente. “Já estamos no terceiro lote. No primeiro trimestre, as vendas de bolas de todas as marcas subiram 30%”, calcula o rapaz. Apenas a título de curiosidade, o preço sugerido para a bola oficial é de R$ 399. Há outras versões, como a top replique, que é feita sem costuras, e cujo preço sugerido no mercado da capital mineira é de R$ 99.

Perto da Esporte Ponto Com funciona a Esquinão dos Esportes, uma das principais lojas do Shopping Uai. A gerente de lá, Manuela Pereira Veloso, também destaca que as vendas subiram dois dígitos em razão da proximidade da competição. “Notamos um aumento de 25% em relação à média dos outros meses. Vendemos bolas nacionais e importadas”, disse a gerente, enquanto destacava o colorido das pelotas. As cores fortes se contrastam com as bolas das copas anteriores, sobretudo as da primeira metade do século passado, feitas de couro de animais sem pintura.

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A Adidas, aliás, se espelhou nas coloridas fitas do Senhor do Bonfim para fabricar as Brazucas. Quem quiser comprar bola oficial da Copa do Mundo também pode ir à 25 de Março, na Região Central de São Paulo. No Lojão dos Esportes, ela sai por R$ 82 (a versão mais barata). O gerente Marcelo Macena informa que adquiriu 7 mil unidades, o dobro das encomendas feitas na época da competição na Copa da África do Sul. A saída tem sido muito boa e ele revela um dos motivos. “Não sei como, mas eles conseguiram evitar que os chineses falsificassem a Brazuca. Em 2010, na mesma época, a 25 estava inundada de Jabulanis falsas”, explica.

Se existissem Brazucas falsas, custariam cerca de R$ 24. Como, por enquanto, não há, os comerciantes comemoram a alta procura pelo produto oficial. Outro fato interessante citado por Marcelo é a mudança no perfil das bolas compradas em São Paulo. “Antes, vendiam-se muito as bolas para o terrão, que quicam mais pela característica do campo”, explica. O terrão costumava ser a glória da várzea paulistana. “Mas os terrões da Zona Leste, como o do Corínthians, acabaram. Hoje, só se procura bola para o Society". São os novos tempos, padrão Fifa-Itaquerão.

Olho no lance!

São Paulo – Os logradouros que cortam a famosa 25 de Março, no centro da metrópole paulistana, são todos de nomes libaneses e armênios: Rua Comendador Afonso Kherlakian, Rua Cavalheiro Basílio Jafet, Praça Ragueb Chonfi. É para não deixar dúvidas: o comércio ali é a “lei”. E, se jogadores como Jô, Victor e o zagueiro Henrique vibraram com a convocatória da seleção brasileira, o mesmo aconteceu naquela região. “Desde que o Felipão soltou a lista, o povo começou a comprar feito doido ", comemora o libanês Pierre Sfeir, que mora há 40 anos no Brasil, mas preserva um simpático sotaque. Sua loja, a Festa e Fantasias, transformou-se num reino encantado verde-e-amarelo. Ali encontra-se a bola mais barata na região da 25.

Pelos corredores estreitos da Armarinhos Fernando, que tem quatro unidades perto da loja de Sfeir e onde produtos entulhados caem em sua cabeça, encontra-se os itens mais variados em verde e amarelo: do Fuleco e brinquedos, passando por lingeries e bijouterias. O número de encomendas ali foi 20% a mais que na Copa da África. E, para Ondamar, não será difícil vendê-los. “O brasileiro está deixando tudo para a última hora, o baixo astral vai ficando para trás.”

Além das bolas, o item que mais está saindo na Armarinhos Fernando até agora é a corneta. “Se continuar assim, os gringos vão ficar todos surdos durante a Copa”, comenta o vendedor Jorge Siqueira Goulart. “Chega essa época e tudo que é verde e amarelo vende muito”. (JM)