Até janeiro deste ano, eram apenas 300 anúncios em Minas Gerais. Até o fechamento desta matéria, outras mil ofertas haviam sido contabilizadas pela plataforma. Com a maioria dos hotéis lotados e preços nas alturas, o site Airbnb, um modelo de hospedagem compartilhada, virou opção para turistas que pretendem vir a Belo Horizonte não só em tempos de Copa do Mundo, mas durante todo o ano. O atrativo principal da novidade pode estar no valor das diárias, que variam de R$ 22 a R$ 3.000, conforme os benefícios oferecidos. Há, desde quartos em locais mais afastados do Centro, quanto o aluguel de casas em bairros nobres, com piscina, lareira e vista para o vale. Em praticamente todos os anúncios, os anfitriões oferecem serviços como um “city tour” pela cidade e dão dicas para passeios, meios de transporte, bons restaurantes e outros atrativos.
Maria Clara Boelsums, de 60 anos, mora sozinha em um apartamento na Avenida Carandaí, em Belo Horizonte. Há mais ou menos um ano, ela ficou sabendo do site e decidiu alugar dois quartos da residência. Nesse tempo, conheceu cerca de 20 novas pessoas. “Já recebi no meu apartamento um francês, um dinamarquês, um indiano e um espanhol. São pessoas muito interessantes, muito educadas e nunca tive problema com nenhum hóspede”, conta. Questionada se não ficou apreensiva ao abrir sua casa para um desconhecido, ela explicou que antes de se filiar, conferiu as indicações de todos os hóspedes. “Dá pra puxar a ficha, procurar saber o que ele vem fazer”, contou. “[O Airbnb] te dá uma estrutura muito boa e não te dá esse tipo de medo”, conclui.
Mineira da gema, suas qualidades são reconhecidas na área de comentários do site, que compila a opinião dos hóspedes em relação à hospedagem e ao anfitrião. Em um deles é possível ler que “Maria Clara representa a simplicidade e hospitalidade mineiras. Super atenciosa, ela dá dicas como você pode aproveitar sua viagem em BH”. Outros comentários, em português, inglês e francês, atestam a limpeza do local e a cordialidade e atenção da anfitriã. Um diferencial visado pela maioria dos clientes que procuram o site. Motivo pelo qual, Maria Cristina Horta, proprietária do Carmen Hostel, também com página no Airbnb, acredita não ter havido tanta procura por quartos. “Não sei se foi uma questão da pessoa ter expectativa de ficar hospedado em uma casa e na verdade aqui ser um hostel”, afirma. Ela conta que entrou há cerca de 4 meses na plataforma e surgiram várias requisições, mas até agora, nenhuma reserva. Diz ainda que todas as procuras partiram de estrangeiros. O que não a preocupa, já que, por se tratar de um hostel que possui, inclusive, um site próprio, quase todos os quartos já estão fechados para a Copa.
Além de quartos individuais, é possível alugar também uma casa ou um apartamento inteiros, com todos os cômodos disponíveis. Foi o que fez Carlos Moura, de 32 anos, que foi à Amsterdã, Budapeste, Viena, Paris, Cracóvia, Praga, Buenos Aires e Montevideu pelo modelo de hospedagem compartilhada. A primeira vez foi em Amsterdã, em 2012. Ele conta que procurava um local bem localizado, além de confortável, próximo aos locais que gostaria de visitar – ou com linhas de transporte que possibilitassem o trajeto – e, mais ainda, comodidade. Cansado de ter que acordar cedo durante as férias para tomar a tempo o café da manhã ou de ter que seguir à risca todos os horários de check in e check out do hotel, ele decidiu que, a partir de então, só viajaria dessa forma. “Você está de férias, quer acordar cedo para aproveitar mais a cidade, mas quer acordar com calma, no seu ritmo. E esse tipo de experiência te dá essa liberdade”, conta.
Os brasileiros parecem compartilhar cada vez mais a mesma opinião. Em dois anos, o número de anúncios do Airbnb subiu de três para 20 mil. O mercado em Belo Horizonte obteve um crescimento de mais de 300% em 2014 e para a Copa há cerca de 3 mil hóspedes confirmados. Para a Executiva de Contas do site, Bruna Mesquita, essa evolução se dá por conta das atrações turísticas do estado, mas também pela conhecida hospitalidade dos mineiros.
Thiago Faria, de 27 anos, mora sozinho na capital. Ele passou a alugar um dos quartos do seu apartamento há mais ou menos um ano. Mas para ele, a experiência funciona mais pela troca cultural que pelo negócio. Tanto que dá preferência a hóspedes estrangeiros. “Não uso o site para ganhar dinheiro, mas sim pela oportunidade de um intercâmbio cultural. Todas as hospedagens são negociadas, uma a uma. O que recebo pela vinda deles é mais para cobrir os custos de limpeza e alimentação mesmo”, conta. Entre os visitantes, ele se lembra com carinho de Patrick, um francês que ficou hospedado em sua casa durante uma semana e hoje mora em Belo Horizonte. “Ele veio para cá com intenção de fazer negócios e decidiu abrir uma empresa de importação de vinhos. Virou um grande amigo”, diz.
Para a Copa, Thiago deve receber um inglês, um argentino, um indiano e um americano. Um por vez. Por isso, já vem preparando um roteiro com lugares legais para os hóspedes conhecerem, além de bons restaurantes e um kit de boas vindas. “É dever do anfitrião deixar tudo bem preparado”, explica.
Setor hoteleiro questiona legalidade do serviço
Em março deste ano, a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (Abih) afirmou que levaria ao Congresso Nacional e às instâncias superiores do governo, questionamento sobre a legalidade do modelo de hospedagem compartilhada. Na ocasião, o presidente da Abih, Nérleo Caus de Souza, disse que a associação não irá aceitar a expansão deste modelo, que não cumpre as exigências que os hoteleiros tradicionais estão submetidos. “E o que é melhor, não pagando os impostos que nós, hoteleiros, pagamos”, destacou.
Souza assegurou que a Abih não é contra a ideia da hospedagem compartilhada, mas reforçou o posicionamento contra a informalidade. A entidade quer que o assunto seja debatido de forma aberta e democrática, “mas colocando a nossa preocupação, desde que tenham as mesmas exigências que nós temos. Acho que isso tem que ter uma equivalência, uma mão dupla”, indicou.
Com informações da Agência Brasil