O presidente da Ordem dos Economistas do Brasil, Manuel Henriquez Garcia, avaliou hoje (30) que o resultado moderado do Produto Interno Bruto (PIB) divulgado nessa manhã, alcançando 0,2% no primeiro trimestre, era algo esperado. Mas para ele, o “crescimento fraco” pode indicar que as estimativas do mercado financeiro de um crescimento de 1,65% em 2014 não serão confirmadas. Segundo o Garcia, será necessário que, neste trimestre e, principalmente, no segundo semestre, o governo adote medidas para reverter o quadro e o PIB possa crescer, no mínimo, 1,5%.
“Isso já está sendo vislumbrado como um objetivo difícil de ser alcançado. Mas ainda dá tempo, estamos no meio de maio e o governo tem um arsenal na política econômica que pode manter o crescimento econômico, sendo bastante conservador, próximo a 1,6%. Embora, o número apontado agora seja um tanto desanimador”, disse para a Agência Brasil.
Em sua análise, Garcia lembra que ainda está em vigor a política do setor automotivo e a desoneração para vários setores industriais. No caso do crescimento do consumo, Garcia diz que é possível um certo fôlego, mas a fórmula está chegando ao fim. A alternativa, acredita, teria que ser, “de maneira muito forte”, um plano que incentive o setor da infraestrutura.
Segundo ele, os efeitos do plano seriam sentidos de duas formas. "O primeiro, a curto prazo, é o gasto, a despesa [para a implementação da infraestrutura] que acaba se disseminando por outros setores da economia. O segundo momento, a médio e longo prazos, levaria a infraestrutura, naturalmente, a aumentar a capacidade de produção da economia brasileira como um todo".
O dirigente da Ordem dos Economistas também admite, com tem dito o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que a crise econômica mundial, com o baixo crescimento, inclusive na zona do euro, também tem atrapalhado o crescimento brasileiro. Para Garcia, as projeções da balança comercial são pessimistas.
“Se você olhar as projeções da balança comercial até o fim do ano, são muito ruins. Há um superávit de, aproximadamente, US$ 3 bilhões, mas na conta-corrente [um dos principais indicadores das contas externas], que inclui a própria balança comercial, da balança de serviços e das transferências unilaterais, a projeção é um déficit de US$ 80 bilhões”, avalia.
Andrew Storfer, diretor de economia da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), é mais pessimista com relação às estimativas do PIB. “No ano passado já não eram boas. Enquanto, todo mundo falava em 2,3%, em 2,5% a gente já tinha a perspectiva de ser mais baixo e falava em 1,8%. No início do ano, a gente revisou para 1,5%. A expectativa nossa é que fique em 1% neste ano”, projeta.
Storfer destaca que é importante olhar outros indicadores. Avalia que há uma retração no volume de crédito, e a consequência é que as empresas não estão tomando empréstimos e o nível de investimentos está muito baixo. De acordo com os números do PIB trimestral, o baixo investimento foi o fator da demanda que mais contribuiu para o resultado divulgado. Ele também critica a condução que foi dada pelo governo à fixação dos juros básicos da economia.
Para o economista, os juros são instrumentos de política econômica fundamentais e a taxa básica de juros (Selic) deve ser elevada ou reduzida em função do desempenho da economia. “Não pode baixar [os juros] e achar que os outros fatores macroeconômicos vão ser ajeitar. A mesma coisa com essa interferência no setor de energia elétrica e combustíveis em geral”, criticou.
Segundo Storfer, essa política - considerada por ele "intervencionista” - desorganizou a economia do país. “O mercado não funciona assim. Na prática, o que se vê é que há um erro difícil de se arrumar, porque, quando se desarruma macroeconomicamente, há um custo elevado para arrumar e um prazo envolvido bastante significativo. A diretriz adotada não deu certo”, avaliou para a Agência Brasil.