Com a retração da economia, os shopping centers também colocaram o pé no freio. Depois de uma forte expansão experimentada nos últimos cinco anos, que chegou ao interior do estado com anúncio de empreendimentos orçados em mais de R$ 700 milhões, o setor começa a dar sinais de desaceleração. Com a superoferta de empreendimentos em algumas regiões, a dificuldade tem sido encontrar lojistas em condições econômicas favoráveis para ocupar todos os espaços oferecidos. O desinteresse, principalmente dos menores, pode ser explicado pelo fraco desempenho do varejo. Em Minas, a situação ainda se divide. Enquanto há shoppings engatinhado em meio a uma economia turbulenta, outros empreendedores garantem sucesso apostando em cidades sem shoppings.
A taxa básica de juros em um patamar de 11% ao ano, com consequente encarecimento do crédito, e uma inflação de 6,28% em 12 meses, afastam os consumidores e também influenciam o comportamento do setor. Como resultado está uma revisão de planos de aberturas de novos malls. Se no ano passado foram inaugurados 38 empreendimentos no país, neste ano o número será menor: 30, segundo dados da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce). Outro impacto já sentido por alguns empreendedores é a vacância das lojas em empreendimentos recém-inaugurados. Um dos exemplos em Minas é o Monte Carmo Shopping, em Betim, que foi aberto em abril com apenas 20 lojas em funcionamento.
Luiz Alberto Marinho, sócio-diretor da GS&BW, consultoria especializada em shopping centers, lembra que se no passado os malls inauguravam com 70% área bruta locável em operação, hoje o ritmo é menor que o desejado, e muitos passam a abrir com a metade das lojas funcionando. Embora acredite que a recuperação será lenta, podendo chegar a cinco anos para uma equalização e absorção do número de lojas, ele garante que ainda é prematuro falar em estagnação desse mercado, já que o Brasil ainda tem grande potencial a ser explorado. “Pesquisas mostram que enquanto os Estados Unidos tem 2.200 metros quadrados de área bruta locável para cada 1 mil habitantes, o Brasil tem apenas 65 metros quadrados para o mesmo número de pessoas”, lembra.
Márcio Araújo, diretor de operações dos shoppings da Saphyr, responsável pela operação do Serra Sul, em Pouso Alegre, e do Monte Carmo, em Betim, confirma a retração. “Hoje temos, no setor, oferta maior que a demanda”, afirma. No Serra Sul, inaugurado em abril do ano passado, com 25% das lojas em operação, ele já garante uma recuperação dos resultados. “Em um ano esse percentual chegou a 87%, e ainda temos 3% das lojas em obras. Ou seja, é um shopping que nasceu na crise e vem crescendo dentro dela”, garante. No Monte Carmo, a situação é mais crítica. O empreendimento, segundo Araújo, abriu as portas com 29% da Área Bruta Locável (ABL) em operação, a maior parte da área destinada a lojas âncoras. Mas a expectativa é de que esse percentual suba para 87% até o Natal. “Estamos com negociações avançadas para a ocupação de grandes áreas, que levarão mais tráfego ao local”, argumenta.
Cláudio Capanema, diretor-presidente da CGDI e parceiro da 5R Shopping Center, que tem três shoppings em andamento no estado – o Praça Uberaba e Praça Uberlândia que serão inaugurados até o ano que vem, além do Praça Barbacena – conta que os planos estão mantidos sem impactos para esses empreendimentos. “O Uberaba está com 85% da ABL comercializada”, diz. O fato de o shopping de Barbacena não ter concorrência, segundo ele, também é um grande diferencial para enfrentar a crise no consumo. O principal impacto foi sentindo no projeto de um novo empreendimento em Araguari, que acabou adiado para 2016.
CONTRA A MARÉ Eduardo Gribel, diretor-presidente da Tenco, que tem oito shoppings em construção no país, e três a inaugurar até o fim do ano, garante que a crise ainda não afetou o seu negócio. Entre as premissas dos projetos, que os colocam fora da crise, ele destaca um planejamento e estudo correto da cidade, pesquisa de mercado, construção prioritariamente no interior ou em cidades com mais de 200 mil habitantes e em cidades polo de uma determinada microrregião.
“Não experimentamos essa dificuldade porque somos dominantes no interior, onde não há shopping e onde os lojistas ainda não estão”, diz Gribel. O plano da empresa é chegar a 32 malls até 2016. “Nossos shoppings que abriram menos ocupados iniciaram as atividades com 78% em operação, os outros com mais de 80%.”