A empresa aérea Gol lançou nesta quarta-feira, o primeiro voo comercial abastecido com mistura de biocombustível do país. O voo partiu do aeroporto Santos Dummont, no Rio, em direção a Brasília. A iniciativa integra o planejamento de outros 200 voos que usarão a mistura de componentes durante a Copa do Mundo, nos meses de junho e julho. A 'blend' (mistura) é de 4% de bioquerosene de aviação produzido a partir de uma mistura de ICO (óleo de milho não-comestível proveniente da produção de etanol de milho) e OGR (óleos e gorduras residuais) pela UOP-Honeywell. A expectativa da empresa é reduzir em 220 toneladas as emissões de carbono com a redução no consumo de combustíveis fósseis.
A iniciativa é uma espécie de "legado ambiental" para o torneio. Segundo a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, o país é o primeiro a ter 100% das emissões de carbono relacionadas diretamente ao evento mitigadas. "É a primeira Copa Verde e a Fifa passa a adotar essa prática como uma referência para os próximos torneios. A marca de baixo carbono do país é a única que poderá ser associada ao evento, ao lados dos patrocinadores", destacou Izabella.
A estimativa é que o uso de biocombustível para aviação reduz em 80% as emissões em relação ao combustível fóssil. As emissões dos deslocamentos aéreos são chamadas de "indiretas" em relação ao torneio. Nesse aspecto, segundo a ministra, ainda faltam 40% das emissões a serem reduzidas. "Nós somos o País que mais reduz as emissões, sem custo e voluntariamente. Em relação às reduções no setor florestal, as emissões que cortamos representa toda a produção do Reino Unido", destacou Izabella.
O voo foi abastecido com querosene de aviação com uma mistura de 4% de biocombustível, produzido a partir de óleo de milho, gorduras não vegetais. Ao todo serão usados mais de 2 milhões de litros do combustível nos deslocamentos da Seleção Brasileira e em voos comerciais da companhia, partindo do Aeroporto do Galeão, no Rio. "Essa iniciativa coloca a companhia na liderança mundial na redução das emissões de carbono. Esperamos incorporar a tecnologia em voos comercial com o biocombustível já a partir de 2015", destacou o diretor executivo de operação da Gol, Sergio Quito.
Isenção
Durante o evento, o governo, empresas aéreas e associações de produtores de biocombustível assinaram um protocolo de intenções para estudar a ampliação do programa nos voos comerciais do País. Segundo o presidente da Associação Brasileira das Empresas Aereas (Abear), Eduardo Sanowicz, para ampliar a escala da iniciativa e tornar o uso dos biocombustíveis sustentáveis, ainda é preciso reduzir em cerca de 30% o custo da bioquerosene.
"Temos compromisso internacional de reduzir à metade as emissões até 2050. O fator técnico está praticamente concluído, mas ainda não o aspecto econômico. Essas conversas procuram encontrar as condições para torná-lo viável", afirmou Sanowicz.
O diretor da Gol, Sérgio Quito, defendeu a desoneração e redução de ICMS para acelerar a implantação do combustível na malha viária. "Para incluir nos voos já em 2016, seria necessário discutir uma redução total ou parcial do imposto. Isso é fundamental para ampliar a escala, tornar o negócio sustentável e atender às exigências internacionais. O desenvolvimento do biocombustível traz enormes benefícios ambientais, mas também estrutura uma cadeia de valor no país", destacou.
O consultor Arnaldo Vieira de Carvalho, que representou o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) no evento, destacou a importância econômica da medida. Segundo ele, a estruturação do setor fortalece os produtores agrícolas, gera empregos e desenvolvimento tecnológico, tornando o País capaz de atender também ao mercado internacional. "Aqui é o lugar mais promissor para indústria de bioquerosene se desenvolver e atender não só ao mercado interno."
Na avaliação da ministra do meio ambiente, o diálogo com os produtores, empresas e governo está aberto para defender o melhor modelo para o setor. "Este é um processo político que demanda envolvimento do setor financeiro para adoção da tecnologia nacional. Estamos propondo uma repactuação da leitura das emissões, olhando para o processo econômico, dentro da realidade do mercado", afirmou.