São Paulo, 16 - O arrefecimento do grupo Alimentação dentro do Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) na segunda quadrissemana de junho corroborou a expectativa do coordenador do índice e pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV), Paulo Picchetti, de que o indicador poderá fechar junho com inflação de 0,10%, como previsto no começo do mês.
Em entrevista nesta segunda-feira, 16, ao
Broadcast
, serviço de informações em tempo real da Agência Estado, ele não descartou a possibilidade de um número negativo para Alimentação no fechamento do mês e disse que este conjunto de preços "realmente" começou a trajetória de desaceleração, que justifica a projeção feita lá atrás para o IPC-S do sexto mês deste ano. "Na primeira leitura, o movimento ainda não estava aparecendo (de forma tão evidente)", disse, ao referir-se à alta de 0,39% da classe de alimentos na primeira pesquisa do mês (ante 0,45% no fechamento de maio).
Da primeira para a segunda quadrissemana, o grupo Alimentação diminuiu mais o ritmo de elevação, de 0,39% para 0,06%, e permitiu um alívio de 0,08 ponto porcentual no resultado final do IPC-S do período, contou Picchetti. Ou seja, se não fosse essa contribuição negativa de alimentos, o índice cheio da segunda medição de junho seria de 0,45% e não de 0,36%, como informou nesta segunda-feira (16) a FGV. "A notícia dessa leitura é que a inflação está realmente caminhando para um número perto de 0,10%", reforçou.
O economista da FGV disse que alguns motivos da desaceleração do IPC-S já eram esperados, como a redução dos efeitos do reajuste nos preços dos medicamentos e dos impactos da elevação nas tarifas de energia elétrica. Os dois itens tiveram variações menores na segunda quadrissemana na comparação com a anterior, de 0,40% ante 0,57% (medicamentos) e de 0,89% ante 1,92% (tarifa de eletricidade residencial). "A grande incógnita é o grupo Alimentação, mas que provavelmente deve continuar em desaceleração. É possível que até registre taxa negativa no fim do mês", estimou. Em junho de 2013, o grupo teve inflação de 0,02%, enquanto o IPC-S fora de 0,35%.
A expectativa de Picchetti é de que os alimentos
in natura
sigam a trajetória de queda nos próximos levantamentos, como já indicam as pesquisas de ponta (mais recentes). Ele citou como exemplo as hortaliças e legumes, que caíram 7,48%, com destaque para a deflação de 3,79% do tomate, além das frutas, que tiveram baixa de 4,04%. Uma das frutas que tiveram retração expressiva foi a tangerina (mexerica), com 14,15%. "É uma queda consistente e que traz o grupo Alimentação praticamente para uma taxa mais perto de zero ou até mesmo negativa. Do outro lado (das altas), não tem nada surpreendendo para cima. A taxa de refeições em bares e restaurantes está subindo (0,65%), mas já era esperado. É condizente com o momento (maior demanda por causa da Copa)", explicou.
IGP-10
O momento é totalmente propício a uma inflação mais comportada, disse Picchetti, também se referindo à deflação de 0,67% apurada pela Índice Geral de Preços - 10 (IGP-10) do quinto mês do ano e divulgada hoje pela FGV. A retração foi puxada especialmente pelo recuo de 3,60% dos preços agropecuários no atacado. "O saldo líquido é altamente favorável à desaceleração do IPC-S de junho. (A inflação) está cumprindo o papel sazonal", concluiu.