Os grandes consumidores de energia que deixarem para a última hora o fechamento de contratos para a aquisição do insumo no ano que vem correm o risco de pagar muito caro por ele. Segundo especialistas do mercado de energia ouvidos pelo Estado de Minas, existe uma expectativa de acomodação nos preços do insumo para os próximos cinco anos, mas isso não inclui 2015 necessariamente. É que o volume de energia destinado ao mercado livre encolheu por conta das cotas destinadas aos consumidores cativos pela Medida Provisória 579. E, por outro lado, a situação hidrológica do país é um problema que não pode deixar de ser levado em conta.
“A MP 579 enxugou o mercado e sobrou menos energia para o mercado livre”, explica Carlos Faria, presidente da Associação Nacional de Consumidores de Energia (Anace). Segundo ele, a preocupação dos grandes consumidores também vale não só para 2015, mas para o restante deste ano, e também chega às empresas geradoras de energia, que estão se protegendo. “Se toda a água dos reservatórios for usada, eles terão que ir ao mercado spot (de curto prazo) para comprar energia. Tudo isso faz com que o preço do insumo este ano seja caríssimo e fique entre R$ 600 e R$ 650 por megawatt/hora (MWh)”, observa. Para 2015, por causa da oferta restrita, os preços vão girar em torno de R$ 350 por MWh.
Faria reconhece as expectativas de melhoras nos reservatórios do Sul do país, mas lembra que os do Centro-Oeste e do Sudeste, que são a caixa dágua do Brasil, continuam em queda. “A carga está caindo e o preço também, mas o preço ainda é preocupante, porque existe uma volatilidade muito grande no mercado”, diz. A preocupação vem do fato de que energia para os consumidores industriais é um insumo e, portanto, representa custos. “A gente tem vivido um período de escassez hídrica desde 2012. Os preços no curtíssimo prazo recuaram, mas a conjuntura ainda é de ascensão e isso rebate em 2015”, afirma Mikio Kawai Jr., diretor da Safira Energia.
Segundo ele, quanto mais próximo o período do vencimento do contrato de compra de energia das empresas, mais contaminação haverá do cenário de curto prazo. Para Kawai Jr., o problema no ano que vem será o preço e não a capacidade de suprimento de energia para as grandes indústrias que operam no mercado livre e no spot. Marcelo Ávila, vice-presidente de operações da Comerc Energia, explica que o consumidor livre em geral não deixa toda a sua contratação concentrada num único vencimento. Ele explica que tais consumidores costumam “distribuir” os vencimentos, de forma a se proteger.
“Em nossa carteira pouco mais de 25% têm contratos vencendo no ano que vem. De acordo com o especialista, esse consumidor tende a fazer um movimento para construir um preço médio, de forma a não ficar exposto, deparando-se com uma explosão de preços que obrigue seu produto a “sair de prateleira”, diz Ávila. Segundo ele, as empresas que deixaram para fazer agora a renovação do contrato do ano que vem já vão pagar preço 30% maior do que pagariam se tivessem feito isso em janeiro de 2014.