Jaboticatubas – O mercado de produtos orgânicos no Brasil deve avançar em torno de 35% este ano, atingindo a cifra de R$ 2 bilhões, e superando o aumento apurado em 2013, que fechou em 22%, segundo dados levantados pelo projeto Organics Brasil, do Instituto de Promoção do Desenvolvimento (IPD). Neste nicho de mercado começa a ganhar destaque o cultivo de flores. Os produtores que atuam no segmento têm a oportunidade de fechar contratos, sobretudo com o exterior, onde boa parte dos consumidores leva em conta selos que tacham a mercadoria como orgânica. Para esclarecimento, a produção orgânica leva em conta a sustentabilidade econômica, a ecológica e a social.
“Além dos aspectos inerentes à redução de adubos químicos, a produção integrada envolve a organização da propriedade, o que possibilita a rastreabilidade das flores e plantas cultivadas e abre novas oportunidades de vendas e novos mercados ainda inexplorados, principalmente no exterior, que valoriza as flores tropicais. “Produtos certificados, que possibilitam a rastreabilidade, são mais bem aceitos no mercado interno e externo, pois os consumidores sentem-se mais seguros em adquirir produtos sem resíduos de defensivos químicos e que foram cultivados de forma justa e sem prejudicar o ambiente”, destaca a engenheira-agrônoma e doutora em floricultura Elka Fabiana, da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig).
“É um diferencial de mercado, o que pode aumentar o valor da mercadoria”, complementa Lucas Guimarães, engenheiro-agrônomo e fiscal do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA). O IMA, aliás, é o organismo de avaliação da conformidade orgânica no estado (OAC). Na prática, é o responsável em Minas por conceder o selo do Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica (SisOrg) às propriedades rurais, depois de avaliar dois escopos: a produção primária vegetal e o processamento de produtos de origem vegetal. O sítio Flor de Corte, na área rural de Jaboticatubas, na Grande Belo Horizonte, foi a primeira propriedade rural do país a receber a certificação, o que ocorreu em abril.
“Não usamos adubos químicos nem agrotóxicos. A nutrição das plantas é feita por meio de adubação verde, compostagem e outros ingredientes naturais permitidos pela legislação de orgânicos no Brasil. No controle de pragas e doenças, o manejo é feito utilizando técnicas de prevenção e produtos permitidos no cultivo orgânico. Somos o primeiro produtor de flor tropical a conseguir essa distinção no Brasil e nosso próximo passo será buscar, também, uma certificação internacional, que deverá facilitar a abertura de portas para exportações”, conta o proprietário do Flor de Corte, Valdecir Verdelho.
VARIEDADES Numa área de 1,2 hectare, ele planta bastão-do-imperador nas cores rosa, branco e vermelho; gengibre ornamental e helicônias, principalmente a wagneriana turbo, bihay, shee e nappi green. O produtor conta que o projeto original previa a produção de orquídea de corte. “Durante o planejamento, contamos com a consultoria de Maria Lessa, que foi pesquisadora da Epamig. Ela sugeriu o plantio de flores tropicais, que poderia ser feito a céu aberto, reduzindo os investimentos, e teria a vantagem de antecipar o início das vendas, com a entrada de alguma receita. Em 2012, começamos a plantar flores tropicais e folhagens. Agora, estamos desenvolvendo o projeto para orquídeas, que pretendemos cultivar a partir do próximo ano”, planeja o produtor.
A pesquisadora Elka Fabiana alerta que as flores produzidas para comercialização devem apresentar excelente aspecto: “É inaceitável qualquer dano que prejudique a aparência. Em decorrência disso, não é fácil cultivar todas as espécies de flores em sistema orgânico, pois muitas são bastante suscetíveis a pragas e doenças. É aconselhável que o produtor inicie o cultivo orgânico com espécies mais resistentes, e com a experiência adquirida com tais plantas, aos poucos introduza espécies mais sensíveis”.