Perspectivas menos otimistas para o consumo no Brasil não afetam as expectativas do setor de cosméticos, perfumaria e higiene para este ano. A indústria espera manter o ritmo de alta do faturamento, de acordo com números divulgados nesta quinta-feira, 10, pela Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec). A entidade projeta que as vendas do setor cresçam 11,8% na comparação com 2013, ritmo de expansão próximo dos cerca de 10% do ano anterior. Com isso, se espera que o faturamento total em 2014 some R$ 42,6 bilhões antes dos impostos.
Para o presidente da Abihpec, João Carlos Basilio, o setor tende a ser menos afetado por alguns fatores macroeconômicos que têm peso sobre outros segmentos de consumo. Para ele, alta de juros e maior seletividade na oferta de crédito ao consumo podem afetar a venda de itens de maior preço, mas ele considera que, num segmento em que os produtos têm tíquete médio baixo, até cresce o interesse. "O consumidor que não tem condições de renovar a geladeira ou o fogão acaba buscando um produto que possa dar satisfação a um preço mais baixo, por isso procura, por exemplo, um xampu de melhor qualidade."
Os investimentos também continuam mantendo ritmo de alta dos últimos anos. De acordo com a Abihpec, os investimentos da indústria este ano devem somar R$ 14,1 bilhões, um resultado 5,2% superior ao aportado pelas empresas em 2013. O maior montante será destinado para investimentos em marca: R$ 9 bilhões. Os aportes em ativos somam R$ 3,5 bilhões e em pesquisa e desenvolvimento, R$ 1,6 bilhão.
Uma das explicações para a alta de investimentos mesmo diante das incertezas no cenário macroeconômico e num ano de eleições é a crescente competição. "A competitividade no setor vem aumentando de forma significativa e, não basta só a empresa oferecer um serviço, mas a sua marca precisa ser conhecida e divulgada", comenta. Além disso, ele destaca que o setor é dependente de novos lançamentos. A Abihpec calcula que 30% do faturamento a cada dois anos seja com produtos recém-lançados. "Se uma empresa não tiver inovação no seu portfólio de produtos, fica fora do mercado", diz.
Uma das principais fabricantes do País, a Natura vem elevando gastos com marketing para conter a perda de participação de mercado no Brasil diante do crescimento da concorrência. Já os investimentos em capex devem ser de R$ 500 milhões este ano, boa parte para tecnologia da informação e suporte ao projeto de e-commerce Rede Natura.
Já a Avon, que vem reiterando a necessidade de otimizar investimentos e recentemente anunciou um corte de 600 vagas de emprego na América do Norte, ainda considera que o Brasil é um mercado para investir. "Estamos mais propensos a fazer investimentos no Brasil porque acreditamos que há uma oportunidade para promover crescimento", disse a diretora Financeira Kimberly Ross em teleconferência.
A Abihpec considera, porém, que as perspectivas podem mudar em 2015. "Por enquanto, todos os sinais são de que no próximo ano vamos ter dificuldades, com a inflação mais alta e há certa preocupação sobre a criação de empregos", comentou Basilio.
Questionado sobre como o risco de racionamento de água e energia afeta os planos do setor, ele considerou que o temor ainda não se reflete nos planos de investimento. "Eu diria que talvez em 2015 isso possa ser refletido, porque os planos de investimentos deste ano já estão traçados e não há como parar", comentou.
Ele ressaltou, porém, que a indústria ainda tem a necessidade de investir fortemente na construção de centros de distribuição para atender a demanda de diversos mercados consumidores regionais com rapidez e reduzir custos de frete. "Não se tem uma previsão de melhoria da infraestrutura (de transportes no Brasil) pelo menos nos próximos três anos e é importante para os fabricantes abastecer o mercado de forma mais eficiente", concluiu.