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Estado de Minas

Argentina pressionada pela crise com fundos especulativos


postado em 15/07/2014 20:35

Nos próximos 15 dias, a Argentina passará pelo dilema de ter que pagar 1,33 bilhão de dólares aos fundos especulativos por ordem de um juiz de Nova York, ou incorrer em uma moratória que pode disparar uma crise financeira.

O governo da presidente Cristina Kirchner encontra-se pressionado diante da difícil situação, em que a única saída, segundo os analistas, é a negociação elegante e secreta com os credores litigantes, chamados no país de "abutres". Caso contrário, pode acabar declarando uma nova moratória, um duro golpe mas provavelmente menos impactante que em 2001.

Se Buenos Aires acatar a decisão do juiz Thomas Griesa de pagar os 100% em dinheiro aos fundos NML, Aurelius e outros, se arrisca a que outros investidores, que aceitaram a reestruturação da dívida em 2005 e 2010, exijam o mesmo privilégio.

A origem do problema é uma cláusula que obriga o país a estender a todos os credores qualquer oferta que melhore o que foi acordado com os credores que aceitaram o reescalonamento da dívida.

Essa cláusula é conhecida por sua sigla em inglês Rufo (Rights Upon Future Offers) e é válida até 31 de dezembro, o que significa que em janeiro de 2015 o país estará liberado para pagar como quiser, sem a obrigação das equiparações.

Pedidos de equiparação

A primeira leva de pedidos de equiparação viria dos investidores com títulos em moratória sob a legislação de Nova York, no valor de 10 bilhões de dólares. Em seguida, os 93% de credores que aderiram à renegociação acionariam o país na justiça para receberem os pagamentos de 100% da dívida.

O governo argentino calcula que os pedidos podem resultar em até 120 bilhões de dólares, quatro vezes mais do que as reservas do Banco Central. "Isto pode ser evitado se o juiz impuser uma medida cautelar (stay) que permita à Argentina saldar a dívida com os credores da dívida reestruturada e pagar aos fundos litigantes com títulos em 2015, mediante um acordo de cavaleiros", disse à AFP Soledad Pérez Duhalde, analista da consultoria Abeceb.com.

Se a Argentina se recusar a pagar no dia 30 de julho, último vencimento, os 1,33 milhão de dólares aos fundos, tampouco poderá pagar aos credores que renegociaram, porque seria considerado desacato à decisão judicial.

Aconteceria, então, o que as agências classificadoras internacionais chamam de "default seletivo", por aproximadamente 532 milhões de dólares, depositados pela Argentina no Bank of New York em nome dos credores e bloqueados por Griesa.

Uma economia debilitada

Caso a Argentina não consiga pagar, não será uma moratória unilateral como aconteceu em 2001. No entanto, os mercados temem um eventual efeito cascata com duras consequências sobre as finanças.

Kirchner prometeu que seguirá cumprindo religiosamente os pagamentos dos bônus reestruturados, mas não conseguiu dar fim à incerteza. O país acaba de viver um período de euforia com a sua seleção, que esteve a um passo da conquista da taça de campeão do Mundo, mas que acabou perdendo o título para a Alemanha. Os argentinos são obrigados a encarar agora a realidade cotidiana de uma economia com uma pequena recessão e com uma inflação anual que deve superar os 30% ao ano.

"É verdade que durante um mês as atenções se voltaram para o futebol, mas não concordo com a ideia de que a sociedade esquece completamente do resto dos assuntos", opinou o sociólogo Jorge Giacobbe, diretor de uma consultoria homônima. O Dia D argentino deixou de ser, portanto, o domingo passado, na final do Maracanã, para passar a ser dia 30 de julho.


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