A presidente Dilma Rousseff criticou nessa segunda-feira, setores do mercado financeiro ao ser questionada sobre um informe enviado pelo Banco Santander a clientes de alta renda que apontava risco de deterioração da economia caso a candidata do PT se estabilize na liderança das pesquisas de intenção de voto. A presidente definiu como "interferência" a manifestação da instituição financeira, que depois se retratou publicamente.
"Eu acho que é inadmissível para qualquer país, principalmente um país que é a sétima economia do mundo, aceitar qualquer nível de interferência de qualquer integrante do sistema financeiro de forma institucional na atividade eleitoral. Isso é inadmissível" afirmou Dilma durante sabatina realizada no Palácio da Alvorada pelo jornal Folha de S. Paulo, portal UOL, rádio Jovem Pan e SBT.
A crítica gerou uma reação imediata de seus principais adversários. O candidato do PSDB, senador Aécio Neves (MG), afirmou em São Paulo que todos os analistas financeiros hoje manterão o ceticismo em relação à economia se a petista for reeleita. "Infelizmente, para o Brasil de hoje, quanto mais provável a reeleição da presidente, os indicadores econômicos serão piores e quanto mais houver a possibilidade de vitória da oposição, mais irão melhorar o ambiente e as expectativas de futuro", afirmou o tucano, para quem "a resposta adequada do governo seria garantir um ambiente estável, de confiança".
Ao 'Estado', Eduardo Campos (PSB) concordou com a crítica do informe do banco quanto à condução macroeconômica do País, mas avaliou que a instituição não deveria ter "personificado" os questionamentos. "A análise do cenário econômico feita pelo banco foi correta, mas o documento não deveria ter personificado a crítica", afirmou.
O Santander já disse que o informe não representa a opinião da instituição e anunciou que os funcionários responsáveis pelo documento serão demitidos.
Sobre as desculpas apresentadas pelo banco, Dilma afirmou que esse pedido foi bastante protocolar. "Lamento o que aconteceu, acho bastante protocolar."
Após a polêmica, prefeitos paulistas do PT procuraram a direção do partido para reavaliar os convênios com o Santander. A prefeitura de Osasco, na Grande São Paulo, anunciou o cancelamento do convênio sob a alegação de "mau atendimento".
Em discurso para sindicalistas em evento da Central Única dos Trabalhadores (CUT), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também atacou a instituição financeira. "Não tem nenhum lugar no mundo que o Santander esteja ganhando mais dinheiro do que aqui" disse Lula em Guarulhos (SP). Para o ex-presidente, a pessoa responsável pelo comunicado não entende "porra nenhuma" de Brasil e não sabe nada a respeito do governo Dilma.
Ao comentar a conjuntura econômica, a presidente afirmou ainda que há uma mistura de especulação contra o governo com pessimismo. Ela lembrou do ambiente pré-Copa. "Houve gente que disse que não tem aeroporto, vai ser um caos, o Brasil está aquém de tudo, vai fazer Copa absolutamente aquém do nosso potencial, não vai ter estádio decente, segurança vai ser desastre, não tem estrutura de comunicação.... Isso é muito grave, isso é uma especulação contra o País."
‘Marolinha’
Questionada sobre a crise de 2008 e se Lula havia errado ao compará-la a uma "marolinha", Dilma admitiu que o processo foi subestimado. "Todos nós erramos porque a gente não tinha ideia do grau de descontrole que o sistema financeiro tinha atingido. Nós minimizamos os efeitos da crise sobre a economia brasileira" disse.
De acordo com a presidente, nenhum país se recuperou economicamente da crise. "Crescemos 2,5% em 2013. Dos países do G-20, estamos entre os seis ou sete que mais cresceram. O Brasil enfrentou a crise e sem cair naquela que é a pior situação em todos os países."
Segundo Dilma, o governo trabalhou para impedir que a população "pagasse o pato da crise".