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Estado de Minas

Crise econômica argentina agrava as relações comerciais do país com o Brasil

Alemanha e Holanda ameaçam desbancar vizinho portenho do ranking de maiores fornecedores de produtos ao Brasil. Nos embarques nacionais ao exterior, crise afeta extensa lista, de aço a calçados


postado em 03/08/2014 06:00 / atualizado em 03/08/2014 07:04

Polo calçadista de Nova Serrana, em Minas, já vinha reduzindo exportações à Argentina há dois anos(foto: Marta Vieira/EM/D.A.Press)
Polo calçadista de Nova Serrana, em Minas, já vinha reduzindo exportações à Argentina há dois anos (foto: Marta Vieira/EM/D.A.Press)
O aprofundamento da crise econômica argentina, que culminou com o calote (default) da dívida pública na semana passada, agrava as relações comerciais do país com o Brasil. No primeiro semestre, os laços com o terceiro maior parceiro econômico já foram abalados, com queda de 20,2% na soma das correntes de exportações do Brasil para o vizinho latino e importações, o equivalente a US$ 3,66 bilhões na balança comercial. De calçados a automóveis, a lista de setores afetados é extensa. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), 28 dos 40 setores com maior volume de exportação para os hermanos tiveram queda nos negócios nos seis primeiros meses do ano em comparação com igual período do ano passado.

Reflexo da crise, a Argentina está próxima de ser ultrapassada pela Alemanha como terceira maior origem das importações brasileiras. A diferença é de apenas US$ 20 milhões nos seis primeiros meses. No ano passado, era de US$ 1,44 bilhão. A Holanda também caminha para ultrapassar a Argentina como terceiro maior destino das exportações brasileiras: o país sul-americano recebe 6,71% do total, enquanto os europeus, 6,25%. Em junho, a Holanda já importou mais do Brasil que a Argentina.

A crise portenha tende, ainda, a provocar impacto além do comércio, contribuindo para corroer o Produto Interno Bruto (PIB, a soma da produção de bens e serviços) do Brasil. Nas estimativas preliminares feitas pelo professor do Insper, instituto de ensino e pesquisa em negócios, Otto Nogami, a queda nos negócios entre os vizinhos latinos pode conter o crescimento brasileiro entre 0,15 e 0,2 ponto percentual.

O maior impacto no balanço de comércio, se considerada a receita de vendas, foi sentido pela indústria automotiva. A redução nas exportações de carros de passeio no primeiro semestre totalizou US$ 653,3 milhões (retração de 31,5%), de arcordo com dados do Mdic. O setor representava 22,3% do valor total do comércio brasileiro com a Argentina nos seis primeiros meses do ano passado, tendo recuado para 19,2% no mesmo período de 2014.

Queda

A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) informa que o país deixou de vender 74 mil carros entre janeiro e junho, no comparativo com o mesmo período do ano passado, o que, de certa forma, contribuiu para a queda de 16,8% na produção do setor no período. O volume das exportações da Fiat, por exemplo, diminuiu em 9,1 mil unidades, caindo de 32 mil para 22,9 mil unidades (28,5% a menos). “A Argentina enfrenta problemas localizados, momentâneos e conjunturais, que esperamos sejam superados no curto prazo. Brasil e Argentina são parceiros naturais por sua própria geografia, e o fluxo comercial entre ambos os países deve ser preservado”, afirma o presidente da Fiat Chrysler para a América Latina, Cledorvino Belini.

A imprensa argentina noticiou na semana passada que a Renault iria deixar de importar os carros montados no Brasil pelo menos até dezembro. Mas a fábrica brasileira nega. A queda de vendas, no entanto, já é significativa. O país vizinho comprou 9 mil carros a menos da marca francesa.

O professor de economia do Insper Otto Nogami diz que caso se confirme o default pode afetar o comércio entre os dois países de alguma maneira. Ele acredita que o volume de importação da Argentina tende a diminuir e, com a esperada desvalorização do peso argentino, o importador brasileiro poderá recusar a moeda. Em troca, exigiria que os pagamentos fossem feitos em real. “É preciso ver até que ponto o governo argentino permitirá negócios em real”, afirma Nogami.

Os cortes são ainda mais significativos em outros setores se consideradas as variações percentuais de comércio. Na lista, estão semimanufaturados de ferro e aços (-52,3%), motores para veículos automotivos (-39,4%) e tratores (-39,2%). O setor de calçados segue no ranking, com retração de 39,1% no primeiro semestre. A queda nas exportações desses produtos foi de US$ 21,3 milhões (R$ 48,13 milhões).

O vice-presidente do Sindicato da Indústria do Calçado de Nova Serrana (Sindinova) – polo do Centro-Oeste de Minas Gerais –, Júnior César Silva, afirma que a crise argentina agrava as relações de exportação entre os dois países. Ele diz que, uma década atrás, 5% da produção de Nova Serrana era destinada ao país vizinho. Atualmente, só 1%. Há dois anos, milhares de pares de calçados produzidos no Brasil têm sido barrados na fronteira por tempo três vezes maior que o estabelecido pela Organização Mundial do Comércio (OMC). Os produtos chegaram a ficar mais de seis meses sem liberação para entrar na Argentina. “Os importadores precisam do produto para determinada estação, mas com a demora de seis meses, ele chega fora da temporada”, afirma Silva, que calcula em US$ 1 milhão o prejuízo para a indústria por esse motivo.


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