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Estado de Minas

Agricultores apostam em música clássica para melhorar cultivo de plantas

Produtores investem em projetos com alto-falantes para melhorar o cultivo de frutas e hortaliças. Preferência é por ritmos clássicos. Plantas parecem crescer mais


postado em 04/08/2014 10:02 / atualizado em 04/08/2014 10:39

A produtora Bernadete Ribeiro acredita que ambiente ficou mais agradável e que bananeiras estão mais altas (foto: Roneijober Andrade/Divulgação )
A produtora Bernadete Ribeiro acredita que ambiente ficou mais agradável e que bananeiras estão mais altas (foto: Roneijober Andrade/Divulgação )

Mas não é só para os animais que o conforto na produção está voltado. Os vegetais também têm recebido dias de rei nas propriedades rurais. Tanto em Minas Gerais, quanto no Rio de Janeiro, produtores têm apostado na música clássica para melhorar a produção. A produtora de bananas Bernadete Ribeiro usa a onda sonora para melhorar a qualidade da plantação, que fica na cidade de Nova União, na Região Central de Minas. Ainda não teve resultados concretos, mas diz que tem percebido que as bananeiras estão mais altas.

Depois de pesquisar por muitos anos sobre a interferência das ondas sonoras sobre os vegetais, Bernadete se deparou com um estudo que mostrava que a música clássica ajudava na produção do leite das vacas. Anos depois, também viu que, no Japão, produtores estavam usando o som para a produção de bananas, e o mesmo ocorria na Itália com as uvas. Em 2013, ela chamou uma empresa de sonoralização e instalou quatro alto-falantes nos oito hectares da sua plantação. Os aparelhos são resistentes ao sol e à chuva, adequados a todas as estações do ano. Todo o projeto custou R$ 6 mil. Há um ano, o processo está funcionando para as 15 mil bananeiras de Bernadete, que revela ter percebido a presença de mais pássaros na plantação. Durante um período da manhã e da tarde, a música é colocada no ambiente com duração de três horas para cada turno.

“As bananeiras estão mais altas. Mas ainda é cedo para dizer se a música clássica teve interferência direta. O fato é que a experiência é interessante e alegrou o ambiente”, comenta, dizendo que suas bananas, produzidas sem o uso de agrotóxico, estão prestes a receber o certificado de banana orgânica do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA).

NAS ESTUFAS No Rio de Janeiro, na cidade de Petrópolis, a música também tem dado o tom nas plantações do Sítio do Moinho. Há cerca de três meses, foram instalados alto-falantes em um conjunto de sete estufas do sítio. Os aparelhos emitem um repertório de música clássica, que reverbera por uma área de 2,1 mil metros quadrados de plantações de hortaliças.

Na Fazenda Miunça, chip e eliminação das gaiolas individuais garantem mais conforto para as fêmeas (foto: Arquivo Pessoal)
Na Fazenda Miunça, chip e eliminação das gaiolas individuais garantem mais conforto para as fêmeas (foto: Arquivo Pessoal)
Segundo conta o dono do espaço, o produtor Dick Thompson, em 1989, ele comprou a propriedade com 50 hectares, sendo que dentro da área havia 5 hectares de área plana. “Contratei uma consultoria para analisar a viabilidade econômica do lugar e o consultor me disse que o terreno era fértil para olericultura”, recorda. Há 23 anos no mercado, Dick diz que, ao ler o livro A vida secreta das plantas, de Peter Tompkins e Christopher Bird, descobriu que os sentimentos humanos influenciavam na qualidade desses seres. “Se o peão entrasse na horta chateado, as plantas sentiam, e isso já foi comprovado cientificamente”, diz, acrescentando que, na obra, os autores também indicaram a música para que elas reagissem positivamente. E foi o que Dick fez.

Com um repertório que abrange Beethoven, Mozart e Chopin, escolhido pela sua mulher Ângela, foram instalados os alto-falantes nas plantações e, segundo ele, ainda não há resultados concretos sobre a influência. “Mas mudou a forma dos trabalhadores da horta olharem para o trabalho. O amplificador é ligado das 7h às 17h. A nossa intenção é construir mais estufas e abraçar a área toda com o som”, revela.

Peixes criados em tanque-rede estão recebendo alho e sal: proteção contra doenças (foto: Marcelo Cruz/Divulgação)
Peixes criados em tanque-rede estão recebendo alho e sal: proteção contra doenças (foto: Marcelo Cruz/Divulgação)
Melhorias para suínos e peixes

A tecnologia também é uma grande aliada para o bem-estar dos animais em propriedades rurais. De acordo com o produtor Rubens Valentini, da Fazenda Miunça, em Brasília, desde 2010 ele tem trabalhado na gestação de porcas em grupo, eliminando as gaiolas individuais – prática que já vem sendo usada na União Europeia e outros lugares. “Temos uma máquina de alimentação para esses animais. Como cada porca tem um chip na orelha, ao entrarem no local, é feito um levantamento da sua dieta específica e, com as informações repassadas a um computador, o sistema disponibiliza a quantidade certa de ração para ela”, conta Rubens, acrescentam que, dessa forma, o animal não sofre com o estresse de ter que disputar o alimento com outros. “Além disso, ela tem uma gestação saudável. A ninhada nasce mais pesada, homogênea, e as porcas têm maior longevidade, sem contar a economia com a ração, já que elas só comem o necessário.”

O produtor destaca que, a partir desse sistema, a mão de obra, antes desinteressada pela suinocultura, passou a procurar mais o setor. “Deu outro status ao trabalho”, garante Rubens Valentini. Além da alta tecnologia no campo, medidas simples têm feito a diferença. É o que destaca a doutora em produção animal e professora da Unifenas Laura Helena Orfão. Segundo ela, a piscicultura passou, nos últimos anos, por um expansivo processo de intensificação na produção. O desenvolvimento do sistema de produção em tanques-rede – gaiolas instaladas em lagos, rios ou represas – permite a produção de grande quantidade de tilápias em um volume reduzido de água. “No entanto, por causa dessa intensificação, um maior número de doenças está acometendo as produções. Para prevenir o aparecimento desses males, muitos piscicultores usam produtos naturais como o alho e o sal durante o crescimento dos animais”, revela.

A pesquisadora explica que, para isso, o sal e o alho são colocados dentro de uma garrafa pet, instalada nos tanques, e são feitas pequenas perfurações para que essas substâncias sejam diluídas na água. Laura Helena reforça que o alho é um antibiótico e antiparasitário natural e seu extrato já é usado em outras produções de animais. “Já o sal tem como principal função aumentar o muco externo do peixe, favorecendo a proteção contra os agentes causadores de doenças.” (LE)

Boas práticas valorizadas

Um estudo apontou que 75% dos brasileiros estão dispostos a pagar mais por alimentos produzidos de forma ambientalmente correta, mais de 80% dos consumidores estão preocupados com a sustentabilidade na agricultura e 90% afirmam respeitar o trabalho do agricultor. A pesquisa ouviu mais de 300 agricultores e 1 mil consumidores brasileiros. O levantamento realizado pela Basf faz parte de uma campanha de valorização da agricultura brasileira. Temas como melhorias em tecnologia, mais subsídios do governo, mudanças climáticas, aumento da produtividade e utilização de biotecnologia foram apontados pelos agricultores como as principais tendências
para os próximos cinco anos.


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