A criação de uma linha especial de financiamento das importações de produtos argentinos, com prazo amplo de carência, seria a única ajuda possível do Brasil à economia da Argentina, avalia o presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB), José Augusto de Castro. O governo brasileiro também teria de assumir o risco soberano das operações. Castro defende essa iniciativa não apenas como ajuda ao país vizinho, mas especialmente como meio de o Brasil concorrer com a presença crescente da China na Argentina.
Em visita no mês passado a Buenos Aires, o presidente Xi Jinping, da China, avalizou o compromisso de seu governo de financiar a construção de duas hidrelétricas e a reforma da infraestrutura de transportes na Argentina, no valor total de US$ 7,5 bilhões. A China abriu ainda uma linha de crédito de US$ 11 bilhões, em yuan, para a importação de produtos agrícolas argentinos.
Como as exportações brasileiras para a Argentina caíram 20,4%, no primeiro semestre deste ano, e as chinesas aumentaram 2%, Castro suspeita que produtos chineses estão deslocando os do Brasil no país vizinho. Na Venezuela, afirmou ele, está em vigor um acordo oficioso de preferência de compra de carnes do Brasil, de oleaginosas da Argentina e de manufaturas da China. "O mesmo compromisso pode ser feito por Buenos Aires com Pequim, para execução em médio prazo."
Em curto prazo, o recuo do comércio exterior argentino será inevitável, seja como efeito do calote ou dos equívocos cometidos por seu governo. A Argentina luta há anos para manter um superávit crescente na sua balança comercial. No primeiro semestre, porém, o país registrou superávit de apenas US$ 3,7 bilhões, com queda de 10% nas exportações e de 8% nas importações na comparação com igual período de 2013.
Nesses tempos de calote, com as reservas internacionais em nível crítico e a tradicional fuga de divisas como reação à crise, a Argentina vai precisar ainda mais dos saldos positivos. O esforço deve envolver maior restrição das importações, sobretudo por meio de medidas não tarifárias.
As exportações agrícolas serão prejudicadas pela queda dos preços internacionais do milho, pela redução de 30% na cotação futura da soja, pela quebra de safra de trigo e pela taxação de 30% sobre o valor embarcado ainda vigente. "Como 30% das importações argentinas vêm do Brasil, já sabemos quem será o vizinho mais afetado por essa crise", disse Castro.