Bárbara Nascimento e Paulo Henrique Lobato
Curitiba, Porto Alegre, Goiânia, Rio de Janeiro e Recife já ultrapassaram os 6,5%. A inflação em Belo Horizonte desacelerou de 0,42% em junho para 0,03% em julho, mas o indicador ficou acima do apurado na média nacional tanto no mês passado quanto no acumulado do ano (4,10% contra 3,76%). Das nove áreas pesquisadas pelo IBGE na capital mineira, quatro registraram avanço nos preços em julho: vestuário (0,22%), habitação (0,34%), saúde e cuidados pessoais (0,59%) e artigos de residência (0,64%). Em 12 meses, o índice acumulado na capital mineira ficou em 6,26%, contra 6,5% no país – exatamente o topo meta inflacionária. Em São Paulo, o acumulado em 12 meses já chegou aos 6,44%. Mesmo assim, o governo insiste que a inflação está sob controle (veja matéria na página ao lado) e mantém o discurso otimista de que a economia como um todo deve melhorar no segundo semestre.
A queda – que superou as expectativas do setor – foi puxada, sobretudo, pelo recuo nos preços das passagens aéreas e hotéis, que dispararam durante a Copa do Mundo. Os hotéis, que subiram 25,33% em junho, caíram 7,65%. Já as passagens caíram 26,86%. “Os fatores que levaram à queda são muito pontuais. É um alívio temporário, que fez com que o IPCA viesse mais comportado em julho”, explicou a professora Margarida Gutierrez, especialista em macroeconomia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ela pontua que a situação da inflação no país ainda é preocupante, tendo em vista que o indicador ainda está em níveis altos mesmo com o crescimento fraco da economia.
“Se a previsão do governo de retomada da economia no segundo semestre se concretizar, a inflação volta a disparar”, completou. Para ela, a atividade fraca pode até ajudar o governo nesse quesito, à medida que reduz a inflação de serviços, o que coloca o governo em uma situação complicada: o crescimento do país é uma prioridade, mas pode despertar o dragão.
Além disso, o resultado registrado em julho não foge à regra para o mês, segundo o IBGE, o que diminui o alarde feito pelo governo, que fugiu do habitual e mobilizou jornalistas em Brasília para uma teleconferência com o objetivo de comentar o resultado do IPCA, mesmo estando o secretário de política econômica e o próprio ministro da Fazenda em São Paulo. No mesmo período do ano passado, o IPCA cresceu 0,03%, segundo explica a pesquisadora do IBGE, Irene Machado. “É comum esse recuo na inflação em julho, sobretudo porque um dos itens que mais pesam, os alimentos, têm queda, já que as safras já foram colhidas”, comentou.
ALTERAÇÕES NA MESA
Ana Paula Santa dos Santos está sempre de olho no vaivém dos preços. Ela trabalha em uma loja no Bairro Funcionários, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, uma das áreas mais nobres da cidade. Para fugir dos altos preços, ela gasta sola de sapatos para pesquisar boas oportunidades. “Eu comprava contra-filé para minha casa. Agora, depois das altas dos preços, procuro a promoção do dia”, ensina.
No país, o índice que mede os preços dos alimentos cedeu em julho, o que ajudou a puxar para baixo o IPCA. O recuo foi de 0,15%, a segunda deflação consecutiva. Batata-inglesa (-18,84%), tomate (-17,33%), feijão-fradinho (-7,54%) e feijão carioca (-6,42%), por exemplo, tiveram quedas fortes. Em Belo Horizonte, o item alimentação e bebidas também contribuiu para a queda, ficando em -0,07%. Outras áreas que registraram retração em BH foram transportes (-0,46%), despesas pessoais (-0,29%) e educação (-0,01%).
“No grupo transportes (maior queda entre junho e julho), a principal contribuição para o resultado foi do item transporte público (-1,89%), graças à queda de 33,09% nas passagens aéreas. Já os aumentos foram observados nos grupos artigos de residência, devido aos itens cama, mesa e banho, eletrodomésticos e equipamentos e TV, som e informática (+0,93%), além do grupo saúde e cuidados pessoais, graças aos aumentos de 0,53% tanto nos produtos farmacêuticos quanto nos serviços de saúde”, destacou Antônio Braz, analista do IBGE em Minas.
A persistência das quedas nos itens de alimentação, no entanto, diverge os especialistas. A professora Gutierrez acredita que os alimentos devem atuar a favor do IPCA até o fim do ano, assim como outros fatores da economia. “Os preços das commodities, por exemplo, estão comportados no mercado internacional, o que é um alívio, já que é algo que não podemos controlar”, disse. Já Fernando Zilveti, especialista em contas públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV), não acha que há motivos para que o preço dos alimentos recue mais.
Por outro lado, o item “Habitação” teve impacto forte no IPCA e impediu que o indicador caísse mais. O aumento de 1,2% em julho teve o maior impacto no índice do IBGE, de 0,17 ponto percentual. O principal responsável foi o aumento da energia elétrica, que atingiu 4,52%, um efeito de 0,12 ponto percentual no resultado do IPCA. As despesas com condomínio (0,95%) e aluguel (0,92%) também subiram.
Dias melhores até o fim do ano
O baixo crescimento do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de 0,01%, em julho aqueceu o discurso otimista do governo, que garante que a inflação está sob controle mesmo tendo batido o teto da meta no acumulado em 12 meses, de 6,5%. O secretário de política econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, afirmou ainda que o indicador deve continuar registrando queda nos próximos meses, puxada sobretudo pelo recuo dos alimentos.
“O índice de preços no atacado vem caindo consistentemente, o que nos coloca na expectativa de um comportamento benigno da inflação no segundo semestre. A inflação está sob controle, trata-se do resultado da política econômica colocada em prática”, disse ontem. Ele acredita que a queda no atacado deve ser repassada aos consumidores nos próximos meses. “O resultado em julho reforça nossa avaliação de que teremos melhora na confiança dos consumidores nos próximos meses”, completou. Dessa forma, o secretário aposta que o mercado revise as expectativas pessimista.
Apesar da perspectiva dos especialistas na área, que têm apostado em um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) abaixo de 1% para este, sobretudo em razão do baixo crescimento industrial, Holland acredita em uma melhora na economia para a segunda parte do ano e descarta qualquer possibilidade de recessão. “A atividade econômica brasileira está em linha com as economias mundiais. O Brasil não é exceção à regra. O mercado de trabalho continua muito sólido, isso vai ajudar a economia a se recuperar”, observou.
COMBUSTÍVEL
O secretário não quis se pronunciar sobre o possível aumento no preço da gasolina, sinalizado nesta semana pelo ministro Guido Mantega. O chefe do Ministério da Fazenda afirmou terça-feira que “não teve nenhum ano em que não houve aumento da gasolina, essa é a regra”, mas não comenta quando a decisão será tomada.
Em relação ao câmbio – o dólar fechou ontem a R$ 2,29 –, Holland também desconversou, se limitando a dizer que não há um consenso de que as variações no câmbio afetem diretamente a inflação. (BN)