São Paulo, 10 - A crise na indústria, em especial na automobilística, colocou um grande contingente de trabalhadores em compasso de espera. Diferente de crises anteriores, quando a demissão era a alternativa, as empresas estão usando o recurso do “lay-off”, com suspensão temporária dos contratos, à espera de melhora no mercado até o fim do ano. Se a economia não reagir, é possível que esse pessoal não retorne às fábricas.
Até julho, os números do lay-off - incorporado à CLT em 2001 (embora já adotado por medida provisória desde 1998) - só não superam, por enquanto, os de 2009, no auge da crise financeira internacional. Dados do Ministério do Trabalho mostram que o total de pessoas de variados setores da economia em lay-off até julho soma 11.918, das quais quase 4 mil são de montadoras. Em 2009, no mesmo período, havia 20.261 afastados temporariamente.
Durante o lay-off, que pode ter duração máxima de cinco meses, parte do salário do trabalhador é paga pela empresa e parte pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), como bolsa qualificação. Nesse contexto, o afastado é obrigado a frequentar um curso de qualificação que, no caso das montadoras, é ministrado pelo Senai. A bolsa é de R$ 1,3 mil.
Segundo o Ministério do Trabalho, os gastos do FAT até julho estão perto de R$ 37 milhões, número que também só perde para o de 2009, quando foram destinados ao programa R$ 39,8 milhões.
O maior número de bolsas neste ano foi requerido pelo setor de fabricação de álcool, com 4.028 pedidos, seguido pelas montadoras e depois por produtores de açúcar. Há casos de um único pedido, como o de atividade de organizações sindicais.
Só a fabricante de caminhões e ônibus Mercedes-Benz colocou em lay-off 1,2 mil trabalhadores da fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, e neste mês colocará no programa mais 158 funcionários da filial de Juiz de Fora (MG).
“O lay-off é uma medida boa, pois pode assegurar empregos por um tempo, sem que seja necessária uma medida mais drástica”, diz o presidente da Mercedes, Philipp Schiemer. “Nos ajuda a manejar a fábrica com a capacidade de pessoas de que precisamos neste momento.”
Assim como os trabalhadores, Schiemer afirma estar apreensivo. Nesta semana, ele irá pessoalmente falar com trabalhadores na linha de montagem da unidade do ABC para expor a situação do mercado brasileiro e da empresa.
“Desde o fim do ano passado estamos adotando medidas de adequação. Começamos com férias coletivas, usamos todo o banco de horas, abrimos um PDV (programa de demissão voluntária), mas mesmo assim continuamos com excesso de pessoal”, afirma o executivo. “Como última alternativa adotamos o lay-off.”
Schiemer não quer adiantar o próximo passo, caso o mercado não apresente recuperação consistente. “É cedo para falar o que pode acontecer; esperamos uma reação para evitar demissões.” Ele projeta queda de 10% a 12% nas vendas de caminhões neste ano em relação a 2013.
Além da Mercedes, estão em lay-off 1.190 funcionários da Volkswagen de São Bernardo e de São José dos Pinhais (PR), 108 da Ford em Taubaté (SP) e 100 da MAN em Resende (RJ). A GM pode adotar a medida para mil pessoas nesta semana.
Outros 200 funcionários da MAN e 650 da PSA Peugeot Citroën, também do Rio de Janeiro, entraram em lay-off no início do ano mas, segundo as duas empresas, decidiram entrar num programa de incentivos e deixaram as fábricas.