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Estado de Minas

Brechós driblam inflação e reinam no comércio

Diante dos preços e juros altos, saída para o consumidor é recorrer aos brechós para comprar peças de segunda mão ou vender o que não usa mais. Setor cresceu 210% em cinco anos


postado em 11/08/2014 06:00 / atualizado em 11/08/2014 07:17

A cantora Sylvia Klein (E) é uma das clientes de Raquel, do Brechó Brilhantina.
A cantora Sylvia Klein (E) é uma das clientes de Raquel, do Brechó Brilhantina. "Chego a vender mais de 30 peças por dia", diz a comerciante, que está há 10 anos no mercado (foto: Beto Magalhães/EM/D.A Press)

Sustentabilidade e economia na moda. Em tempos de inflação, que no acumulado dos últimos 12 meses até julho chegou a 6,5%, e juros altos, com a Selic a 11% ao ano, a saída para manter o guarda-roupa com boas peças ou ainda faturar são os brechós. Em cinco anos, o número de micro e pequenas empresas de artigos usados cresceu 210% no Brasil, passando de 3.691 em 2007 para 11.469 em 2012. Hoje, as vendas de roupas, acessórios, sapatos, móveis, utensílios domésticos e até eletrodomésticos de segunda mão representam 95% do segmento de usados e chegam a faturar cerca de R$ 3,6 milhões por ano. Os dados são de um levantamento do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) elaborado este ano. Especialistas afirmam que o consumidor pode economizar até 300% na compra de uma peça no brechó comparada ao mesmo produto novo.

Em Minas Gerais, o mercado também está em ascensão, com crescimento de 146% em cinco anos. Em 2007, apenas 514 empresas especializadas em produtos de segunda mão eram formalizadas no estado, número que saltou para 1.265 em 2012. O mercado mineiro só perde para o estado de São Paulo, que já registrou mais de 4 mil empresas do segmento. Dessas, cerca de 70% são brechós, segundo dados da Junta Comercial do Estado de Minas Gerais (Jucemg), que apontam a existência de 915 lojas do tipo em Minas e 187 na capital.

A coordenadora nacional do varejo da moda do Sebrae, Wilsa Sette, afirma que o crescimento desse tipo de negócio é aquecido pela alta demanda do brasileiro, que tem mudado os hábitos de consumo. “Esse é um negócio comum no exterior, principalmente na Europa. É uma consciência ambiental que passou a ser desenvolvida nos últimos anos, e o mercado de usados veio em função dessa sustentabilidade, da conscientização do pós-consumo e do descarte”, explica.

Ainda de acordo com Wilsa, por não representar um mercado de risco, com concorrência ainda pequena, público diversificado e o investimento inicial ser relativamente baixo, os brechós surgem como boa oportunidade de negócio para empreendedores que desejam começar uma empresa. Enquanto existem cerca de 700 mil pequenos negócios de vestuário e acessórios no Brasil, no comércio de usados o número não passa de 12 mil estabelecimentos.

On-line, o De Cabide vendeu 80 peças nos primeiros 10 dias, segundo Isabela Freire (foto: Beto Magalhães/EM/D.A Press)
On-line, o De Cabide vendeu 80 peças nos primeiros 10 dias, segundo Isabela Freire (foto: Beto Magalhães/EM/D.A Press)
Foi apostando na alta da demanda que a consultora de tecnologia da informação Isabela Freire se associou a uma amiga e investiu o tempo livre para fundar o brechó on-line De Cabide, que entrou no ar há duas semanas. O investimento de R$ 50 mil feito por Isabela e sua sócia devem ser recuperados em até dois anos. “É um negócio que está crescendo cada dia mais com as pessoas preocupadas com a sustentabilidade. Começamos fazendo bazares pontuais ao longo do ano, mas a demanda foi crescendo e as clientes sempre perguntando quando seria o próximo”, conta Isabela.

De acordo com ela, em apenas 10 dias já foram comercializadas mais de 80 peças para diversos lugares do Brasil, incluindo cidades do interior de Minas, de São Paulo, Ceará e Rio de Janeiro. “Estamos felizes com o resultado. Hoje estamos com 350 peças disponíveis no site, que são sempre consignadas. Até o fim do ano pretendemos chegar a mil peças”, completa.

REAPROVEITAMENTO Dona do brechó Brilhantina, na Savassi, Raquel Fernandes afirma que viu o mercado promissor há mais de 10 anos, quando começou com o negócio. Roupas, sapatos, chapéus e acessórios eram vendidos em bazares que se transformaram na loja, que registra crescimento de mais de 10% ao ano. “As pessoas estão cada vez mais conscientes e abraçando a ideia de reaproveitamento. É uma mudança que vem ocorrendo ano a ano, com as pessoas perdendo o preconceito, deixando de usar apenas as roupas de primeira mão”, afirma. Ela conta que neste ano seu faturamento já cresceu cerca de 30% se comparado ao mesmo período, janeiro a julho de 2013. “Chego a vender mais de 30 peças por dia”, completa.

A cantora Sylvia Klein é uma das consumidoras que aboliu do seu dia a dia a entrada em lojas de grife ou marcas mais conhecidas. Todo o seu guarda-roupa, utensílios e decoração da casa são comprados em brechós. A economia, segundo ela, ultrapassa a casa dos 100%. “É um custo/benefício excelente. Se eu fosse comprar os mesmos produtos nas lojas próprias consumiria menos e gastaria mais que o dobro do que gasto hoje”, conta ela, que afirma ainda que todos os figurinos de seus shows são produzidos com produtos encontrados nos brechós.

Marina conta que o Petit Luxe compra as peças dos clientes e não atua no consignado (foto: Beto Magalhães/EM/D.A Press )
Marina conta que o Petit Luxe compra as peças dos clientes e não atua no consignado (foto: Beto Magalhães/EM/D.A Press )
Lojas também para crianças

A alta do mercado de brechós e de venda de produtos usados é atribuída a uma mudança cultural dos consumidores, que estão mais conscientes, com menor preconceito em relação a itens de segunda mão. Há negócios que vão desde brechós com artigos de grife até a venda de produtos para bebês e crianças. O Petit Luxe, na Savassi, que abriu as portas em 2009, é especializado em produtos infantis. No local, os consumidores conseguem economizar mais de 50%. Uma calça infantil da Zara, que na loja custaria em torno de R$ 130, no brechó sai por R$ 69.

Além da economia, a consultora de moda e sócia do empreendimento Marina Leite explica que, diferentemente dos outros brechós, ela não trabalha com pecas em consignação com os fornecedores, que, na maioria das vezes, pagam somente pelas peças vendidas. “Compro as roupas que coloco à venda e consigo aumentar minha margem de lucro. Vendemos pela metade do preço que custaria uma peça nova. Pago 25% desse valor para o cliente e fico com os outros 25% para mim”, conta. No brechó Petit Luxe, os clientes também podem trocar as peças que levarem por outras do estoque. Assim, os produtos custam 50% do valor.

De acordo com o Sebrae, muitas empresas do ramo ainda são informais e estima-se que o número de estabelecimentos nesse nicho de mercado seja ainda maior. Foi pensando nisso que a instituição resolveu organizar entre maio e setembro deste ano fóruns com empreendedores do setor nas cidades de São Paulo, Belo Horizonte, que já foram realizadas, Rio de Janeiro, dia 28 deste mês, e Brasília, em 18 de setembro. A ideia, segundo Wilza, é estimular o debate entre os empresários do setor para que todos os empreendimentos sejam formalizados.


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