São Paulo - Sob pressão das importações e afetados pela retração da indústria brasileira, os produtores de aço revisaram as projeções do consumo em 2014 para uma queda de 4,1%, em lugar do esperado crescimento de 3% que o setor previa em abril. As expectativas das vendas internas também entraram no campo negativo e agora a previsão é de queda de 4,9%, ao contrário da anterior, de expansão de 4,1% neste ano, informou ontem o Instituto Aço Brasil (IABr). Na avaliação do presidente do conselho diretor da instituição, Benjamin Mário Baptista Filho, o modelo brasileiro de crescimento econômico baseado no consumo doméstico e na oferta de crédito chegou ao seu limite, e levará o país a enfrentar um 2015 desafiador, independentemente de quem seja o próximo presidente da República.
“Será um ano muito complicado. Há tarifas represadas de energia elétrica, transportes e combustíveis que terão de ser recompostas. Teremos pressão inflacionária. Tenho certeza de que, independentemente de quem for o presidente, os primeiros seis meses de 2015 serão muito desafiantes”, afirmou o executivo, que é presidente da ArcelorMittal Brasil, braço do maior grupo siderúrgico do mundo.
De acordo com o balanço dos indicadores da siderurgia divulgado ontem pelo IABr, só em julho as vendas internas, de 1,738 milhão de toneladas, caíram 10,2% frente ao mesmo período do ano passado. Parte expressiva do recuo neste ano se deve à indústria automotiva, que vem cortando produção e empregos, responsável por cerca de 30% das compras de aço no Brasil. Outros dois segmentos que também enfrentam dificuldades são a construção civil e os fabricantes de máquinas e equipamentos, ao passo que a demanda do agronegócio se mantém forte, segundo o presidente do conselho do IABr.
Nos indicadores da produção, a estimativa para 2014 é de 33,3 milhões de toneladas de aço bruto, representando recuo de 2,5% na comparação com 2013, para um consumo aparente (somadas as vendas internas e as importações) de 25,339 milhões de toneladas. A produção de Minas Gerais respondeu, de janeiro a julho, por 32,7% do total do país.
Importações
As siderúrgicas se ressentiram também da baixa provocada durante a Copa do Mundo. Para os próximos meses, o cenário é de recuperação da demanda, devido às necessidades da indústria de repor os estoques e garantir encomendas para o Natal. Contudo, permanece a preocupação dos fornecedores de aço com o fato de que boa parte do consumo está sendo suprida pelas importações.
O presidente-executivo do IABr, Marco Polo Mello Lopes, destacou que as importações brasileiras de produtos siderúrgicos e de artigos que contêm aço ultrapassaram 9 milhões de toneladas no ano passado. Trata-se de um volume, na prática, equivalente à capacidade de produção do grupo Usiminas, o maior na área de aços planos, capaz de produzir 9,5 milhões de toneladas por ano nas fábricas de Ipatinga, no Vale do Aço mineiro, e Cubatão (SP).
Para demonstrar o peso das importações, o IABr estima que o ingresso de produtos estrangeiros no país em 2013 representa 200 mil empregos que deixaram de ser gerados no Brasil. Para cada emprego criado nas usinas siderúrgicas, outros 23 são abertos na cadeia produtiva do setor.
A repórter viajou a convite do Instituto Aço Brasil.