O Brasil pode estar caminhando para uma recessão, com forte piora das condições da economia e empresas que começam a demitir trabalhadores, inclusive grandes companhias, afirmou ontem o presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Benjamin Steinbruch. “É uma situação crítica. Nunca vi um ano eleitoral com uma perspectiva de recessão tão forte quanto agora”, disse o empresário a um auditório lotado durante a abertura do 25º Congresso Brasileiro de Aço. Presente ao evento, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), Mauro Borges Lemos, tentou responder às críticas, sustentando que o Brasil tem capacidade reagir a uma crise que é mundial.
Ao condenar preocupação concentrada no controle da inflação, o presidente da Fiesp disse que o governo não tem escutado os apelos da indústria para apresentar soluções diante da retração que o setor enfrenta. Entre os problemas, destacou as taxas de juros altos, a grande restrição do crédito nos bancos e o clima de desestímulo aos investimentos, que agrava as dificuldades já impostas pelo chamado Custo Brasil. “Hoje, para investir no Brasil, só louco. Aquele empresário que tem um ajuste a fazer em relação a um produto, aquele que vê a oportunidade com a saída de um concorrente”, criticou.
Benjamin Steinbruch reclama do fato de o setor empresarial sentir um certo distanciamento do governo federal para com as dificuldades das fábricas. A Fiesp estima que só na cadeia fornecedora de insumos às montadoras de veículos e autopeças, incluindo os produtores de aço, há uma perda, hoje, de 35% a 40% de faturamento, em razão do corte de produção nas fábricas de automóveis.
Empresas como Iveco e Fiat Autromóveis anunciaram paralisações da produção neste mês, depois de já terem adotado ajustes com o mesmo objetivo de se adaptar à alta dos estoques. Algumas montadoras, a exemplo da Mercedes Benz, anunciou ter adotado o sistema de lay-off para uma parcela de seus empregados, sistema que permite a suspensão temporária de contratos de trabalho, com o benefício do treinamento deles por meio de recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) durante cinco meses.
Em seu discurso, o ministro Mauro Borges admitiu as dificuldades da indústria e disse que o Brasil atingiu o fundo do poço com os efeitos da crise financeira mundial de 2008, depois de ter reagido bem à turbulência até 2010, diferentemente de outras nações emergentes. O nível de crescimento brasileiro, segundo ele, está acima da média mundial, quando retirada a participação da China nessa avaliação dos últimos sete anos. “Isso não é conforto para ninguém, mas um desafio dessa monta só vivemos na crise de 1929”, tentou rebater.
Entre os fatores que poderão ajudar numa reação do consumo de aço no país, Mauro Borges citou a retomada do programa Minha casa, minha vida, de subsídio á moradias para a população de baixa renda e os investimentos de R$ 200 bilhões lançados para a recuperação da infraestrutura de logística no Brasil. Até agora, só saíram do papel as concessões de aeroportos e rodovias.
Na área de defesa comercial contra as importações, Mauro Borges admitiu que o governo tem de reforçar medidas antidumping e completou dizendo que está sendo discutido um programa de modernização de máquinas e equipamentos da indústria brasileira, com envolvimento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Para o presidente da Fiesp, no entanto, o Brasil precisa de soluções urgentes e mudanças muito grandes.
· A repórter viajou a convite do Instituto Aço Brasil